segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Resumo Histórico de Salreu

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É remotíssima a ocupação humana da região onde hoje assenta Salreu. Existiram nesta zona duas mamoas e outros monumentos funerários, dos quais não restam vestígios, assim como um castro, a aguardar promissora investigação. O nome Antuã, rio que por aqui passa e lugar desta freguesia, é também antiquíssimo, provavelmente pré-romano. Aparece nas actas do Concílio de Lugo, entre 572 e 582, embora se discuta se aplicado ao rio ou à povoação, nessa altura alegada sede de paróquia.

A origem do nome de Salreu é geralmente associada a uma antiga existência de “sal a reu”, isto é, sal com fartura na sua região, suposição originalmente defendida por Rocha e Cunha. Diferente opinião deu J. M. Piel, depois seguido por outros estudiosos, sugerindo uma origem germânica (antropónimo), da época dos invasores bárbaros, ideia que parece ser a mais acertada. A primeira vez em que há notícia do topónimo é em 1076, em documento relacionado com a igreja local e escrito “Sarleu”, que pode presumir-se gralha do nome actual, portanto já em uso.



Salreu surge nas inquirições de D. Afonso II (1220), D. Dinis (1284) e D. Afonso IV (1334), vindo a ser o seu território parcialmente abrangido pelos forais de Angeja (1514) e Bemposta (1514), tendo primazia este, que se sobrepôs ao primeiro. À outra parte da povoação, a norte, correspondia o foral de Antuã (1519). Deste modo, desde o século XIII até ao advento do liberalismo, o seu território dividiu-se em duas partes por dois concelhos: Antuã (depois Estarreja), a norte, e Figueiredo (depois Bemposta), a sul. A unificação dentro do concelho de Estarreja deu-se com as reformas liberais, cerca de 1835. Do ponto de vista religioso, durante o Antigo Regime o pároco era apresentado pelo Mosteiro de Lorvão, tendo o título de Prior.

Originalmente o actual concelho de Estarreja designou-se de Antuã (correspondendo em limites ao couto doado em 1257 por D. Afonso III ao Mosteiro de Arouca), com sede no lugar deste nome na freguesia de Salreu. No século XV encontram-se as primeiras notícias de Estarreja ter substituído Antuã como centro administrativo. Muito mais tarde, no século XVII, alguns moradores de Salreu procuraram, sem êxito, constituir um concelho independente do de Bemposta, que abrangeria parte da actual freguesia de Salreu (sul), Canelas, Fermelã, Santiais (lugar da f. de Beduido), Pardelhas e Ribeiro (estes dois da f. da Murtosa).

Desde a idade média até ao século XIX atravessava a freguesia a rude e pouco utilizada estrada que fazia a ligação de Aveiro ao Porto, actualmente substituída em diferente traçado pela E.N.109. Desta estrada (centro de Salreu) à actual E.N.1 (Albergaria-a-Nova) construiu-se a definitiva ligação na década de 1860 (actual E.N.1-12). Completam-se as principais vias de comunicação do povoado com a abertura de um apeadeiro, logo nos inícios da república, na Linha do Norte dos Caminhos de Ferro.

Durante a segunda invasão francesa a Portugal, chefiada por Soult em 1809, fez sensíveis prejuízos e dezenas de mortes em Salreu um destacamento de cavalaria acampado em Soutelo (f. da Branca). Já em 1919, por ocasião da Monarquia do Norte (ou Traulitânia) – derradeira tentativa de restauração da monarquia em Portugal –, as tropas republicanas dirigiram a partir da Senhora do Monte, em Salreu, os ataques a Estarreja e sua Câmara, ocupadas por um contingente monárquico, num conflito que foi decisivo para o futuro político do país.


Ao longo dos séculos XIX e XX teve localmente especial importância económica a cultura do arroz e, no século XX, Salreu deu muitos braços à emigração, tendo em determinado período assumido grande vulto como destino a Venezuela. Nos primeiros anos do Estado Novo fundaram-se nesta freguesia a Santa Casa da Misericórdia de Estarreja (1935) e o Hospital Visconde de Salreu (1935), de âmbito concelhio, com significativo apoio financeiro do Visconde de Salreu (1854-1936), principal figura ilustre da povoação. Do ponto de vista cultural, de entre várias associações existentes tem destaque a Banda Visconde de Salreu, fundada em 1925.

In O Jornal de Estarreja, n.º 4324, 23.12.2005, p. 7; e
PEREIRA, Marco, “Salreu – Património Construído”, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-5
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CONDE DE AZEVEDO [Pedro de Barbosa Falcão de Azevedo e Bourbon]

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2.º Conde de Azevedo (1905), Deputado (1908-1910), Senador (1918) e Ministro na Monarquia do Norte (1919)
n. 8.4.1875 (Estarreja); f. 20.9.1962 (Caldas de Vizela)


Pelo lado materno era sobrinho-neto do 1.º Visconde e 1.º Conde de Azevedo de quem, por falta de descendência, herdou o título. Seu pai foi Francisco Barbosa do Couto Cunha Sotto-Mayor, antigo presidente da Câmara de Estarreja que dá o nome à praça principal da sede do concelho e viveu na Casa da Fontinha, onde mais tarde veio a funcionar a Escola Industrial e Comercial de Estarreja, destruída por um incêndio a 13.1.1985.

Em 2.10.1891 matriculou-se em Direito em Coimbra e após a conclusão do curso viveu no Minho, onde era proprietário. Esteve no norte do país ligado a movimentos associativos referentes à pesca e à agricultura, do que era dinâmico entusiasta e publicista, podendo isto ter contribuído para a imagem de um potencial bom político.

D. Carlos concedeu-lhe o título de Conde de Azevedo por Decreto de 14.7.1905 [1]. Entre 1908-1910 foi deputado por Viana do Castelo, pautando a sua actividade parlamentar principalmente por questões relacionadas com a pesca. Com a proclamação da república exilou-se em Espanha, de onde regressou em 1914, continuando activo defensor dos seus ideais, inclusivamente como publicista. Aquando do governo de Sidónio Pais, mais favorável à presença monárquica, foi senador monárquico pelo Minho (1918).


Em Janeiro de 1919 deu-se uma revolução monárquica que ocupou o norte do país por um mês e constituiu governo provisório no Porto, no qual o Conde de Azevedo ficou encarregado de Ministro da Agricultura, Comércio, Indústria e Trabalho, tomando posse a 19 Janeiro. Estes ministérios instalaram-se numa dependência do Governo Civil do Porto a 25 de Janeiro [2], mas dias depois alojavam-se na Universidade do Porto [3], tendo o Conde de Azevedo ainda acumulado interinamente o Ministério e Secretaria de Estado da Instrução Pública e Belas Artes [4]. Com o insucesso do movimento revolucionário, que ficou conhecido por Monarquia do Norte ou Traulitânia, foi preso político [5], vindo a ser amnistiado em 1921. É de crer que fosse bem considerado mesmo pelos seus opositores, já que o poupavam as críticas feitas aos dirigentes monárquicos, na Monarquia do Norte e noutros momentos.

Embora afastado da política activa continuou a desenvolver actividade pública, por exemplo participando no 4.º Congresso Agrícola, realizado em 1927 nas Caldas da Rainha [6].

Colaborou na Revista de Ex-Libris e nos jornais Correio da Manhã, Dia, e Palavra, entre outros, assim como no dicionário geográfico Portugal e na GEPB.

Obras:
- “A Pesca e a Piscicultura em Portugal” (discurso proferido na Câmara dos Deputados), Lisboa, 1908
- “Cartas inéditas de Camilo ao Primeiro Conde de Azevedo”, Coimbra, 1927

Notas:
[1]. O que foi noticiado pela imprensa local: O Concelho de Estarreja, n.º 192, 10.6.1905, p. 1.
[2]. O Primeiro de Janeiro, 25.1.1919, p. 1; Jornal de Notícias, 28.1.1919, p. 1.

[3]. Jornal de Notícias, 29.1.1919, p. 1.
[4]. O Primeiro de Janeiro, 4.2.1919, p. 1; Diário de Notícias, 4.2.1919, p. 2.
[5]. No Porto e, mais tarde, transferido para Coimbra – O Jornal de Estarreja, n.º 1648, 1.6.1919, p. 3.
[6]. O Jornal de Estarreja, n.º 2033, 17.3.1927, p. 2.

Bibliografia e fontes:

AUC, Catálogo – Matrículas
http://genealogia.sapo.pt [3.12.2005]
Diário de Notícias, 4.2.1919, p. 2
Jornal de Notícias, 28.1.1919, p. 1; 29.1.1919, p. 1
O Primeiro de Janeiro, 25.1.1919, p. 1; e 4.2.1919, p. 1
O Concelho de Estarreja, n.º 192, 10.6.1905, p. 1
O Jornal de Estarreja, n.º 1614, 15.9.1918, p. 1 [com 1 foto]; n.º 1648, 1.6.1919, p. 3; n.º 2033, 17.3.1927, p. 2; n.º 4008, 22.1.1999, p. 12
CASTRO E SOLLA (Dir.), Conde de, ”Revista de Ex-Libris portugueses”, n.ºs 2 e 3, 1916, pp. 28-40 [fig. na p. 29]
GEPB, III, 915; e 1.º de Actualização, 764 [com 1 foto]
MÓNICA, Maria Filomena (coord.), “Dicionário biográfico parlamentar, 1834-1910”, vol. 1 (A-C), 2004, pp. 421-423
OLIVEIRA MARQUES, A. H. de (coord.), “Parlamentares e Ministros da 1.ª República (1910-1926)”, 2000, p. 123
ZÚQUETE (Dir. e Coord.), Afonso Eduardo Martins, “Armorial Lusitano”, 1961, pp. 71-72
ZÚQUETE (Dir., Coord. e Compil.), Afonso Eduardo Martins, “Nobreza de Portugal e do Brasil”, 3.ª ed., vol. II, 2000, pp. 362-363
LIMA, Campos, “O Reino da Traulitânia”, ed. Renascença Portuguesa, Porto, 1919, pp. 183-184
TAVARES Afonso e Cunha, José, “Francisco Barbosa do Couto Cunha Sotto-Maior”, 1996
TAVARES Afonso e Cunha, José, “Notas Marinhoas”, V, 1999, pp. 45-46
SOTTOMAYOR, António Pedro de, “Divagações a propósito de um velho retrato…”, Terras de Antuã, I, 2007, pp. 55, 57 [com foto] e 60

In “Monarquia do Norte [ou Traulitânia] – Ocupação monárquica de Estarreja (24.1.1919-11.2.1919)”, Terras de Antuã, II, 2008, pp. 81-102
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Francisco António do Amaral Cirne Júnior

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Professor e teórico do ensino primário em Portugal
n. 29.8.1850 (Salreu); f. 4.10.1882 (Salreu)

Apesar de não ter chegado a completar os seus estudos (estudos secundários em Coimbra de 1866-1870), Amaral Cirne foi fundador e director de uma escola modelo de ensino, o Instituto Minerva, colégio nascido no Porto em 1875, que deixou em 1878 por motivos de saúde. Publicou alguns livros sobre educação e foi colaborador de diversos periódicos do seu tempo.

Era um dos principais críticos do método de ensino da leitura preconizado por João de Deus, tendo-lhe feito vários reparos na revista científica "Positivismo", com reacções do referido poeta. Amaral Cirne defendia o sistema sintético-analítico, inspirando-se em Pestalozzi, Jacobs e Castilho.

Casa do Couto, residência de Amaral Cirne em Salreu
(foto in
http://www.monumentos.pt/)

Acometido por uma tuberculose pulmonar recolheu-se à terra natal, onde passou os últimos dias e redigiu a maior parte das suas obras sobre pedagogia. Em Salreu ensinou um surdo-mudo a falar. Vivia na Casa do Couto.

Livros publicados:
–, "Exposição elementar do systema legal das medidas portuguezas", Porto, Livraria Universal, 1875 [1]
–, "Compêndio de Sistema Métrico" [2]
–, "Método de Leitura", Porto, Livraria Moré, 1877; 2.ª ed., Porto, Livraria Cruz Coutinho, 1882 [3]
–, "Exame da Cartilha Maternal: relatório apresentado ao... commisario d’estudos do districto do Porto", Porto, Typ. de Manoel José Pereira, 1879
–, "Resumo da história da Pedagogia", Porto, Livraria Universal de Magalhães & Moniz, 1881 [4]

Notas:
[1] Em colaboração com Patrício Theodoro Álvares Ferreira, pedagogo que dirigiu o jornal "O Ensino" (1877-1878), do Collegio Portuense; cit. por Armando Carvalho Ferreira e Delfim Bismarck Ferreira, “Moinhos do concelho de Albergaria-a-Velha”, p. 423.
[2] Em colaboração com Patrício Theodoro Alvares Ferreira.
[3] A sua principal obra didáctica e que mais o celebrizou, aprovada pela Junta Consultiva de Instrução Pública.
[4] Tradução da "Historie de l’Education et l’instruction" de Frederic Dittes, mas muito ampliado com dados particularmente portugueses, tendo por isso mais que o triplo do tamanho do original.

Bibliografia:COSTA, M. Santos (dir.), "Anuário do professorado primário", Ano 3, 1925, p. 33;
DEUSDADO, M. A. Ferreira, “Educadores Portugueses”, 2.ª ed., 1995, pp. 393-394 (1.ª ed. de 1909);
FIGUEIRA, Pe. Manuel, “Salreu e o seu povo – na festa do padroeiro S. Martinho”, in Correio do Vouga, 10.11.1978, p. 6;
NÓVOA, António, “Dicionário de Educadores Portugueses”, 2003, p. 336;
PINHEIRO, J. E. Moreirinhas, “Subsídios e reflexões para a História do Ensino Primário e Normal”, 1998, pp. 13-19;
O Jornal de Estarreja, n.º 1055, 21.9.1907, p. 1;
Ecos do Antuã, n.º 25, 23.3.1918, p. 1.

In “História do Ensino Primário no Concelho de Estarreja”, Terras de Antuã, I, 2007, pp. 191-192
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cemitério de Pardilhó

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ANTIGO CEMITÉRIO

Aberto em 1835 e mais tarde alargado. Em 1938 a Junta de Freguesia fez a remoção das ossadas do cemitério velho e terraplanagem do seu terreno.



CEMITÉRIO ACTUAL

Após difícil escolha para a localização do cemitério, iniciou-se a construção em 1929, sendo inaugurado incompleto em 1933 com o acompanhamento da Banda Nova. Ampliado cerca de 1991.

In "Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó" [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Centro Paroquial de Assistência (antigo)

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Salão Paroquial com Centro Infantil, construído de 1967 a 1969 por Francisco Farinhas, sendo pároco o Pe. Manuel Garrido (1917-1994). Teve obras de ampliação em 1988. Em 1999, concluído o novo edifício, transitou para a Quinta do Rezende.

In "Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó" [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Pequeno apontamento sobre a capela de S. Lourenço

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A interessante fotografia publicada na página 23, do último número do jornal O Concelho da Murtosa, suscitou-nos o interesse de escrever algumas linhas com dados históricos da capela de S. Lourenço, em Pardelhas. Aqui os tem o leitor que, com um pouco de paciência para os ler, esperamos possa ficar com uma ideia geral dos sucessivos templos com a mesma invocação e pistas para ir mais além.

