O jornal “O Povo de Pardilhó”[1]
publicou em 1939 uma carta de Miguel de OLIVEIRA[2],
onde este transcrevia parte de uma lista de casais e herdades da terra de Antuã
e Avanca, existente num caderno de pergaminho[3].
Embora não estivesse datada fazia-se referência às abadessas D. Luca e D.
Guimar, sabendo-se que a segunda exerceu esse cargo entre 1346-1357. Miguel de
OLIVEIRA aludiu ao mesmo documento em “Ovar na Idade Média”, pp. 63, 184-185,
com base no qual acrescentou que o Mosteiro de Arouca tinha em Antuã
propriedades em Avanca (casal do Talhadoyo e marinha do Talhadeiro, que devem
ser no Telhadouro de Pardilhó), e no lugar de «Pardilhoo» (ou «Pardelhoo»)
possuía cinco casais e uma herdade das Chãs
e do Cavalo, e outra do Castelão. Entre os reguengos menciona-se
Trabelhadouro. O original indicava-se
ser do ANTT, mas não possuiria cota, razão dada pelo autor para a não
mencionar. O texto publicado era o que segue:
«Pardilhoo ha hy
quatro casaaes em huum deles mora D.ª Steuez e en outro mora Martim Spada e en
outro mora D.º Eannes e en no outro mora Migºlho (?) destes casaaes am de dar
de cada huum o quinto de que laurarem tam bem pam como milho e de foro bj
soldos e biij dinheiros e huma galinha e meo cabrito e alm(ude) de trigo
despadoa e huum sesteiro de mel e pam que laurarem. Esto he rreguengo e nam da
outro foro nem teem carta e darem loytosa.
Item em este
logar de pardelhoo ha outro casal en que mora Domingos Giraldez E a de dar o
quinto do que laurar e de foro quatro soldos e huum capom e huum almude de pam
segundo Esto tem per carta pera ssy e pera sua jeeraçom.
Item Este
Domingos Giraldez trage outra erdade que chamam das Chaãs e do Caualo pera ssy
e pera suas pessoas e a de dar a vj parte e meo foro de pardelhoo.
Item ha hy huum casal
que chamam do Cartelão e a de dar tantos foros...».
Na procura pela lista original para a consultar, e
dela extrair o que fosse de interesse para Pardilhó e demais freguesias da
região, fomos encontrar no ANTT um volume com letra praticamente ilegível e que
mal se vê, mas que se percebe ser da época em que foi abadessa D. Guiomar
Mendes de Vasconcelos[4],
pelo que poderá ser a fonte utilizada por Miguel de OLIVEIRA. Noutro volume
igualmente não datável, mas em que a abadessa se chamava Isabel, lê-se «aldea de Pardelho»[5],
na Terra de Antuã.
O lugar das Chãs e do Cavalo, na lista acima, fica
para nascente das Teixugueiras. Em 1709 aparece mencionada a Ribeira das Chans,
sita em Pardilhó[6].
De um litígio ocorrido entre o Mosteiro de Arouca e
Pedro Afonso, filho de Afonso Denis de Pardelho (sic), a respeito de um casal
de Estarreja, deu-se sentença em 23 de Dezembro de 1455[7].
Atento o Numeramento
de 1527, tinha a «Aldea de Pardelho e sua juradia» 20 vizinhos[8].
Tem-se contado que em 1638 iniciou-se a construção da
primeira igreja de Pardilhó[9].
Porém há notícia da «Freguezia de
Pardilhó e Bunheiro», num Tombo dos Votos da Feira do século XVI[10],
o que leva a crer ter sido anterior a instituição da paróquia. Nesse texto, onde
o nome da povoação por vezes se escreve Pardelho,
só nela existem os lugares de Pardelho, Fonte e Teixugueiras. Este último, pela
frequência e quase exclusividade com que consta nos registos mais antigos,
deverá ter sido um dos primeiros e mais importantes lugares de Pardilhó a serem
habitados. Com ele o do Telhadouro, que está logo no documento acima aludido de
1346-1357[11].
[1] Actual “O Concelho de Estarreja”.
[2] “O Povo de Pardilhó”, n.º 613, 7.1.1939, p. 1 (carta integrada na secção do jornal “Subsídios para a História de Pardilhó”, art. n.º 110, do Pe. Ismael Matos).
[3] O mesmo excerto da lista foi por nós novamente publicado, segundo a cópia de Miguel de OLIVEIRA, em “O Concelho de Estarreja”, n.º 4174, 21.1.2007, p. 4.
[4] ANTT, Mosteiro de Arouca, vol. 219.
[5] ANTT, Mosteiro de Arouca, vol. 10, fl. 43.
[6] AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 281v.
[7] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 25.
[8] “Arquivo Histórico Português”, vol. VI, 1908, pp. 275.
[9] Gonçalo António TAVARES DE SOUZA, “Exame da questão sobre os foros do convento de Arouca…”, p. 11; e no mesmo sentido Miguel de OLIVEIRA (“Ovar na Idade Média”, p. 189) e outros autores.
[10] ADP, Cabido, vol. 788, fl. 160 (cópia de 1781); ref. em “Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto”. 2.ª Série, vol. 5/6, 1987/8, p. 28.
[11] Encontra-se também uma menção não datada mas do final do séc. XVI, escrito «Chão do Talhadouro» (AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 277).
In A Terra Marinhoa na Idade Média, Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp.48-50
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