domingo, 5 de maio de 2013

Igreja de S. Martinho de Salreu (1076; 1673)


Desconhece-se a origem da igreja de Salreu, dedicada desde remotas eras a S. Martinho de Tours (festa litúrgica a 11 de Novembro), mas sabe-se que já existia em 1076[1]. A freguesia chamava-se então de «Sarleo», e deve ter origem na junção de várias propriedades rurais. O templo anterior ao actual, que supomos o primitivo, localizava-se ao fundo da rua de S. Martinho, no sítio denominado Adro-Velho, conforme o comprovam vários testemunhos[2] (ainda se encontraram ossadas em meados do séc. XX). Envolviam a igreja os terrenos do Passal, topónimo que persiste.


Como o edifício se encontrava em mau estado e havia décadas que se planeava a construção de um nova, preocupação que os visitadores da diocese de Coimbra não deixaram de registar, edificou-se o actual. A construção teve início entre 1663 e 1668[3], sendo a presumível inauguração em 1673, a avaliar pela pedra por cima da porta principal e pela alusão à mesma data na Memória Paroquial de 1721, que caracteriza a igreja de sumptuosa e menciona ter sido construída pelo povo sem ajuda. No entanto o templo ainda não se encontraria completo nesse ano. Com efeito a capela mór, cuja edificação e conservação cabia ao prior[4], estava por construir em 1673[5]. No terramoto de 1755 caíram duas cruzes da igreja, mas não houve nenhum estrago registável[6].


Na Memória Paroquial de 1721 apontam-se quatro altares, além do de São Martinho na capela mór: N. S. Rosário, Senhor dos Passos, Almas, e Espírito Santo. Em 1758 registam-se diferenças, pois encontram-se o Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário, Espírito Santo, e Santo Cristo, acrescendo a existência das irmandades dos Passos e das Almas.



As qualidades arquitectónicas do edifício viriam a ser notadas, pelos autores das enciclopédias geográficas do séc. XIX, que escreveram tratar-se de uma «grande egreja de naves», bons ou óptimos passais, e boa casa de residência paroquial.

Cerca de 1878 a igreja de Salreu foi alvo de um grande restauro[7] com diversas alterações, entre as quais Paulo Dórdio inclui: a alteração da fachada, abertura de novas janelas, ampliação da capela-mor, alteamento da torre, construção de anexos e aplicação de estuques.

Em 1990 estavam concluídas novas obras de vulto que mudaram o aspecto do templo, sob a direcção do Arq. Cravo, de Aveiro[8]. Sabe-se pela mesma fonte ter-se vendido anos antes o fundo da Capela-mor, para a igreja de S. Domingos de Lisboa.


Do ponto de vista artístico o edifício destaca-se pela sua divisão interna em três naves, separadas por arcadas de cinco arcos por fiada. Segue o estilo barroco, com talha de madeira dourada nos altares e tectos em abóbadas de berço. Cantarias, colunas e arcos possuem pedra de Ançã, e a fachada principal está revestida a azulejo[9].



BIBLIOGRAFIA:
ANTT, Memórias paroquiais, vol. 33, nº 28, pp. 181 a 184 (Memória Paroquial de 1758, também publicada em O Jornal de Estarreja, n.º 2931, 25.8.1954, p. 1)
AUC, Informações Paroquiais de 1721, Salreu (Memória Paroquial de 1721, também publicada em O Jornal de Estarreja, n.º 3217, 25.7.1966, p. 3)
Arquivo da Universidade de Coimbra, “Livro Preto da Sé de Coimbra”, vol. 1, 1977, pp. 150-151 (doc. 103)
AZEVEDO, Rui de, e Avelino Jesus da Costa, “Documentos Medievais Portugueses”, vol. 3 – Docs. Particulares, 1940, pp. 179-180 (doc. 208)
COSTA, Eduardo, “O Terramoto de 1755 no Distrito de Aveiro”, Arquivo do Distrito de Aveiro (separata), XXII, 1956, p. 72
FIGUEIRA, Pe. Manuel Marques, “Salreu e o seu Povo”, n.º 1, Nov. 1973; n.º 2, Nov. 1974 (folhetos)
GASPAR, João Gonçalves, “A diocese de Aveiro no século XVIII”, Aveiro, 1974, pp. 156-157
GASPAR, João Gonçalves, “A igreja e a arte – de Roma, pela Europa, até Aveiro”, 1984, p. 110
GONÇALVES, A. Nogueira, “Inventário artístico de Portugal. Distrito de Aveiro – zona norte”, X, 1981, pp. 29-31
OLIVEIRA, Miguel de, “Passais da Igreja de Salreu no ano de 1076”, Arquivo do Distrito de Aveiro, II, pp. 129-130
PEREIRA, Camacho (org.), “Estarreja” (mapa turístico), Edição ROTEP, 1954
PEREIRA, Esteves, e Guilherme Rodrigues, “Portugal”, vol. 6, 1912, p. 506
PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de, “Portugal Antigo e Moderno”, vol. 8, 1878, p. 46
O Jornal de Estarreja
, n.º 2237, 15.3.1931, p. 2; n.º 3692, 30.4.1990, p. 1
DORDIO, Paulo, “Igreja Paroquial de São Martinho Bispo”, 1997, in Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) – http://www.monumentos.pt/ [consultado em: 11.12.2005; 10.9.2007; 30.4.2009]


[1] Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra, primeiro publicado por Miguel de Oliveira no “Arquivo do Distrito de Aveiro”, e nos “Documentos Medievais Portugueses”.
[2] Da população local e mesmo no “Inventário Artístico de Portugal”, p. 29.
[3] Pe. Manuel Figueira, “Salreu e o seu Povo”, n.º 1, Nov. 1973; n.º 2, Nov. 1974; com ref. a visitações de 1637, 1663, 1667, 1668, 1669, 1673, 1674, 1677 e 1689.
[4] Mons. Gaspar, em “A diocese de Aveiro no séc. XVIII”, p. 156, transcrevendo o inquérito diocesano de 1775.
[5] Pe. Manuel Figueira.
[6] Eduardo Costa, p. 72.
[7] Testemunham-no Pinho Leal, seguido pela enciclopédia “Portugal”, e confirmado pelo “Inventário Artístico de Portugal”, p. 29.
[8] O Jornal de Estarreja, n.º 3692, 30.4.1990, p. 1.
[9] Mais completa descrição artística em A. Nogueira Gonçalves, João Gonçalves Gaspar, e Paulo Dórdio.

In Salreu - Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 6-9

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