segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Resumo Histórico de Salreu

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É remotíssima a ocupação humana da região onde hoje assenta Salreu. Existiram nesta zona duas mamoas e outros monumentos funerários, dos quais não restam vestígios, assim como um castro, a aguardar promissora investigação. O nome Antuã, rio que por aqui passa e lugar desta freguesia, é também antiquíssimo, provavelmente pré-romano. Aparece nas actas do Concílio de Lugo, entre 572 e 582, embora se discuta se aplicado ao rio ou à povoação, nessa altura alegada sede de paróquia.

A origem do nome de Salreu é geralmente associada a uma antiga existência de “sal a reu”, isto é, sal com fartura na sua região, suposição originalmente defendida por Rocha e Cunha. Diferente opinião deu J. M. Piel, depois seguido por outros estudiosos, sugerindo uma origem germânica (antropónimo), da época dos invasores bárbaros, ideia que parece ser a mais acertada. A primeira vez em que há notícia do topónimo é em 1076, em documento relacionado com a igreja local e escrito “Sarleu”, que pode presumir-se gralha do nome actual, portanto já em uso.



Salreu surge nas inquirições de D. Afonso II (1220), D. Dinis (1284) e D. Afonso IV (1334), vindo a ser o seu território parcialmente abrangido pelos forais de Angeja (1514) e Bemposta (1514), tendo primazia este, que se sobrepôs ao primeiro. À outra parte da povoação, a norte, correspondia o foral de Antuã (1519). Deste modo, desde o século XIII até ao advento do liberalismo, o seu território dividiu-se em duas partes por dois concelhos: Antuã (depois Estarreja), a norte, e Figueiredo (depois Bemposta), a sul. A unificação dentro do concelho de Estarreja deu-se com as reformas liberais, cerca de 1835. Do ponto de vista religioso, durante o Antigo Regime o pároco era apresentado pelo Mosteiro de Lorvão, tendo o título de Prior.

Originalmente o actual concelho de Estarreja designou-se de Antuã (correspondendo em limites ao couto doado em 1257 por D. Afonso III ao Mosteiro de Arouca), com sede no lugar deste nome na freguesia de Salreu. No século XV encontram-se as primeiras notícias de Estarreja ter substituído Antuã como centro administrativo. Muito mais tarde, no século XVII, alguns moradores de Salreu procuraram, sem êxito, constituir um concelho independente do de Bemposta, que abrangeria parte da actual freguesia de Salreu (sul), Canelas, Fermelã, Santiais (lugar da f. de Beduido), Pardelhas e Ribeiro (estes dois da f. da Murtosa).

Desde a idade média até ao século XIX atravessava a freguesia a rude e pouco utilizada estrada que fazia a ligação de Aveiro ao Porto, actualmente substituída em diferente traçado pela E.N.109. Desta estrada (centro de Salreu) à actual E.N.1 (Albergaria-a-Nova) construiu-se a definitiva ligação na década de 1860 (actual E.N.1-12). Completam-se as principais vias de comunicação do povoado com a abertura de um apeadeiro, logo nos inícios da república, na Linha do Norte dos Caminhos de Ferro.

Durante a segunda invasão francesa a Portugal, chefiada por Soult em 1809, fez sensíveis prejuízos e dezenas de mortes em Salreu um destacamento de cavalaria acampado em Soutelo (f. da Branca). Já em 1919, por ocasião da Monarquia do Norte (ou Traulitânia) – derradeira tentativa de restauração da monarquia em Portugal –, as tropas republicanas dirigiram a partir da Senhora do Monte, em Salreu, os ataques a Estarreja e sua Câmara, ocupadas por um contingente monárquico, num conflito que foi decisivo para o futuro político do país.


Ao longo dos séculos XIX e XX teve localmente especial importância económica a cultura do arroz e, no século XX, Salreu deu muitos braços à emigração, tendo em determinado período assumido grande vulto como destino a Venezuela. Nos primeiros anos do Estado Novo fundaram-se nesta freguesia a Santa Casa da Misericórdia de Estarreja (1935) e o Hospital Visconde de Salreu (1935), de âmbito concelhio, com significativo apoio financeiro do Visconde de Salreu (1854-1936), principal figura ilustre da povoação. Do ponto de vista cultural, de entre várias associações existentes tem destaque a Banda Visconde de Salreu, fundada em 1925.

In O Jornal de Estarreja, n.º 4324, 23.12.2005, p. 7; e
PEREIRA, Marco, “Salreu – Património Construído”, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-5
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