(Palestra de José Bento, no Rotary Club de Estarreja, 1997)
Poeta e tradutor, José Bento de Almeida e Silva Nascimento nasceu
em Pardilhó, em 17 de Novembro de 1932. O seu percurso literário divide-se pela
poesia e sobretudo pela tradução de literatura em língua espanhola, da qual foi
grande divulgador em Portugal. Aliás, segundo o poeta e tradutor espanhol Francisco
Brines, a obra que José Bento realizou é «a
mais completa de tradução do espanhol para qualquer língua».
Profissionalmente foi alguns anos professor do Ensino Secundário e trabalhou
para várias empresas, na sua área de formação, contabilidade, da qual publicou
igualmente diversos livros. Morreu aos 86 anos de idade no dia 26 de Outubro de
2019, Sábado, no Hospital Amadora-Sintra, onde se encontrava internado. A
notícia foi divulgada pelos principais órgãos de comunicação portugueses, tendo
já merecido uma mensagem de pesar do Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa.
De temperamento particularmente discreto, nunca procurou e
por isso não conheceu notoriedade junto do grande público. Dele disse José
Saramago que era «um homem discreto,
tímido», avesso a aparições públicas. Contudo um dos grandes nomes das
letras portuguesas, reconhecido pelas maiores autoridades na matéria, que lhe
atribuíram vários dos principais prémios literários, tanto em Portugal como em
Espanha, sendo inclusive distinguido pelo Presidente da República Portuguesa e
pelo Rei de Espanha. Recebeu, entre outros, o Prémio de Tradução do Pen Clube Português (1985 e 2005; também o de
Poesia em 1992), o Grande Prémio
Internacional de Tradução Literária, da Associação Portuguesa de Tradutores
(1986, 2005), a Medalha de Ouro de Mérito
das Belas Artes (1991, concedida pelo Rei de Espanha), a Ordem do Infante D. Henrique (1992, agraciado
pelo Presidente da República Mário Soares), o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus (1992), o Prémio de Tradução Paulo Quintela, da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra (2002), o Prémio
Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2006 – 1.ª edição), o Prémio Luís Miguel Nava (2013) e o Prémio Cervantes, atribuído pelo governo espanhol, reconhecendo a
sua actividade como tradutor. O Prémio
Hispano-Luso de Tradução, da Junta da Extremadura e da Associação de
Escritores Extremenhos (Espanha), recebeu em 2006 o nome de José Bento, em sua
homenagem.
A sua obra de poesia encontra-se dispersa por revistas de
poesia, desde a década de 1950, e em vários livros, entre os quais se destacam
o “Silabário” (1992, reunindo a sua obra poética), “Um sossegado silêncio” (2002),
“Alguns Motetos” (2003, organizado e prefaciado pelo agora Cardeal José
Tolentino de Mendonça) e “Sítios” (2011). Principalmente conhecido como
tradutor de inúmeras obras literárias da língua espanhola, incluindo-se três
grandes “Antologias de Poesia Espanhola” (1985, 1993/1996, 2001) e “O Engenhoso
Fidalgo D. Quixote de la Mancha” (2005).
Embora residisse na área da Grande Lisboa, nunca esqueceu a
terra natal, Pardilhó. Nasceu em 1932 na casa dos avós paternos, situada na Rua
Maurício de Almeida, próxima da loja da Feliz. Muito jovem começou a mostrar
talento literário, com os primeiros artigos publicados no jornal local O Concelho de Estarreja e escrevendo uma
marcante peça de teatro de revista, de costumes regionais, intitulada “Padas de
Pardilhó” (1950). Embora esta peça de teatro fosse um interessante retrato de
época da freguesia, José Bento renegava-a como escrito imaturo da juventude e
sublinhava ter sido escrita em co-autoria. No fim da vida afirmou várias vezes
o desejo de vir a ser sepultado em Pardilhó, junto dos seus familiares.
In
O Jornal de Estarreja, n.º 4868, 15.11.2019, p. 2
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