Diz D. Rodrigo da Cunha, no "Catálogo dos Bispos do Porto", 1623, que no Curado de Santa Maria da Murtosa, com 698 habitantes, anexo à Reitoria de Beduído, há uma única capela, que é a de S. Lourenço. Difícil será saber-lhe de mais antigos antecedentes, por escassez de fontes. As escrituras notariais de Estarreja, no Arquivo Distrital, não vão além de 1700, e as de Ovar, onde se conhecem diversas escrituras marinhoas, iniciam-se em 1654. No mesmo arquivo, os registos paroquiais da Murtosa, dos quais interessam mais os óbitos para o assunto em causa, iniciam-se em 1667 (baptismos), 1668 (casamentos) e 1668 (óbitos). Os registos da Matriz de Beduído não vão muito mais longe: 1612? (baptismos), 1654 (casamentos) e 1612? (óbitos). Pouco além se poderá ir, pois, do que informa D. Rodrigo da Cunha acerca da antiguidade do templo. Digamos que será pelo menos anterior a 1623.



O Pe. A. Carvalho da Costa, na "Corografia Portuguesa", 1708, nada mais adianta, limitando-se a confirmar a existência de uma única capela na Murtosa. Já a memória paroquial de 1758, publicada pelo Dr. Eduardo Costa no vol. 34 do Arquivo do Distrito de Aveiro, contribui com mais qualquer coisita. A capela de S. Lourenço é pública, tem três confrarias (S. Lourenço, S. João Baptista, D. Domingos/S. Luís) e não há romagem, nem nesta nem em qualquer outra da Murtosa.

Dá-nos abundante informação das capelas que se sucederam com a mesma invocação o Dr. José Tavares (N.M., IV, 1994, pp. 115 e ss.). Este nosso distinto conterrâneo teve acesso a diversos documentos particulares, os quais pôs em evidência juntamente com algumas ilustrações, de fotografias, postais e um mapa local. O erudito investigador indica a localização da capela apenas desde 1785, presumivelmente a original, próxima ao antigo edifício da Câmara Municipal, tendo aí estado até 1841. Este templo foi substituído por outro, que durou de 1841 a 1884, situado no canto sul-nascente da praça de Pardelhas. Porque mal localizado, com prejuízo da estrada que lhe passava em frente, a própria Junta substituiu o edifício por um novo, em 1885, situado por alturas do quiosque que actualmente está na praça.



Esta terceira casa, que é a mesma que vem na fotografia da última edição d’O Concelho da Murtosa, tinha o aspecto que se vê na primeira figura aqui reproduzida, a qual faz parte da primeira colecção conhecida de postais do concelho de Estarreja, editada em 1904. Reproduziu-a o Dr. José Tavares nas Notas Marinhoas e tem da mesma gravura uma cópia a Câmara Municipal. Como se vê, apresenta a capela ainda sem torre, isto é, antes da beneficiação feita em 1905 a expensas de Angelo Amador Leite, enriquecido no Brasil. Desses melhoramentos, que alteraram a fachada e acrescentaram uma torre com relógio, fez na época eco a imprensa local. Disso demos conta ainda recentemente, consultando por outras razões números antigos d’O Concelho de Estarreja, e talvez se tenha escrito algo n’O Jornal de Estarreja, que são os dois jornais do concelho de Estarreja naquele tempo. De memória, temos ideia que o Jornal da Murtosa, fundado em 1901, já não se publicava, e O Povo da Murtosa só seria fundado um pouco mais tarde. Pode admitir-se que nas décadas de existência dos jornais O Concelho da Murtosa e Progresso da Murtosa alguma coisa se tenha impresso nas suas colunas com interesse para o caso. A segunda figura que reproduzimos, também dum postal, é posterior ao melhoramento, como é evidente. Não sabemos ao certo a data da sua publicação mas o exemplar aqui reproduzido circulou pelo correio em 1909.

Construíram-se e demoliram-se três capelas, para finalmente darem lugar a uma igreja de S. Lourenço, concluída, como diz A. Nogueira Gonçalves, no "Inventário Artístico de Portugal" (Aveiro Norte, 1981), em 1939.

In "O Concelho da Murtosa", n.º 2099, 29.9.2005, p. 19
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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Para a história do Carnaval em Estarreja - Cortejo de Carnaval, no centro de Estarreja

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BATALHAS DE FLORES NO INÍCIO DO SÉC. XX

No início do século XX faziam-se Batalhas de Flores em Estarreja e noutras localidades, envolvendo-se as pessoas que seguiam nos carros alegóricos com a assistência da rua e das janelas das casas. Sabe-se destes cortejos pelo menos nos anos de 1903, 1911, 1912 e 1914, tendo-se realizado outros semelhantes em Pardilhó (1911 e 1912), Murtosa (1912) e na Ria (1911). Nesta época verifica-se alguma influência brasileira, pois parte dos promotores das Batalhas eram emigrantes de sucesso no Brasil. Na organização estiveram os clubes locais, alguns elementos da família Leite (Angelo Leite, Joaquim Maria Leite, João António Leite e Manuel Maria Leite) e José Gustavo de Sousa, entre outros.

Em paralelo o Carnaval era festejado com bailes nos clubes de Estarreja (Grémio, Club, CRE e mais tarde nos Bombeiros), Pardilhó e Murtosa, assim como em casas particulares.



GRANDES BATALHAS DE FLORES EM 1928 E 1929

Em 1928 realizaram-se cortejos com Batalhas de Flores no domingo e terça-feira, marcando presença carros e gente da terra e de fora, sendo muitos os forasteiros que vieram ver. Nunca o carnaval tinha sido tão grande em Estarreja. Participaram 30 carros alegóricos, numa Batalha de Flores em que também entravam serpentinas, confetti e lança-perfumes. Além disso houve bailes no Centro Recreativo e no Grémio de Estarreja.

Em 1929 os festejos decorreram nos mesmos termos, tendo-se anunciado a presença de 30 carros alegóricos e 100 particulares. A respeito de um baile de carnaval a realizar no CRE anunciava-se que «só podem tomar parte os sócios casados e as suas caras metades. As toilets das madames é de saia travadinha e a dos cavalheiros de calças largas… Não são permitidos namoros.»

Nestes dois anos a organização esteve a cargo de João de Pinho. Seguiu-se um periodo mais parado, só com alguns bailes nos clubes locais e nos Bombeiros, assim como a presença pontual de populares mascarados na rua.



CARNAVAL RENASCIDO EM 1968

Já sem Batalhas de Flores, o cortejo de Carnaval em Estarreja renasce em 1968, após longo interregno, pela mão de Manuel Marques Figueira e outros, sendo a partir daí organizado por uma comissão. Nesse ano houve bailes no Mercado Municipal e num armazém da Mercantil, acrescendo outros bailes nos anos seguintes. Foi também em 1968 a primeira marcha luminosa nocturna.

No Carnaval de 1973 projectou-se no cine-Teatro de Estarreja um filme com imagens de Estarreja e do Carnaval do ano anterior. Seriam com certeza imagens com muito interesse, mas não se sabe o que foi feito do filme.

Em 1974 e 1975 a organização esteve a cargo dos Bombeiros Voluntários, não se realizando o cortejo em 1976 dado o quadro político nacional menos propício.

A tradição foi retomada em 1977, timidamente, pois um só grupo saiu à rua, mas no ano seguinte já não faltavam participantes. Pelo caminho foram marcantes os bailes nos Bombeiros e os discursos dos reis do Carnaval. Em 1986 chegavam os primeiros reis mediáticos: Carlos Miguel (o “fininho” do 1 2 3) e a Miss Portugal/85. Mais tarde a eleição da Rainha teve grande competição entre as jovens de Estarreja. O Carnaval foi evoluindo, as Escolas de Samba e Grupos Apeados apareceram e desapareceram, a influência brasileira tornou-se cada vez mais presente.

