(Imagem Google Street View, Julho 2018)
Constava há alguns meses que a
antiga Casa de Saúde de Estarreja
estava para ser demolida, o que veio a acontecer no dia 18 de Janeiro último. O
edifício, junto à rotunda das bateiras
e à Caixa Geral de Depósitos, que serviu há poucos anos como sede dos serviços
administrativos da Civilria, conhecida empresa do sector da construção civil, encontrava-se
actualmente desocupado. Construído na década de 1940, foi durante décadas a
casa e a clínica médica do Dr. Manuel Figueiredo, até ao seu falecimento,
ocorrido em 1978.
Manuel Luiz da Costa Figueredo
(1904-1978), que não era natural de Estarreja (nasceu no Brasil) nem tinha
ligações familiares ao concelho, para aqui veio morar em 1931, quando acabou de
cursar Medicina em Coimbra. Activo opositor ao Estado Novo, participou com
destaque nas campanhas presidenciais do General Norton de Matos (1948) e do
General Humberto Delgado (1958), entre outras significativas actividades políticas
oposicionistas. Por outro lado foi membro da maçonaria e, não sendo católico,
notou-se junto da mentalidade da época o seu casamento civil, com uma senhora
de boa família local. Na vida associativa estarrejense foi um dos fundadores e
primeiro presidente do Rotary Club de Estarreja, em 1962, fundando aqui mais tarde
o Elos Clube.
Quando abriu portas o Hospital
Visconde de Salreu veio a ser o único dos médicos de Estarreja que não foi
chamado a nele prestar serviço, atentas as mencionadas circunstâncias da sua
personalidade. Acabou por contar-se entre os notáveis locais promotores da
criação de um Dispensário Anti-Tuberculoso,
alternativo ao da Misericórdia e inaugurado em 1949. Este mais tarde deu lugar
à Casa dos Pobres, também por si
promovida, ambos situados na Rua da Escola do Agro, em edifício hoje integrado
no património da Misericórdia.
Após chegar a Estarreja, o Dr.
Manuel Figueiredo teve consultório na vila e em várias freguesias do concelho.
Com o passar do tempo juntou às consultas serviços terapeuticos e pequenos
tratamentos, passando depois às pequenas cirurgias, a que se seguiram as
cirurgias de maior monta, em que participavam médicos vindos de fora da terra.
Esta evolução deu origem à sua Casa de
Saúde de Estarreja, uma importante clínica privada alternativa ao Hospital
Visconde de Salreu, com quartos para o internamento dos pacientes, que nos
inícios dos anos 50 já possuíam telefone, como relata uma desenvolvida
reportagem da época (O Jornal de
Estarreja, n.º 2933, 25.9.1954, p. 1). Os serviços médicos incluíam a
clínica geral e várias especialidades, com medicina e cirurgia de urgência, contando
com uma ampla sala de operações. Na mesma altura (1954) possuía instalação de
raios X, para radiografias do tórax, estômago e outras, secção de agentes
físicos com aparelhagem moderna para fisioterapia, raios infravermelhos,
ultravioletas, diaternia, choques e alta frequência. Também ali se realizaram
partos. Por estes motivos muitos estarrejenses viam na casa agora demolida o
local onde nasceram, onde se curaram e onde salvaram a sua vida.
In
O Jornal de Estarreja, n.º 4849, 8.2.2019, p. 2
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