sábado, 7 de setembro de 2013

A Terra Marinhoa na Idade Média - Actual freguesia de Pardilhó

O jornal “O Povo de Pardilhó”[1] publicou em 1939 uma carta de Miguel de OLIVEIRA[2], onde este transcrevia parte de uma lista de casais e herdades da terra de Antuã e Avanca, existente num caderno de pergaminho[3]. Embora não estivesse datada fazia-se referência às abadessas D. Luca e D. Guimar, sabendo-se que a segunda exerceu esse cargo entre 1346-1357. Miguel de OLIVEIRA aludiu ao mesmo documento em “Ovar na Idade Média”, pp. 63, 184-185, com base no qual acrescentou que o Mosteiro de Arouca tinha em Antuã propriedades em Avanca (casal do Talhadoyo e marinha do Talhadeiro, que devem ser no Telhadouro de Pardilhó), e no lugar de «Pardilhoo» (ou «Pardelhoo») possuía cinco casais e uma herdade das Chãs e do Cavalo, e outra do Castelão. Entre os reguengos menciona-se Trabelhadouro. O original indicava-se ser do ANTT, mas não possuiria cota, razão dada pelo autor para a não mencionar. O texto publicado era o que segue:

«Pardilhoo ha hy quatro casaaes em huum deles mora D.ª Steuez e en outro mora Martim Spada e en outro mora D.º Eannes e en no outro mora Migºlho (?) destes casaaes am de dar de cada huum o quinto de que laurarem tam bem pam como milho e de foro bj soldos e biij dinheiros e huma galinha e meo cabrito e alm(ude) de trigo despadoa e huum sesteiro de mel e pam que laurarem. Esto he rreguengo e nam da outro foro nem teem carta e darem loytosa.

Item em este logar de pardelhoo ha outro casal en que mora Domingos Giraldez E a de dar o quinto do que laurar e de foro quatro soldos e huum capom e huum almude de pam segundo Esto tem per carta pera ssy e pera sua jeeraçom.

Item Este Domingos Giraldez trage outra erdade que chamam das Chaãs e do Caualo pera ssy e pera suas pessoas e a de dar a vj parte e meo foro de pardelhoo.

Item ha hy huum casal que chamam do Cartelão e a de dar tantos foros...».

Na procura pela lista original para a consultar, e dela extrair o que fosse de interesse para Pardilhó e demais freguesias da região, fomos encontrar no ANTT um volume com letra praticamente ilegível e que mal se vê, mas que se percebe ser da época em que foi abadessa D. Guiomar Mendes de Vasconcelos[4], pelo que poderá ser a fonte utilizada por Miguel de OLIVEIRA. Noutro volume igualmente não datável, mas em que a abadessa se chamava Isabel, lê-se «aldea de Pardelho»[5], na Terra de Antuã.

O lugar das Chãs e do Cavalo, na lista acima, fica para nascente das Teixugueiras. Em 1709 aparece mencionada a Ribeira das Chans, sita em Pardilhó[6].

De um litígio ocorrido entre o Mosteiro de Arouca e Pedro Afonso, filho de Afonso Denis de Pardelho (sic), a respeito de um casal de Estarreja, deu-se sentença em 23 de Dezembro de 1455[7].

Atento o Numeramento de 1527, tinha a «Aldea de Pardelho e sua juradia» 20 vizinhos[8].

Tem-se contado que em 1638 iniciou-se a construção da primeira igreja de Pardilhó[9]. Porém há notícia da «Freguezia de Pardilhó e Bunheiro», num Tombo dos Votos da Feira do século XVI[10], o que leva a crer ter sido anterior a instituição da paróquia. Nesse texto, onde o nome da povoação por vezes se escreve Pardelho, só nela existem os lugares de Pardelho, Fonte e Teixugueiras. Este último, pela frequência e quase exclusividade com que consta nos registos mais antigos, deverá ter sido um dos primeiros e mais importantes lugares de Pardilhó a serem habitados. Com ele o do Telhadouro, que está logo no documento acima aludido de 1346-1357[11].



[1] Actual “O Concelho de Estarreja”.
[2]
“O Povo de Pardilhó”, n.º 613, 7.1.1939, p. 1 (carta integrada na secção do jornal “Subsídios para a História de Pardilhó”, art. n.º 110, do Pe. Ismael Matos).
[3]
O mesmo excerto da lista foi por nós novamente publicado, segundo a cópia de Miguel de OLIVEIRA, em “O Concelho de Estarreja”, n.º 4174, 21.1.2007, p. 4.
[4]
ANTT, Mosteiro de Arouca, vol. 219.
[5]
ANTT, Mosteiro de Arouca, vol. 10, fl. 43.
[6]
AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 281v.
[7]
ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 25.
[8]
“Arquivo Histórico Português”, vol. VI, 1908, pp. 275.
[9]
Gonçalo António TAVARES DE SOUZA, “Exame da questão sobre os foros do convento de Arouca…”, p. 11; e no mesmo sentido Miguel de OLIVEIRA (“Ovar na Idade Média”, p. 189) e outros autores.
[10]
ADP, Cabido, vol. 788, fl. 160 (cópia de 1781); ref. em “Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto”. 2.ª Série, vol. 5/6, 1987/8, p. 28.
[11]
Encontra-se também uma menção não datada mas do final do séc. XVI, escrito «Chão do Talhadouro» (AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 277).


In A Terra Marinhoa na Idade Média, Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp.48-50

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