terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Padre Donaciano de Abreu Freire

.
n. 15.11.1889 (Pardilhó); f. 18.4.1950 (Beduído)
Provedor da Misericórdia de Estarreja (1940-1942, e 1949-1950)

Donaciano da Silva Bastos de Abreu Freire, filho de abastados proprietários de Pardilhó e com 10 irmãos, estudou no Colégio de S. Fiel e depois no Seminário do Porto. Ordenado sacerdote em 4.8.1912 [1], antes de paroquiar permaneceu no Seminário do Porto, aí catalogando a biblioteca, e leccionou em colégios da mesma cidade. Esteve depois como Coadjutor no Bunheiro (1920-1922) e, desde 1922 até falecer, Reitor de Beduído.

Antes de paroquiar o Bunheiro ensinou pois no Porto, nos colégios Universal, Almeida Garrett e S. Carlos. Este último seria por ele comprado e dirigido, conjuntamente com o Dr. João Ruela Ramos, como ele de Pardilhó. Já Reitor de Beduído formaria nova sociedade, com o Pe. Manuel Resende Tavares Garrido e o Dr. António Tavares Garrido, para fundar um Externato em Estarreja (1923), que anos depois se transformaria em Colégio D. Egas Moniz (1931).

O Pe. Donaciano notabilizou-se igualmente na escrita, quer enquanto escritor de vários géneros literários, quer como jornalista. Da actividade literária avultam as obras “Canção de Estarreja”, “O Regresso da Pecadora”, “Zara” e “Uma Lição de História”. Colaborou com diversos jornais e revistas, como as “Novidades” e “Lumen”, além da imprensa local.

Pe. Donaciano de Abreu Freire.

Porém foi como orador sagrado que mais se distinguiu, sendo de destacar a oração fúnebre proferida nas exéquias de D. Manuel II, na Igreja da Trindade, Porto, em 11.8.1932.

Pároco de Beduído de 1922 a 1950, ano em que faleceu, teve neste período um conjunto de importantes iniciativas que contribuíram para o progresso da freguesia, e de todo o concelho de Estarreja. Pouco depois de tomar posse da paróquia de Beduído a respectiva igreja foi destruída por um incêndio (1922), a cujo restauro procedeu. No ano seguinte participava na fundação do Orfeão de Estarreja (1923). Promoveu entretanto de criação de um Hospital e Misericórdia (1923-1924), sem sucesso. Porém em 1926 convenceu o Visconde de Salreu a custear a edificação do Hospital concelhio, que abriu portas em 1935, com um Asilo anexo, e então entregue nas mãos da Misericórdia de Estarreja, fundada para o efeito. Ainda no campo assistencial criou em Beduído a primeira Conferência de S. Vicente de Paulo (1924) do concelho de Estarreja, e colaborou na fundação do Instituto de Beneficência, Instrução e Recreio (1931). Entre os melhoramentos que lhe são devidos conta-se também a reorganização do Sindicato Agrícola de Estarreja, no início da sua paroquialidade, ao qual chegou a presidir. Voltou a presidir ao mesmo organismo em 1942, quando este já se havia convertido em Grémio da Lavoura. Nesse mesmo ano de 1942 levou a efeito o Congresso Eucarístico de Estarreja.

Com o falecimento do Visconde de Salreu, ficou a ocupar o cargo de Provedor da Misericórdia de Estarreja, por ser Vice-Provedor, embora dirigisse de facto a Irmandade desde a sua fundação. O acto eleitoral de 26.12.1938, polémico, não chegou a realizar-se [2]. Foi Provedor de 4.5.1940 a 5.8.1942 [3].

Busto do Pe. Donaciano de Abreu Freire,
inaugurado em 1972.

No acto eleitoral de 26.12.1948 voltou a concorrer e venceu a eleição, ficando como Vice-Provedor João Assis Pereira de Melo (que assume a direcção após o falecimento do Pe. Donaciano, em 1950), e vencida a lista encabeçada por Adelino Dias Costa.

Por ter sido a alma da instituição, que a dirigiu nos primeiros passos, convencendo o Visconde de Salreu a custear o Hospital, além do que no último mandato remodelou os serviços e organizou novos, ampliando os existentes, propôs-se em Assembleia Geral de 8.12.1957 que lhe fosse atribuído, postumamente, o diploma de Irmão Benemérito.

Um busto seu, realizado pelo escultor M. Cabral, inaugurou-se em Beduído em 1972.


____________________
Bibliografia:
- Arquivo da SCME, Livro de Actas – Assembleia Geral
- Arquivo da Diocese de Aveiro – Ficha Biográfica
- Câmara Municipal de Estarreja, “Tema do Mês – Padre Donaciano, um pouco de História”, Câmara Municipal de Estarreja, Novembro de 1997
- AZEVEDO, Carlos Moreira de (Dir.) “Dicionário de História Religiosa de Portugal”, vol. 3, Círculo de Leitores, 2001, p. 503
- FIGUEIREDO, Filipe de, “A obra literária do Pe. Donaciano de Abreu Freire”, I – O Escritor, Casa Municipal da Cultura, Estarreja, 1985
- FIGUEIREDO, Filipe de, “A obra literária do Pe. Donaciano de Abreu Freire”, II – O Orador Sagrado, Casa Municipal da Cultura, Estarreja, 1988
- FIGUEIREDO, Filipe de, “A obra literária do Pe. Donaciano de Abreu Freire”, III – O Orador Sagrado, Casa Municipal da Cultura, Estarreja, 1989 (pp. 163-167, 196-197)
- FIGUEIREDO, Filipe de, “O Pe. Donaciano de Abreu Freire – O Homem e o Padre do seu tempo”, IV – Biografia, Casa Municipal da Cultura, Estarreja, 1989 (pp. 132, 229, 239, 370, 382, 385-397, 399, 410-417, 509, 518)
- GASPAR, João Gonçalves, “A Diocese de Aveiro – subsídios para a sua história”, Ed. Cúria Diocesana de Aveiro, 1964, pp. 336, 385, 447-448
- O Jornal de Estarreja, n.º 2827, 25.4.1950, p. 4 (falecimento); JE, n.º 3356, 10.5.1972, p. 1; JE, n.º 3361, 25.7.1972, p. 2 (busto); JE, n.º 4343, 19.5.2006, p. 8 (art. de 1989)
- O Concelho de Estarreja, n.º 565, 10.8.1912, p. 1; CE, n.º 568, 31.8.1912, p. 3 (Missa Nova); CE, n.º 598, 29.3.1913, p. 3 (“O Regresso da Pecadora”); CE, n.º 638, 3.1.1914, p. 2 (“Zara”); CE, n.º 897, 15.2.1919, p. 2 (compra e direcção do Colégio S. Carlos, com o Dr. João Ruela Ramos) ; CE, n.º 2479, 29.4.1950, pp. 1, 2 e 3 (falecimento); CE, n.º 3557, 29.7.1972, pp. 1 e 6 (busto)
- O Concelho da Murtosa, n.º 1925, 30.11.1989, pp. 24 e 23

____________________
[1]. Data discutida, esta é a que consta na ficha biográfica do Arquivo da Diocese de Aveiro e na imprensa local da época.
[2]. Filipe de FIGUEIREDO, I, 1985, pp. 245-246.
[3]. Livro de Actas – Assembleia Geral, fls. 9v-10.

In "História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja", Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, 2010, pp. 75-78
.

1 comentário: