No mais antigo documento escrito
que chegou aos nossos dias com o nome de Salreu, então na forma de “Sarleo”,
consta já a sua igreja dedicada a S. Martinho de Tours. Tem este documento duas
versões, ambas actualmente à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Uma,
com a data de 1076, está no Livro Preto
da Sé de Coimbra, fl. 49, de cujas primeiras linhas reproduzimos a imagem
anexa. A segunda versão, datada de 1106, é um documento avulso do Cabido da Sé de Coimbra, Documentos
particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31. O texto que aí se encontra
refere-se a um conjunto de herdeiros de propriedades rurais, na zona de Salreu,
também descendentes dos fundadores da respectiva igreja, à qual entregam terras
de cultivo ao seu redor.
A igreja anterior à actual,
provavelmente aquela primitiva de 1076, ficava ao fundo da rua de S. Martinho,
no sítio do Adro-Velho, justamente rodeado pelos terrenos que ainda hoje se
chamam de Passal, uma reminiscência dos passais doados em 1076 e que
contribuíram para o sustento do culto até ao século XIX.
Entre 1663 e 1668 começou a
construção da actual igreja, substituindo a antiga que se encontrava em mau
estado. Deve ter sido inaugurada em 1673, pois é a data que ficou registada na
pedra por cima da sua porta principal, e é também o que consta na Memória Paroquial de 1721. Aí é
caracterizada a igreja como sumptuosa, acrescentando-se ter sido construída
pelo povo sem ajuda. Porém a edificação da capela-mor, que era devida ao prior,
ainda estava por fazer em 1673.
Na Memória Paroquial de 1721 registam-se quatro altares, além do de
São Martinho na capela-mor: N. S. Rosário, Senhor dos Passos, Almas, e Espírito
Santo. A Memória Paroquial de 1758
aponta diferenças, indicando o Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário,
Espírito Santo, e Santo Cristo, e acrescenta a existência das irmandades dos
Passos e das Almas.
Em algumas corografias e
dicionários geográficos portugueses do século XIX salientam-se as
características do edifício, designadamente o ser uma «grande egreja de naves» (está dividida em três anves), ter bons ou
óptimos passais, e boa casa de residência paroquial.
Ao longo dos anos vários
restauros se fizeram na igreja. Um dos principais ocorreu cerca de 1878, quando
se alterou a fachada, abriram-se novas janelas, foi ampliada a capela-mor e
alteada a torre, construídos anexos e aplicados estuques. Entre as obras de
vulto mais recentes salientam-se as concluídas em 1990.
In O Jornal de Estarreja, n.º 4678,
22.11.2013, p. 2
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