O nome do Bunheiro encontra-se pela primeira vez em 8 de
Agosto de 1378, num documento feito em Santa Marinha de Avanca[1],
terra a que pertencia, escrito «buynheiro».
Nesta data produziu-se atestação notarial, segundo a qual Domingos Tomé e João
Domingues Estaço, pescadores, pescaram e venderam dois golfinhos (dolffinhos), sem que tenham pago a
correspondente terça parte reclamada pelo Mosteiro de Arouca, donatário da
terra. Os dois pescadores foram citados para comparecerem perante Diogo
Henriques, Cónego da Sé do Porto, devido à queixa que deles fez, por falta de
pagamento, o procurador do Mosteiro de Arouca, Gonçalo Anes. Desta escritura se
faz mera referência num índice documental manuscrito do Mosteiro de Arouca, que
se conserva no Arquivo da Universidade de Coimbra[2].
Um e outro são aqui dados a conhecer publicamente pela primeira vez.
Em 1420 o juiz ordinário do julgado de Antuã, Gonçalo
Martins, determinou a prisão de João Domingues, herdeiro e avoengueiro de um
casal reguengo do Mosteiro de Arouca sito no Bunheiro, por não povoar nem
corrigir os danos causados à mesma propriedade[3].
Este documento tem a particularidade de ter-se realizado no lugar de Estarreja,
do julgado de Antuã. Revela pois que a sede do concelho que continuou a
designar-se de Antuã havia já atravessado o rio, para se instalar no lugar de
Estarreja. Com o estabelecimento em Estarreja das casas da autoridade judicial
e dos celeiros centrais do donatário da terra, o concelho de Antuã haveria de
ver o seu nome lentamente substituído pelo de Estarreja.
Nova notícia do Bunheiro surge em 1471, data em que
Fernando de Azevedo, escudeiro régio, recebe de D. Afonso V carta de
privilégio, para vinte homens lavradores e pescadores da aldeia do «Buinheiro», terra do Mosteiro de Arouca[4].
Segundo essa carta, os vinte homens ficavam para sempre isentos de servir em
qualquer guerra por mar e por terra, de serem acontiados, de qualquer imposto,
encargo e ofício concelhio, de irem com presos e dinheiro, de serem postos por
besteiros do conto, de serem tutores e curadores, bem como do direito de
pousada.
Chegados ao século XVI, foi dada em 1513 sentença
sobre o foro das ilhas de Lourosa e de um moinho na Terra de Antuã[5],
cuja localização não se conhece, tudo pertencente ao Mosteiro de Arouca. O
primeiro censo português, Numeramento
de 1527, atribui à então juradia dos Saidouros
a população de 19 vizinhos[6].
Para a origem da paróquia do Bunheiro é comummente aceite
a data de 1601, ano em que o Bunheiro se teria separado da Matriz de Avanca[7],
passando a constituir um curato desta que abrangia o lugar de Pardilhó. No
entanto há informação ainda do século XVI com a «Freguezia de Pardilhó e Bunheiro»[8],
e dessa fonte parece resultar ter Sedouros maior importância que o Bunheiro.
[1] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 3.
[2]
AUC, III-1.ºD-14-1-16, fls. 141v-142.
[3] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 2, n. 18; publicado duas
vezes por Rafael Marques VIGÁRIO em “O couto de Antuã e Avanca no final da
Idade Média”, Terras de Antuã, I,
2007, pp. 200-202; e “O Mosteiro de Arouca no século XV (1400-1437)”,
Dissertação de Mestrado, FLUC, Coimbra, 2007, doc. 47, pp. 201-204.
[4] ANTT, Chancelaria de D. Afonso
V, Lv. 16, fl. 17.
[5] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 20.
[6] “Arquivo Histórico Português”,
vol. VI, 1908, pp. 275.
[7] Assim o escreveu Gonçalo
António TAVARES DE SOUZA, no “Exame da questão sobre os foros do convento de
Arouca…”, p. 11, no que foi seguido por Miguel de OLIVEIRA (“Ovar na Idade
Média”, p. 189) e demais autores.
[8] ADP, Cabido, vol. 788, fl.
160. É o Tombo dos Votos da Feira, em cópia posterior, de 1781. Esta referência
vem mencionada no “Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto”, 2.ª Série,
vol. 2, 1984, p. 23.
In A Terra Marinhoa na Idade Média, Junta de Freguesia de Veiros, pp.47-48
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