Entretanto, o desfile infantil começou em 1985, as escolas de Avanca e Pardilhó tiveram a sua própria saída nas suas freguesias, e ainda hoje em Canelas a população sai à rua para fazer um cortejo do entrudo.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4466, 27.2.2009, p. 13
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Para a história do Carnaval em Estarreja - Carnavais tradicionais

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CONTRADANÇA OU DANÇA DOS DITOS

Representação teatral e cómica, conta com um Capitão que preside o julgamento do Bacalhau (por vezes chamado de Entrudo), culpado de mil crimes. Há ainda duas fileiras de participantes individualizados, uns acusando e outros defendendo o Bacalhau. No final este é condenado à morte, momento em que passa a ler o seu testamento, de todo brincalhão.

De notar os trajes das fileiras, munidas com espadas e tendo uns tantos lenços presos à cintura, criando como que uma saia. O Capitão tem vestes militares, e o Bacalhau vestuário folgazão condizente com a sua personalidade. Após o julgamento faz-se uma dança em redor do pau das fitas.

É uma tradição conhecida de Pardilhó, Canelas, Veiros, Murtosa e Bunheiro, assim como dalgumas localidades vizinhas. Ainda se viu há poucos anos na Murtosa, com elementos de Veiros, e por volta dos anos 80 e 90 foi exportada por emigrantes para os Estados Unidos.



CARROÇA DO GALO

Cortejo encenado, em Canelas, com uma pequena carroça enfeitada que carrega um galo e uma galinha. Os participantes, munidos de espadas, acusam uns o galo de variados e crimes, e defendem outros a sua inocência. O testamento do galo tem semelhanças com o do Bacalhau da Contradança.



ENTERRO DO ENTRUDO

Representação de cortejo fúnebre que se faz à meia-noite de terça para quarta-feira. Na frente desta encenação teatral vai um Padre e no caixão o Entrudo, seguindo-se um grupo de folgazões com flores que são couves e alguns outros adereços. Parado o cortejo o Padre lê o testamento do Entrudo, um vasto conjunto de malandrices.



OUTROS CARNAVAIS

Há noutras terras tradições semelhantes a estas ou pelo menos com algum paralelo, além do que o Carnaval do concelho de Estarreja tem mais costumes antigos. As travessuras dos mascarados, as Tarivacas, a Cegada (gozo político nacional), o jogo do pau, as desgarradas ou cantares ao desafio… Muito disto pertence a um velho Carnaval desaparecido ou em vias de extinção. O que dele resta vive principalmente na memória dos mais velhos.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4466, 27.2.2009, p. 13
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Projecto da ponte do caminho-de-ferro sobre o Esteiro de Canelas (1862)

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A figura que se publica com este artigo encontra-se exposta na Biblioteca Municipal de Ovar. É a cópia do projecto da ponte do caminho-de-ferro sobre o esteiro de Canelas, feito em Ovar e com a data de 10.3.1862, do qual foi autor Luiz Zapata.

A figura ora publicada n’O Jornal de Estarreja, por sair em ponto pequeno e a preto e branco, não dá uma noção perfeita do projecto da ponte de Canelas. Quem tiver interesse em a ver a cores (e vale a pena) poderá fazê-lo na internet, no endereço http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.com/, onde é possível ampliá-la.

Na época em que se projectou esta ponte estava em construção a Linha do Norte dos caminhos-de-ferro, sendo inaugurado o serviço regular de comboios entre Devezas (Gaia) e Estarreja em 8.6.1863, com abertura provisória no ano anterior. Canelas situava-se na ligação entre Estarreja e Taveiro, que inaugurou-se em 10.4.1864. No entanto a freguesia ficou a ver os comboios passar, nas primeiras décadas do caminho-de-ferro, só possuindo apeadeiro próprio desde 1902, ainda assim antes de Salreu cujo apeadeiro data de 1911. Por último a casa de Estação de Canelas, recentemente recuperada, ficou concluída em 1940.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4497, 13.11.2009, p. 5

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Invasões Francesas em Estarreja e Murtosa

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«A maior parte das pessoas foram mortas a tiro, mas nalguns casos houve especial crueldade, como o de uma menina de 7 anos afogada e um mentecapto cortado aos bocados pelas espadas dos invasores.»
Guerra Peninsular. – A época vulgarmente designada por invasões francesas compreende o período durante o qual Portugal e Espanha combateram os exércitos de Napoleão na Península Ibérica, conflito a que se dá o nome de Guerra Peninsular (1807-1813).

Da participação dos actuais concelhos de Estarreja e Murtosa constam: as contribuições em 1808 para o esforço de guerra, em cavalos ou destinadas à sua compra, com destaque para a oferta do Prior de Salreu; diversos combatentes originários de ambos os concelhos; e a edificação em 1819 da capela de Nossa Senhora das Necessidades, na Póvoa de Baixo, pelo Alferes Manuel Marques Pires, aprisionado pelo exército francês e reconhecido à Santa pela graça de regressar à liberdade.



Segunda invasão a Portugal. – Das três incursões francesas a Portugal, a segunda (1809) conseguiu ocupar o norte do país, estabelecer “capital” no Porto sob as ordens do Marechal Soult, e avançar até às margens do rio Vouga. O Porto ficou sob o controle francês de 29.3.1809 a 12.5.1809.

Nos limites a sul da ocupação encontrava-se uma divisão de cavalaria do General Franceschi, instalada em Albergaria-a-Nova. Daí se deslocaram militares aos concelhos de Estarreja e Murtosa, onde praticaram roubos e violências de diversa ordem. A maior parte do povo fugiu para lugares distantes ou manteve-se dentro de barcos na ria.

Alguns franceses devem ter-se instalado precariamente em Salreu, possivelmente na Quinta dos Menezes (Casa do Santo). Como objectivo estaria o aproveitar da posição estratégica da Senhora do Monte, para vigiar eventuais manobras do exército Anglo-Luso na ria.

Durante o período de ocupação francesa houve múltiplas mortes populares, principalmente nas freguesias de Salreu e Beduído. Só em Salreu morreram mais de 60 pessoas, quase todas da terra e no mesmo dia, 16 de Abril de 1809. É possível que uma boa parte tenha sido sepultada numa vala comum, nas proximidades da Fonte do Picoto. Nestas vítimas encontrarão muitos dos salreenses de hoje antepassados seus.

A retirada francesa de Albergaria ocorreu na manhã de 10 de Maio de 1809, quando se deu o ataque do exército Anglo-Luso.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4474, 24.4.2009, p. 5; e
"Terras de Antuã", III, 2009, pp. 105-106
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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Monarquia do Norte em Estarreja

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Entre 19.1.1919 e 13.2.1919 um movimento revolucionário pró-restauração da monarquia dominou o norte de Portugal, acontecimento que ficou conhecido por Monarquia do Norte ou Traulitânia. Neste seguimento instalou-se um governo provisório no Porto, encabeçado pelo militar exilado Paiva Couceiro, do qual fez parte um ministro natural de Estarreja, o Conde de Azevedo, filho do conhecido político local Francisco Barbosa.

No rio Vouga situou-se a zona de fronteira entre monárquicos e republicanos, ficando Estarreja ocupada por tropas partidárias da monarquia de 24.1.1919 a 11.2.1919. Durante parte desse periodo esteve aqui sediado um centro regional de operações militares e um quartel general, mantendo-se cortadas as ligações com o sul, nomeadamente Aveiro. Nos primeiros dias de Fevereiro a república conquistou sucessivamente diversas posições a norte do Vouga, vindo a tomar Salreu no dia 10.



