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No início de 2005 publiquei n’O Jornal de Estarreja o documento mais antigo respeitante à Terra Marinhoa, que é sobre Veiros, mencionado em 1210 e 1250.
No início de 2005 publiquei n’O Jornal de Estarreja o documento mais antigo respeitante à Terra Marinhoa, que é sobre Veiros, mencionado em 1210 e 1250.
Posteriormente a tais datas ocorreu novo aforamento colectivo dentro de terras da mesma freguesia, o qual indicava a aplicação subsidiária de mais antigos usos de Veiros, querendo por certo aludir àquele documento de 1210. O novo diploma não vem datado, mas era falecido D. Afonso III (faleceu em 1279) e abadessa do Mosteiro de Arouca D. Mor Martins, que o foi até 1281. Encontrava-se copiado num Nobiliário da Casa do Mato (Avanca), de onde o transcreveu Monsenhor Miguel de Oliveira (“Ovar na Idade Média”, pp. 73-75). Aqui supunha o distinto investigador aparecer pela primeira vez o nome de Veiros, segundo se lê num seu artigo publicado na imprensa local, poucos anos antes de falecer.
Encontrei no Arquivo da Universidade de Coimbra outro documento, em cópia mais recente, que deverá respeitar à mesma situação pois tem características idênticas. O teor do segundo diploma (c. ano 1280), totalmente desconhecido até agora, é o que segue: «Carta de foro epovoação q fes a Abbª D. Maior Martins das herdades q chamão Celeiró, Ninho de Aguia, Cavalo, e Faayga Como partiaõ pella Vea dagoa do Rio de Antoam dahi aos mancões da Pouoa de Sarcagens, dahi ao Caminho q vem da Igreja de Santhiago de Bidoido pª Veiros da ….. (his do Rego das Magoas?) e vai entrar no dito Rio Com obrigação de pagarem o 5.º de todos os frutos; e os maiz direitos como pagavão os de Veiroz e quis quer pescadores de cada barca e um Cambo depeixe, né do Mayor nem do may pequeno» (AUC, III-1.ªD-14-1-16, fl. 1v.).
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Abaixo transcrito está um aforamento colectivo na Murtosa em 1286, o qual faz parte do núcleo documental do Mosteiro de Arouca no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, conforme consta da cota anexa. Está já publicado por Luís Rêpas, em “Quando a nobreza traja de branco…”, II, 2000, p. 242, de onde o transcrevo.
Trata da Murtosa, lugar da freguesia e concelho com o mesmo nome, e poderá bem ser a primeira menção a esta povoação, posterior às de Veiros e Pardelhas. É certo ser anterior a alusão a «Morrecosa» ou «Morrezosa», em 1242 ou 1280 (“Ovar na Idade Média”, p. 183; e no Milenário de Aveiro), mas sempre permaneceu em séria dúvida se aqui se tratava de facto da Murtosa. Por essa razão o texto abaixo poder-se-á ter, de certo modo, como a certidão de baptismo da Murtosa.
Documentos tão antigos não são comuns no saber dos autores locais, por isso muito pouco se escreveu na Murtosa da sua história medieval. Até o Dr. José Tavares julgava ser nas inquirições de Afonso IV (1334) que pela primeira vez apareciam terras marinhoas, designadamente Veiros e Pardelhas (“O Concelho da Murtosa”, 30.12.1996, p. 12).
Resta enfim, da Terra Marinhoa, outra documentação do século XIII, parte da qual guardo cópia no meu arquivo, esperando melhor oportunidade para publicação.
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1286, JULHO 10, Arouca – A abadessa D. Luca Rodrigues e o convento do mosteiro de Arouca dão carta de foro aos moradores da Murtosa (c. Murtosa).
A) T.T. – Arouca, gav. 7, m. 1, doc. 1, 140x135 mm., carta partida por a.b.c., bom estado de conservação.
Cognoçuda cousa seja a quantos esta carta virem e oyrem que nos Luca Rodriguiz abbadessa e o convento do moesteyro de Arouca fazemos carta de perduravel firmidoem ao foro de Veeyros aos nossos homees e nossos pobradores da Murtosa convem saber que eles e todos aqueles que deles veerem ajam esse logar da Murtosa pera sempre en chaao en monte e en fonte assi como parte cum Veeyros da hũa parte e da outra parte cum Mouta Redonda per tal preyto que eles arrumpam e affruytem e façam y quanta benfeytoria fazer poderem e dem a nos cada uno ano a quinta parte de quanto lavrarem e senhas terças de moravidy e senhos almudes de triigo e senhos sesteiros de pam segundo e senhos meyos cabritos e senhos meyos capões e luytosas e o nosso moordomo receber a eles e pam nas eyras ata postumeiro dia de Setembro e outro foro a nos sobr’este nom façam nem peytem a nos coomha. En testemoỹo das quaes cousas nos abbadessa e convento sobredictas demos aos ditos pobradores esta casa seelada de nosso seelo e outra tal fica a nos partidas per a.b.c. en testemoỹo desta cousa. Dada en Arouca X. dias de Julho Era M.ª CCC.ª XXIIII.ª.
Presentes: Pedro Migueiz e Joham Paaez clerigos.
E Domingos Eanes que a fez.
In "O Concelho da Murtosa", n.º 2126, 31.1.2008, p. 17
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