Uma história de 130 anos, contada em poucas linhas, omite
necessariamente muitos nomes importantes, assim como os mais diversos factos e
acontecimentos que mereciam ser assinalados. É por isso que apenas uma suave
sombra dessa história aqui fica, com várias lacunas. Um jornal com 130 anos de
vida é também, para além da sua própria história, uma fonte privilegiada para
pesquisar a história do concelho de Estarreja, ao longo deste período.
O “Jornal de Estarreja” saiu pela primeira vez com a data de
12-04-1883, pela mão de Caetano Ferreira e para defesa do Partido Progressista,
tendo sido publicado até 1887.
Em 10-04-1887 José Mortágua publicou em Estarreja o primeiro
número de um jornal humorístico, chamado “O Gafanhoto”. Este pequeno periódico
evoluiu para “O Estarrejense” (1888-1889), ao qual sucedeu “O Jornal de
Estarreja” (1890 e seguintes), ocupando o espaço então vago de noticiar os
assuntos do concelho de Estarreja. O jornal ainda estava nas mãos de José
Mortágua quando este faleceu, em 1906.
Calos Alberto Costa, que trabalhava n’“O Jornal de
Estarreja” desde criança, comprou-o em 1907 a Manuel Valente de Almeida e Silva,
dando-lhe continuidade até falecer, em 1956. Carlos Alberto Costa, com
experiência de colaboração com outros periódicos, empenhou-se em fazer sair um
jornal independente e defensor dos interesses locais. Por várias vezes viu
suspensa a sua publicação, que era o ganha-pão com o qual sustentava a família,
e foi julgado e preso por defender intransigentemente os interesses da terra, o
que continuou a fazer mesmo depois do 28 de Maio de 1926. Entre as causas
advogadas pelo jornal sob a sua direcção contam-se: a construção do hospital, a
criação de uma corporação de bombeiros, e a defesa da integridade concelhia
(1926-1928), muito contribuindo para a devolução de Pardilhó ao concelho de
Estarreja. No rescaldo deste episódio a Câmara Municipal mudou o nome da Rua
das Amoreiras, onde funcionava a tipografia do jornal, para Rua do Jornal de
Estarreja, mais tarde perdendo e recuperando a nova designação, que se mantém
hoje. Numa casa desta rua manteve o jornal a sua redacção, desde 1926 a 1977/78, onde era
composto manualmente letra por letra, e impresso com prensa à moda antiga. Suspensa
a publicação de “O Jornal de Estarreja” em diversas ocasiões, por razões
políticas, saiu temporariamente com título de “O Estarrejense” (1919,
1927-1928). Entretanto Carlos Alberto Costa iniciou a publicação de outro
periódico, designado “O Jornal de Cambra”, a partir de 1931. Ambos os títulos
eram produzidos na tipografia própria, de onde saíam diversos trabalhos
tipográficos e em algumas ocasiões jornais de outros editores.
Com o agravar do estado de saúde de Carlos Alberto Costa em
1950, e o seu falecimento em 1956, sucedeu-lhe na direcção de “O Jornal de
Estarreja” e “O Jornal de Cambra” o seu filho, Dr. Eduardo Costa, que contava
com a colaboração técnica do seu irmão Adalberto Costa e de outros
trabalhadores. O Dr. Eduardo Costa, director de “O Jornal de Estarreja” entre
1956 e 1977, que era advogado, foi também professor e director da Escola
Secundária de Estarreja, gerente do Grémio da Lavoura de Estarreja, vereador,
presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Estarreja e do Clube Desportivo
de Estarreja, e investigador da história local, com estudos publicados nos
jornais e nas revistas “Arquivo do Distrito de Aveiro” e “Aveiro e o Seu
Distrito”.
Ao Dr. Eduardo Costa, falecido em 1977, sucedeu na direcção
de “O Jornal de Estarreja” o seu filho, Dr. Eduardo Carlos Costa, e poucos
números depois o Dr. Norberto Costa, que embora com o mesmo apelido já não
pertencia à família. Seguiram-se depois tempos difíceis para o jornal, que
inclusive deixou de ser publicado. O jornal e as suas instalações foram
entretanto adquiridos por uma sociedade, cujos sócios estavam ligados ao Partido Social Democrata. Acabaria por
deixar a antiga casa, onde este partido mantém hoje a sua sede, deixando também
de ter tipografia própria. Seguiram-se como directores o Dr. Dario Matos, e o
Professor Artur Castro Tavares, que deu impulso ao jornal, voltando a ser
semanário e aumentando o número de páginas. Nos últimos anos “O Jornal de
Estarreja” tem sido dirigido pela Dra. Andreia Tavares (2004-2012), e agora
pela Dra. Joana Sousa (2013). Um sinal dos tempos, pela primeira vez a história
do jornal escreve-se no feminino e com formação académica na área do
jornalismo.
In O Jornal de Estarreja, n.º 4652, 12.4.2013, p. 3
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