Finalmente, a 11 de Fevereiro travou-se um combate decisivo para a vitória das forças fieis à república. As tropas instaladas a sul do Antuã, com maior poder de fogo concentrado na Senhora do Monte, bombardearam Estarreja, onde resistiam os monárquicos, maioritáriamente barricados na Câmara Municipal. A Câmara e diversos edifícios do centro da vila ficaram parcialmente destruídos, bem como algumas casas da zona da estação de caminho de ferro, onde eram alvo dois comboios que preparavam a retirada de armas e munições. Com a chegada de um hidro-avião carregado com duas bombas, largadas sobre Estarreja, os combatentes da monarquia bateram em retirada, o que fez com que a tropa republicana atravessasse o rio Antuã e consumasse a vitória.

No final, além da destruição parcial das casas da actual Praça Francisco Barbosa e da zona da estação de caminho de ferro, havia quatro mortos do lado monárquico e alguns feridos de ambas as partes. Somou-se uma morte civil de uma rapariga local, apanhada acidentalmente pelo fogo cruzado.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4464, 13.2.2009, p. 13
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sábado, 7 de novembro de 2009

Eclipse do Sol em Pardilhó

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Legenda da figura: Mapa publicado na Ilustração Portuguesa, 1912, 1.º Semestre, p. 462.
A linha tracejada representa a faixa de melhor visibilidade do eclipse de 1912.


Quando há tempos se começou a falar de um eclipse total do sol que seria visto em Portugal, coisa tão rara que não se via por cá desde os inícios do século XX, veio-nos à memória a ideia de já ter visto uma referência ao anterior eclipse. Foi há dois ou três anos, quando consultávamos a revista de generalidades Ilustração Portuguesa, suplemento semanal do jornal O Século e muito utilizada por historiadores e outros, para extrair ilustrações ou outra informação.

Pois o eclipse total imediatamente anterior ao de há semanas, visto no nosso país, ocorreu em 1912, e a faixa de melhor visibilidade, com cerca de 12 Km de largura, passou pela Torreira, Pardilhó e Ovar. A esta última povoação, sede dum concelho nosso vizinho, acorreu uma autêntica peregrinação de homens de ciência, estudantes, jornalistas e meros curiosos portugueses, além mesmo de astrónomos estrangeiros, todos com a intenção de admirar e até estudar o raro fenómeno.

É certo que por toda a imprensa portuguesa da época se abordou o assunto. Confessamos que não procurámos ir além do que já sabíamos, pois o eclipse visto pelos nossos avoengos não nos parece mais que uma mera curiosidade. Na Ilustração Portuguesa de 1912, 1.º semestre, pp. 461-462 e pp. 549-554 estão os dados que consultáramos.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4317, 4.11.2005, p. 6
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó (cronologia)

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ANO. ACONTECIMENTO
1638. Início da construção da antiga igreja
1740. (ou 1772) Construção do Celeiro do Dízimo
1770. Aberta ao culto a capela de Santo António
1798. Primeiros esforços para a construção da actual igreja
1812. Aquisição do terreno e início da construção da igreja
1835. Primeira missa na actual igreja
1835. Primeiro funeral no antigo cemitério
1836. Demolição da antiga igreja
1871. Adro da igreja
1897. Cruzeiro
1906. Demolido o celeiro do dízimo
1911. Surge a Feira dos 9
1911. Primeira Estação Telegráfica de Pardilhó
1911. Designação “Praça Dr. Egas Moniz”
1926. Demolida a capela de Santo António
1927. Feira dos 9 passa a ser dos 9 e dos 23
1929. Início da construção do actual cemitério
1931. Luz eléctrica
1932. Início da construção da Avenida António Joaquim de Rezende
1933. Inauguração do actual cemitério
1934. Banda Nova muda-se para a Avenida António Joaquim de Rezende
1935. Inaugurada Avenida António Joaquim de Rezende
1938. Remoção de ossadas e terraplanagem do terreno no antigo cemitério
1939. Designação “Largo Dr. Egas Moniz”
1939. Transferência do cruzeiro, após mudança do cemitério
1964. Implantado busto do Dr. Jaime Ferreira da Silva
1966. Inaugurada sede do Sindicato dos Carpinteiros Navais (nova Junta de Freguesia)
1967. Início de obras na igreja e da construção do Centro Paroquial
1969. Finalizam obras na igreja e do Centro Paroquial
1970. Feira dos 9 e dos 23 transfere-se para a Quinta do Rezende
1971. (ou 1972) Cobertura a cimento dos dois triângulos do largo
1979. Implantação do coreto
1979. Estátua de homenagem ao emigrante
1995. Parque de estacionamento atrás da igreja
1999. Centro Paroquial transfere funcionamento para Quinta do Rezende
1999. Monumento a Egas Moniz, atrás da igreja
2001. Mudança do Mercado
2008. No verão inicia-se o arranjo urbanístico
2009. Inaugurado novo centro, em Junho

In "Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó" [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó


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«Povoações estreladas, como Ílhavo e Pardilhó, quando a multiplicação das estradas que se cruzam no mesmo ponto dá ao aglomerado humano possibilidade de alargar-se em várias direcções, como um polvo com seus numerosos tentáculos.»

ARISTIDES DE AMORIM GIRÃO (1941),
“Geografia de Portugal”, 1941, p. 268

«Aldeias e vilas há nesta província, como são, por exemplo, na sub-região da Ria, Pardilhó e Ílhavo, que ultrapassam em número de habitantes algumas das cidades antigas, planálticas, da Beira e Trás-os-Montes.»

SANT’ANNA DIONÍSIO (1944),
“Guia de Portugal”, 3.ª ed., vol. 3, tomo 1, Fund. Calouste Gulbenkian, 1993 (1.ª ed. de 1944), p. 58

«Pardilhó tem a maior parte das suas habitações juntas e arruadas, com um aspecto citadino.»

EGAS MONIZ (1944),
“Guia de Portugal” (coord. Sant’Anna Dionísio), 3.ª ed., vol. 3, tomo 1, Fund. Calouste Gulbenkian, 1993 (1.ª ed. de 1944), p. 552; também referido pela Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura – Verbo, vol. XIV, cols. 1124-1125 (Pardilhó)

In "Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó" [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Freguesia do Bunheiro (sumário)


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É de crer que o nome do Bunheiro, aparecendo documentado em 1420 como «Boinheiro» ou «Boynheiro», advenha de bunho, planta comum na região marinhoa, onde a freguesia se encontra, espaço de aluvião que a natureza conquistou ao mar. Todavia o seu território terá conhecido presença humana muito antes de estar documentado, pois o topónimo Romariz sugere ter existido ocupação no período suevo/visigodo.

No século XVI, fruto da descoberta das Américas, foi introduzida na Europa a cultura do milho grosso, que se adaptou perfeitamente ao solo marinhão. Em breve o seu cultivo viria a suplantar o de todos os outros cereais, aumentando a capacidade produtiva e a população regional. Em complemento do milho, ainda hoje cereal dominante, desenvolveu-se a criação de gado bovino, produzindo-se grande quantidade de leite para abastecer a indústria de lacticínios, forte na região.

