sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Terra Marinhoa na Idade Média - Administração Eclesiástica

Do ponto de vista eclesiástico, até ao séc. XVI, Pardilhó e Bunheiro foram lugares de Avanca, de cuja igreja matriz se serviam, ao passo que Veiros e Murtosa eram lugares de Beduído. Com a emancipação religiosa destas quatro freguesias, na época indicada, passaram as duas primeiras a ser curatos de Avanca, e as duas últimas curatos de Beduído. Na prática eram os reitores de Avanca e Beduído que detinham a autoridade espiritual sobre as quatro filiais, com o direito à cadeira principal e à presidência das cerimónias quando se deslocassem às novas unidades eclesiásticas. Todavia o exercício de facto dos afazeres espirituais no dia-a-dia, seja nas filiais, seja nas matrizes de Avanca e Beduído, estava confiado a curas, que eram sacerdotes contratados e remunerados pelos dois reitores. A estes, nem sempre residentes por perto, cabiam as sobras dos rendimentos paroquiais, depois de pagos os curas e demais despesas com o culto. Explicar como se alcançava a posição de Reitor de Avanca ou Beduído, isto é, qual o sistema de apresentação destes dois no antigo regime, não caberá no âmbito do presente estudo, por mais interessar à história dessas duas freguesias do que das marinhoas.

Pardelhas aparece com o título de freguesia (sentido paroquial) no Numeramento de 1527, título esse que perderia em favor da Murtosa, em data anterior a 1542, ano em que talvez tenhamos a primeira informação da autonomia eclesiástica de Veiros. A primitiva igreja da Murtosa estava dividida entre os dois lugares de Pardelhas e Murtosa, como adiante veremos.
 
No final do século XVI surgem como uma só freguesia Pardilhó e Bunheiro, que em pouco tempo se separariam.
 
Quanto à Gelfa, de onde se originou a Torreira, foi até meados do século XIX mero lugar de Ovar. Exerceu ali depois autoridade espiritual o pároco do Bunheiro, até à criação da paróquia da Torreira em pleno séc. XX.
 
Da administração eclesiástica deve-se distinguir as doações à Igreja, seja no caso da doação do Couto de Antuã ao Mosteiro de Arouca em 1257, ou na doação de padroados, que nem sempre eram possuídos por pessoas eclesiásticas.
 
Com o progressivo aumento populacional vamos conhecendo a expansão da rede de capelas, que em 1623 [74] eram as seguintes, para além das respectivas igrejas: S. Pedro (Pardilhó, que pouco depois terá sido adaptada a igreja paroquial), S. Silvestre e S. Gonçalo (Bunheiro), S. Lourenço (Murtosa), e Santa Luzia (Veiros).
 

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[74] “Catálogo dos Bispos do Porto”, 1623. Deve juntar-se-lhes pelo menos S. Simão do Bunheiro, existente desde o início do séc. XVII, segundo José TAVARES, “Notas Marinhoas”, I, 1965.



In "A Terra Marinhoa na Idade Média", Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp. 24-25

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