Embora a sede da freguesia de Beduído esteja situada no lugar de Santiago, junto da actual igreja paroquial, o seu nome provém do lugar que fica no extremo norte da fronteira com Avanca. Isto porque a igreja de Santiago de Beduído se localizava na sua origem no lugar de Beduído, de onde veio o nome à paróquia e mais tarde à freguesia civil. No entanto este lugar não lhe pertenceu sempre na totalidade, pois era meeiro às paróquias de Beduído e Avanca, por cujas reitorias se repartiam os direitos e deveres dos paroquianos.
No ano de 1826 ocorreu um litígio entre o Reitor de Avanca e o Reitor de Beduído, que disputavam a autoridade sobre o lugar de Beduído, do que se conserva o testemunho escrito da demanda em papel, no Arquivo Distrital do Porto. Aí constam os autos sob código de referência PT/ADPRT/DIO/MITRA/0202, e com a localização física K/26/6/4 – 193.202.
Conforme ali se lê, o Reitor de Avanca de 1826 alegava que «existe hum Lugar chamado Bêdoido, que desde tempos antiquissimos, que excede a memoria dos viventes, he meeiro a huma e outra Freguezia, pelo que os Enterramentos dos defuntos do dito Lugar, e Officios do Costume por suas Almas, posto que sejão feitos sempre na Igreja de S. Thiago de Bedoido, a elles assistem tantos Padres de huma como de outra Freguezia, o que he conforme a Direito, e justiça por que todos ajudão e servem na Cura e administraçção dos Sacramentos do sobredito Lugar, e assim se observa desde o dito tempo immemorial». Sic, conforme a grafia da época. Mais se acrescentava haver pessoas do lugar de Beduído com vida social em Avanca, e que a administração repartida do lugar ao longo do ano mudava de mãos no S. João e no Natal, cabendo a Avanca a segunda metade do ano.
Segundo se colhe dos mesmos papeis, já em 1679 os reitores de ambas as paróquias haviam tido outra contenda, pelas horas dos defuntos do dito lugar. Alega-se em favor da causa de Santiago que os limites de Beduido vêm-se bem pela demarcação da Comenda de S. Tiago de Beduido, feita em 1605, desde cuja demarcação cessaram os meios dízimos que o lugar pagava a Santa Marinha de Avanca, ficando todos pertencendo a Santiago de Beduido.
Confessava o Reitor de Avanca de 1826 que os enterros e ofícios eram sempre em Santiago de Beduído, e que os habitantes do lugar eram todos baptizados, casados e enterrados nesta igreja, onde também se faziam os ofícios do costume por suas almas. Além disso tinham vida social na igreja de Santiago de Beduído. Só os preceitos da quaresma e as missas dos dias santos se faziam um ano em cada igreja, o mesmo se passando nos seis meses de administração repartida. Quanto ao folar era um ano para cada uma, segundo o costume de Santiago de Beduido, e os rendimentos monetários dos funerais repartiam-se sempre a meias, embora com algumas parcelas só para Santiago de Beduído. Eram estas as alegações do Reitor de Beduído, que pretendia a união do lugar à sua paróquia.
Parece que ainda não ficou resolvida em 1826 a soberania exclusiva de Santiago de Beduído sobre o lugar com o mesmo nome, e após a criação das freguesias civis anos depois (que então ainda não existiam), estendeu-se ao civil o problema que era até então apenas eclesiástico. É pelo menos o que se pode deduzir de duas actas da Junta de Freguesia de Avanca, datadas de 12 e 18 de Dezembro de 1873, referidas no livro “Avanca e os seus autarcas até à implantação da República (1836-1910)”, de Delfim Bismarck Ferreira e Telma Correia, edição da Junta de Freguesia de Avanca, em 2010, pág. 99. Referem-se essas duas actas de 1873 a um despacho enviado ao Rei em 15 de Outubro de 1873, relativo ao lugar de Beduído, comum às freguesias de Avanca e Beduído.
Ecos da Ria, n.º 614, Maio de 2011, pp. 1-2
Sou natural do Lugar de Beduído e sempre ouvi os meus pais contarem que no Lugar de Beduído existia a igreja que mais tarde foi deslocada para o local onde atualmente se encontra. Junto a essa igreja havia também uma fonte chamada "A Fonte dos Baptizados", desconhecendo-se o porque desse nome. Ainda hoje suponho haver vestígios dessa fonte, que juntamente com a igreja se ouvem histórias do porquê da mudança de local.
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