O Bunheiro integrou o Couto de Antuã, doado em 1257 pelo Rei D. Afonso III ao Mosteiro de Arouca, de cuja autoridade se libertou com a implantação do liberalismo no século XIX. Pertencendo ao concelho de Antuã, depois designado de Estarreja, veio a ser incluído no novo concelho da Murtosa com a sua criação em 1926. Constituindo-se originalmente de dois grandes núcleos – Bunheiro e Sedouros -, ainda hoje distintos, a fundação da paróquia (curato desmembrado da reitoria de Avanca) ocorreu no final do século XVI. Os caminhos da fé, aqui bem presentes, viriam a moldar personalidades marcantes, entre elas dois bispos: D. Frei Manuel de S. Joaquim Neves, O.P. (1775-1849), arcebispo de Cranganor – Índia; e D. Júlio Tavares Rebimbas (n. 1922), bispo do Algarve, Auxiliar do Cardeal Patriarca de Lisboa, de Viana do Castelo e do Porto.

in Site na internet da Junta de freguesia do Bunheiro, verão de 2009 - http://www.bunheiro.freguesias.pt/
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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Veiros foi concelho medieval (referido em 1210 e 1250)

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O título deste artigo refere-se ao documento reproduzido em anexo, que encontra-se publicado nos "Documentos de D. Sancho I (1174 – 1211)", vol. I, 1979, Doc. n.º 192, p. 295, colectânea esta da autoria de Rui de Azevedo, P.e Avelino de Jesus da Costa e Marcelino Rodrigues Pereira. Na verdade nem se trata de um documento mas sim um par deles, ou por outras palavras, D. Afonso III, Conde de Bolonha e Rei de Portugal, reconhece como válido, em 1250, um outro diploma outorgado pelo seu avô, D. Sancho I, em 1210, o qual é reproduzido juntamente com a sua confirmação.


Como não conhecemos nenhum texto mais antigo onde conste o nome de Veiros esta será a primeira referência ao povoado, então com a designação escrita de «Veeyros». Os documentos são dados nas proximidades de Santa Maria da Feira, o primeiro (ano 1248 de César, 1210 de Cristo), e em Figueiredo (Pinheiro da Bemposta), o segundo (ano 1288 de César, 1250 de Cristo). Não temos conhecimento destes diplomas serem referidos ou conhecidos por algum autor local, pelo menos através da bibliografia existente, e com toda a probabilidade não procuraram saber os autores da colectânea se haveria ou não uma referência mais antiga à nossa localidade. Certo é que ela não surge nas colectâneas de documentos mais antigos que encontram-se publicadas. De todo modo há indícios de a toponímia denunciar uma mais remota presença humana: a “Mamoa” pré-romana e “Telhões” dos invasores germânicos (há quem considere igualmente “Olas”).

Povoações chamadas Veiros há duas: a freguesia do concelho de Estarreja e a do concelho de Estremoz, numa região conquistada por Afonso II em 1217, ou seja, depois de dado o nosso primeiro documento. Existem ainda outros lugares com nome igual ou parecido.

E o que nos dizem afinal os monarcas D. Sancho I e D. Afonso III sobre Veiros? Não é tão pouco como isso! Primeiro que tudo ficamos a saber que estas terras já não estavam submersas e os seus ancestrais habitantes bem se tinham de esforçar, trabalhando para si e para pagar o pesado imposto da quarta parte do que produziam, acrescendo-se-lhe outras prestações. Naturalmente dedicavam-se à agricultura, cultivando pelo menos o trigo, ao mesmo tempo que faziam criação de alguns animais, sendo-nos dada notícia de galináceos e caprinos. Contudo não há ainda qualquer referência à actividade piscatória, ficando em dúvida se a havia ou não. Mas havendo e sendo significativa, deixaria o rei de lançar sobre ela imposto? Na doação do couto de Antuã, em 1257, faz-se referência a impostos sobre pescarias, e curiosamente o documento n.º 144, de 1202, na colectânea de documentos medievais onde aparece Veiros pela primeira vez, fala de doações na zona de Aveiro, referindo-se a pesca e barcos. Ainda a respeito de pesca no norte da Ria de Aveiro, para o período medieval, veja-se as informações do Monsenhor Miguel de Oliveira no seu "Ovar na Idade Média". Sobre salinas, como as houve mais tarde em Pardelhas, não há de igual modo qualquer notícia para Veiros, nem agora nem mais tarde.

Ainda mais curioso é o juiz de Veiros, de quem nos fala D. Afonso III em 1250, sugerindo assim que esta nossa povoação tenha sido concelho medieval, segundo o critério utilizado por alguns historiadores [*]. Do mesmo modo, a sul do Rio Antuã, tivemos os concelhos de Antuã e, ao que parece, Fermelã, sendo que o primeiro estendia-se pela margem norte do rio. Sabemo-lo pelas inquirições de D. Afonso II, em 1220. Das restantes terras pertencentes hoje ao nosso concelho e ao da Murtosa, para a mesma altura, não temos dados, pois aquela inquirição não as abrangeu. Porém mais tarde, entre 1287 e 1358, Pardelhas teve juiz próprio e vereadores, eleitos pelos locais, havendo ali uma importante actividade económica: a exploração de salinas. Mas ao que parece, aquando da doação do Couto de Antuã e Avanca, em 1257, Veiros deveria estar integrado na villa de Antuã, com juiz próprio pelo menos desde 1220. O Monsenhor Miguel de Oliveira ("Ovar na Idade Média", 1967, pp. 73-76) fala-nos de um documento do Mosteiro de Arouca sem data, embora pareça ser de 1279-1281, no qual está a indicação de passar-se a pagar em Antuã um foro anual semelhante ao que era então pago pelos moradores de Veiros, o que sugere um tratamento diferenciado nesta povoação anteriormente. Além disso, no mesmo documento aparece uma velha estrada que passa pela localidade, vinda de Beduído: «Carrariam quae venit de Eccesia Sancti Jacobi de Biduydo per ad Villam de Veeyros». Vem-nos ainda à memória a alusão aos antigos privilégios dos moradores de Veiros, mencionados duzentos e quarenta anos mais tarde no foral de Antuã.

Pinho Leal, no seu conhecido e abundantemente referido "Portugal Antigo e Moderno", diz haver em Veiros tradição de a povoação ter sido «em tempos antigos, villa e cabeça de um couto, compreendendo o que actualmente pertence a esta freguesia, e á da Murtosa». Tal afirmação, no entanto, põe-nos dúvidas: poderia uma tradição oral resistir por tantos séculos? Será compreensível que o pároco omitisse tão importante informação na resposta ao inquérito de 1758? À semelhança de outros antigos estudiosos locais, damos pouco crédito a esta informação de Pinho Leal, que só acidentalmente tem um fundo de verdade, lembrando o que ainda há dias citámos de Oliveira Marques a seu respeito: tem muita informação importante, «embora a história, a lenda e a invenção corram a par» ("Guia do estudante de História Medieval Portuguesa", 3.ª ed., 1988, p. 57). E não resistimos a transcrever a nota de rodapé de Lopes Pereira, no "Murtosa – terra nossa", 2.ª ed., 1995, p. 60, sobre o que de «...de Veiros nos disse Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno, s. v.. Ora sobre o mérito deste A. é preciso ter-se muito cuidado, pois até o circunspecto dr. Leite de Vasconcelos (in Revista Lusitana, I, 46) lhe chama um "escritor de superficialidade e leviandade tais que às vezes chega a causar dó a leitura da sua obra". E acrescenta que "recolheu muitos factos de valor, mas subordinando tudo a umas ideias gerais muito falsas, de modo que só com muita cautela se deve consultar". Veiros, villa e cabeça de um couto do qual fazia parte a Murtosa, é, pelo menos, uma ligeireza histórica que fica sem provar». Ora de facto sem provas tal informação vale pouco e torna as coisas mais confusas, de maneira que Lopes Pereira teve alguma razão na dureza das suas palavras. Apresentando o assunto com documentos como de momento fazemos alteram-se as circunstâncias.

Teria a atenção dada a Veiros pelos nossos dois monarcas origem na preocupação de povoar a zona? É possível, tanto mais que a região marinhoa foi mais tardiamente ocupada que todas as restantes freguesias do actual concelho de Estarreja, sendo ainda certo que o povoamento era na época uma das principais razões para fazer-se uma carta de aforamento. D. Sancho até teve como cognome “o povoador”. A ser assim faltaria talvez uma diferenciação de imposto em relação às terras a arrotear, tal como se passou depois debaixo da autoridade do Mosteiro de Arouca. Desconhecemos, por outro lado, qual a extensão aproximada de Veiros na época em análise, embora pareça não ser muito diferente da actual: para nascente estavam as terras de Antuã a norte do rio, e para poente, não muito longe, as de Pardelhas, onde nessa altura deveria ter jurisdição o juiz da Feira, embora não por muitos anos. Podia portanto Veiros abarcar os lugares da Murtosa e do Monte, sendo que os de Pardelhas e Ribeiro teriam diferente autoridade. Isto embora entre o podia e o deveria ainda seja larga a distância. Supomos ser possível encontrar mais informação importante noutra documentação medieval, sendo de interesse geral, entre outra, a publicação das chancelarias de todos os reis da primeira dinastia, o que facilitaria algum trabalho a quem não pode deslocar-se regularmente a Lisboa nem tem financiamento para estes estudos locais. Na Inquirição de Afonso IV no Couto de Antuã e Avanca, em 1334, a primeira testemunha do rei é de Veiros. Muito mais tarde, aquando do primeiro censo português, em 1527, a povoação compreendia 34 vizinhos, o que não lhe atribui posição de relevo no panorama regional.

Para finalizar, apresentamos o texto integral de 1210/1250 em latim, tal como foi publicado na colectânea indicada, ao que se segue a tradução para português. Bem enferrujado que está o nosso latim, que já de si se resume a apenas três anitos da instrução secundária, com a agravante do texto a traduzir ser de um barbaríssimo latim medieval, optámos por procurar ajuda em alguém mais competente para a tradução. Fomos pedir esse especial favor ao Professor João Fidalgo, nosso antigo mestre e amigo, que logo se dispôs a ajudar-nos. A ele dirigimos, pois, o nosso sincero muito obrigado.

Marco Pereira

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Doc. n.º 192

1210 JUNHO meados, Feira – Carta de aforamento de Veiros, que Afonso III confirmou a 1 de Agosto de 1250.

B) Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Corporações Religiosas, Arouca, Gav. 7, m. 1, n.º 2.

A(alfonsus) Dei gratia rex Portugalie et comes Bolonie universis presentem cartam inspecturis salutem. Noueritis quod ego uidi cartam aui mei regis domni Sancii de suo sigillo sigillatam que talis est:
Ego Sancius Dei gratia Portugalensium rex notum esse uolo uniuersis ad quoscunque scriptura ista peruenerit quia ego do pro foro hominibus de Veeyros ut dent mihi quartam partem de quanto laborauerint et de eyradiga [1] sing[u]los sextarios et singulos almudes de tritico et singulos capones et singulos cabritos medios et singulas tercias de mbro [2]. Et concedo eis ut nunquam faciant aliud forum nec pectent calumpniam. Facta fuit hec carta apud Feyram Sancte Marie mediato Iunio Era M.ª CC.ª XL.ª VIII.ª. Et ma[n]do ut recipiant eis meum panem in areis.
Et ego supra dictus A(lfonsus) Dei gratia rex Portugalie et comes Bolonie concedo dictis hominibus de Veeyros ipsum forum quod auus meus dedit eis per supra dictam cartam. Et mando iudici de Veeyros quod teneat ipsos homines de Veeyros ad ipsum forum per dictam cartam at non laxet eos inde sacare. Datum in Figueiredo per V. Didaci super iudicem prima die Augusti Era M.ª CC.ª LXXX.ª VIII.ª.

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[1] Viterbo, no Elucidário, diz-nos que eiradéga «seria foro, que só dos frutos secos e debulhados na eira», embora «também se pagava eiradíga de linho e vinho», e a eiradiga «parece diferia de eiradega, sendo esta dos líquidos e aquela dos sólidos». Num exemplo da nossa região, mais tarde, o foral de Angeja fala de «deiradegua», quase sempre referindo-se a trigo, e indica-nos diversas prestações de cereais, animais domésticos e vinho. Parece-nos poder-se juntar toda a expressão «de eyradiga sing[u]los sextarios et singulos almudes de tritico», entendendo-se deste modo que a «eyradiga» refere-se ao trigo, embora sem certezas.

[2] Os autores da colectânea de docs. de D. Sancho põem em nota a sua dúvida quanto ao significado desta abreviatura. E. Borges Nunes ("Abreviaturas paleográficas portuguesas", 1981, p. 13) indica o significado –eiro/-eiros para –ro, embora o problema convoque os conhecimentos de um especialista na matéria. A não referência a um imposto sobre o vinho ou o linho, que eram prestações comuns, colocam estes bens como potenciais produtos referidos pela abreviatura. Outras possibilidades são a de tratar-se do pagamento ao cobrador ou uma prestação a fazer-se numa ocasião particular do ano, não parecendo verosímil ser uma prestação de trabalho (corveias).

[*] No "Diccionário de História de Portugal" de Joel Serrão, sob o título Concelhos, o Prof. Doutor Torquato Sousa Soares presta-nos alguns esclarecimentos importantes a este respeito, e entre eles, dividindo os concelhos medievais em dois grandes grupos – urbanos e rurais -, indica-nos que nos segundos a «base económica é um contrato enfitêutico, ou seja o aforamento colectivo de uma parcela de território por vezes menor do que uma paróquia, são geralmente constituídos por pequenos grupos de povoadores, cuja autonomia apenas se vislumbra, nas cartas de povoação, pela referência a um magistrado dotado de poderes jurisdicionais (um juiz local), ou a um simples exactor fiscal (um mordomo), ou mesmo a ambos – magistrados estes que podiam ser eleitos pelos próprios vizinhos». Visto isto não será totalmente desprovido de sentido supor que venha do documento de 1210 a instituição do concelho de Veiros. São de interesse outras passagens do mesmo artigo e do intitulado Enfiteuse, na mesma obra, pelo Prof. Doutor Mário Júlio de Almeida Costa, bem como alguma informação sobre concelhos medievais dada pelo Prof. Doutor Marcello Caetano na sua "História do Direito Português".

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TRADUÇÃO

«A(fonso), pela graça de Deus rei de Portugal e conde da Bolonha, saúda a todos os que virem a presente carta. Ficareis a saber que eu vi a carta do meu avô, o rei D. Sancho, marcada pelo seu sinete, que é esta:
Eu, Sancho, pela graça de Deus rei dos Portugueses, quero ser conhecido por todos aqueles a quem este documento chegar porque o dou como foro aos homens de Veiros para que me dêem a quarta parte de quanto produzirem e um sexto da eirádiga e um sexto dos almudes de trigo e um sexto dos capões e um sexto dos cabritos médios e um terço de mbro (?). E concedo-lhes que nunca façam outro foro nem paguem coima. Esta carta foi feita perto de Santa Maria da Feira em meados de Junho da era de 1248. E ordeno-lhes que recebam o meu pão nas suas eiras.
E eu, supradito A(fonso), pela graça de Deus rei de Portugal e conde da Bolonha, concedo aos referidos homens de Veiros o mesmo foro que o meu avô lhes deu pela supracitada carta. E ordeno ao juiz de Veiros que mantenha os próprios homens de Veiros de acordo com o mesmo foro concedido através da mencionada carta e não facilite que eles retirem daí o que quer que seja. Dado em Figueiredo por V. de Diogo (?) na presença do juiz, no primeiro dia de Agosto da era de 1288.»

(Tradução do Professor João Fidalgo)

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4281, 14.1.2005, p. 12, e n.º 4282, 21.1.2005, p. 12
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um documento com Fermelã em 1217

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O jornal Público começou recentemente a distribuir uma nova edição das “Provas da História Genealógica da Casa Real Portugueza”, de António Caetano de Sousa. Consultei há alguns anos a versão original, onde encontrei um documento com referências a Fermelã (tomo I, 1739, p. 39). Como não estou a acompanhar as saídas do Público não sei se a nova edição mantém a paginação e o aspecto gráfico da original. Seja como for, embora o documento apareça publicado e citado noutras obras não era do conhecimento de autores locais, pois ninguém até hoje escreveu em Estarreja sobre ele a mais leve alusão. A propósito da iniciativa do Público reproduzo hoje em O Jornal de Estarreja uma cópia da versão original.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4406, 9.11.2007, p. 2
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Largo Dr. Egas Moniz


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No início de 1905 plantaram-se árvores no centro de Pardilhó (acácias, austrálias, mimosas e outras plantas), dividindo-o em ruas. Nova plantação de árvores no início de 1909. Mais recentemente teve tílias e plátanos. Entre 1971-1972, tendo a Feira dos 9 passado para a Quinta do Rezende, o piso foi revestido a cimento, primeiro no jardim de baixo e, logo de seguida, no de cima. A Junta de Freguesia atribuiu em 1911 o nome "Praça Dr. Egas Moniz", que num postal de 1913 aparece como "Avenida Dr. Egas Moniz". Em 1939 foi descerrada uma lápide com os dizeres "Largo Dr. Egas Moniz", durante uma homenagem ao político e cientista Prof. Doutor Egas Moniz (1874-1955).

In "Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó" [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009
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domingo, 1 de novembro de 2009

Certidão de Baptismo da Murtosa - Ano de 1286

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No início de 2005 publiquei n’O Jornal de Estarreja o documento mais antigo respeitante à Terra Marinhoa, que é sobre Veiros, mencionado em 1210 e 1250.

Posteriormente a tais datas ocorreu novo aforamento colectivo dentro de terras da mesma freguesia, o qual indicava a aplicação subsidiária de mais antigos usos de Veiros, querendo por certo aludir àquele documento de 1210. O novo diploma não vem datado, mas era falecido D. Afonso III (faleceu em 1279) e abadessa do Mosteiro de Arouca D. Mor Martins, que o foi até 1281. Encontrava-se copiado num Nobiliário da Casa do Mato (Avanca), de onde o transcreveu Monsenhor Miguel de Oliveira (“Ovar na Idade Média”, pp. 73-75). Aqui supunha o distinto investigador aparecer pela primeira vez o nome de Veiros, segundo se lê num seu artigo publicado na imprensa local, poucos anos antes de falecer.

Encontrei no Arquivo da Universidade de Coimbra outro documento, em cópia mais recente, que deverá respeitar à mesma situação pois tem características idênticas. O teor do segundo diploma (c. ano 1280), totalmente desconhecido até agora, é o que segue: «Carta de foro epovoação q fes a Abbª D. Maior Martins das herdades q chamão Celeiró, Ninho de Aguia, Cavalo, e Faayga Como partiaõ pella Vea dagoa do Rio de Antoam dahi aos mancões da Pouoa de Sarcagens, dahi ao Caminho q vem da Igreja de Santhiago de Bidoido pª Veiros da ….. (his do Rego das Magoas?) e vai entrar no dito Rio Com obrigação de pagarem o 5.º de todos os frutos; e os maiz direitos como pagavão os de Veiroz e quis quer pescadores de cada barca e um Cambo depeixe, né do Mayor nem do may pequeno» (AUC, III-1.ªD-14-1-16, fl. 1v.).

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Abaixo transcrito está um aforamento colectivo na Murtosa em 1286, o qual faz parte do núcleo documental do Mosteiro de Arouca no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, conforme consta da cota anexa. Está já publicado por Luís Rêpas, em “Quando a nobreza traja de branco…”, II, 2000, p. 242, de onde o transcrevo.

Trata da Murtosa, lugar da freguesia e concelho com o mesmo nome, e poderá bem ser a primeira menção a esta povoação, posterior às de Veiros e Pardelhas. É certo ser anterior a alusão a «Morrecosa» ou «Morrezosa», em 1242 ou 1280 (“Ovar na Idade Média”, p. 183; e no Milenário de Aveiro), mas sempre permaneceu em séria dúvida se aqui se tratava de facto da Murtosa. Por essa razão o texto abaixo poder-se-á ter, de certo modo, como a certidão de baptismo da Murtosa.

Documentos tão antigos não são comuns no saber dos autores locais, por isso muito pouco se escreveu na Murtosa da sua história medieval. Até o Dr. José Tavares julgava ser nas inquirições de Afonso IV (1334) que pela primeira vez apareciam terras marinhoas, designadamente Veiros e Pardelhas (“O Concelho da Murtosa”, 30.12.1996, p. 12).

Resta enfim, da Terra Marinhoa, outra documentação do século XIII, parte da qual guardo cópia no meu arquivo, esperando melhor oportunidade para publicação.

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1286, JULHO 10, Arouca – A abadessa D. Luca Rodrigues e o convento do mosteiro de Arouca dão carta de foro aos moradores da Murtosa (c. Murtosa).

A) T.T. – Arouca, gav. 7, m. 1, doc. 1, 140x135 mm., carta partida por a.b.c., bom estado de conservação.

Cognoçuda cousa seja a quantos esta carta virem e oyrem que nos Luca Rodriguiz abbadessa e o convento do moesteyro de Arouca fazemos carta de perduravel firmidoem ao foro de Veeyros aos nossos homees e nossos pobradores da Murtosa convem saber que eles e todos aqueles que deles veerem ajam esse logar da Murtosa pera sempre en chaao en monte e en fonte assi como parte cum Veeyros da hũa parte e da outra parte cum Mouta Redonda per tal preyto que eles arrumpam e affruytem e façam y quanta benfeytoria fazer poderem e dem a nos cada uno ano a quinta parte de quanto lavrarem e senhas terças de moravidy e senhos almudes de triigo e senhos sesteiros de pam segundo e senhos meyos cabritos e senhos meyos capões e luytosas e o nosso moordomo receber a eles e pam nas eyras ata postumeiro dia de Setembro e outro foro a nos sobr’este nom façam nem peytem a nos coomha. En testemoỹo das quaes cousas nos abbadessa e convento sobredictas demos aos ditos pobradores esta casa seelada de nosso seelo e outra tal fica a nos partidas per a.b.c. en testemoỹo desta cousa. Dada en Arouca X. dias de Julho Era M.ª CCC.ª XXIIII.ª.

Presentes: Pedro Migueiz e Joham Paaez clerigos.

E Domingos Eanes que a fez.

In "O Concelho da Murtosa", n.º 2126, 31.1.2008, p. 17
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Igreja de Pardilhó (S. Pedro)

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ANTIGA IGREJA
Começou a construir-se em 1638. Numa pedra que lhe terá pertencido lê-se a data de 1740, talvez respeitante a remodelação. Tinha além do altar mór (em obras em 1707) os laterais de Nossa Senhora do Rosário e do Espírito Santo. Foi demolida em 1836, após construída a actual igreja.


IGREJA ACTUAL
Construída em terreno que era de pinhal. Os primeiros esforços para a sua construção foram em 1798 e as obras iniciaram-se em 1812, vindo a inaugurar-se em 1835, embora incompleta. Teve obras profundas entre 1967 e 1969, a cargo do construtor Francisco Farinhas. O antigo adro da igreja ficou concluído em 1871.

In “Evolução histórica do centro urbano de Pardilhó” [desdobrável], Câmara Municipal de Estarreja / Junta de Freguesia de Pardilhó, Junho de 2009
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