sábado, 9 de março de 2013

Centenário da Feira dos 9


No início do século XX o centro de Pardilhó era um espaço acanhado, e não o vasto largo que hoje conhecemos. Já então ali se fazia um pequeno mercado diário e maior ao domingo, onde se vendiam bens diversos, principalmente peixe. Havia ainda uma rápida feira de porcos aos domingos de manhã, clandestina, após a primeira missa.

No triângulo de cima, próximo do coreto actual, existia um celeiro e uma capela com a invocação de Santo António. O celeiro pertencera em tempos ao Mosteiro de Arouca, e era um dos locais onde os nossos antepassados depositavam os foros, isto é, parte do que produziam na agricultura, para pagar senhor da terra que era o dito Mosteiro. A partir de meados do século XIX este celeiro deixou de ter préstimo, pois a implantação definitiva da Monarquia Liberal, com a vitória do rei D. Pedro sobre D. Miguel, extinguiu diversos antigos privilégios, como os que o Mosteiro de Arouca possuía nas terras de Antuã. Com o rodar dos anos, o celeiro do centro de Pardilhó entrou em degradação, até que acabou por ser demolido em 1906. Surgiu então a ideia de criar uma feira de gado no terreno deixado livre e no envolvente, espaço que foi terraplanado nessa altura. A capela de Santo António só foi demolida em 1926, o que ocasionou alguma polémica na freguesia.

Também no centro de Pardilhó, mas na parte de baixo (triângulo do cruzeiro) esteve instalado o cemitério da freguesia, de onde em 1938 a Junta de Freguesia removeu as ossadas existentes para o actual, que tinha sido inaugurado incompleto em 1933. Após a remoção das ossadas, o terreno do antigo cemitério foi terraplanado, deixando livre um espaço central.

Foi neste contexto que nasceu a “Feira dos 9”, no centro de Pardilhó. Aproveitando o terreno deixado livre pela demolição do celeiro em 1906, e ainda acanhada por entre a capela de Santo António e o cemitério, que haviam de durar por alguns anos, respectivamente até 1926 e 1938.

Por iniciativa da Junta de Freguesia de Pardilhó, realizou-se pela primeira vez em 9 de Abril de 1911 uma feira de gado, que começou por ser frequentada pelas pessoas das freguesias vizinhas. Ali se vendia principalmente gado bovino, além de suíno e algumas mercadorias, como as fazendas. A experiência da nova feira correu bem e esta cresceu, ficando conhecida por “Feira dos 9”, por ser o dia do mês em que se realizava.

Na sequência de alguma instabilidade política existente, nos primeiros tempos após a revolução do 28 de Maio de 1926, Pardilhó pertenceu durante ano e meio ao concelho de Ovar. Foi a Câmara Municipal de Ovar que, a pedido da Junta de Freguesia de Pardilhó, decidiu que a “Feira dos 9” passasse a realizar-se duas vezes por mês, nos dias 9 e 23. Assim, houve pela primeira vez “Feira dos 23” no dia 23 de Março de 1927. Todavia a feira no dia 23 sempre foi mais pequena que a do dia 9.

Ambas decorriam durante o período da manhã, e quando calhassem ao domingo passavam para o sábado. Estas feiras geravam bom lastro para equilibrar os cofres da Junta de Freguesia.

 
No dia 23 de Junho de 1970 a “Feira dos 9 e dos 23” realizou-se pela primeira vez na Quinta do Rezende, tomada de arrendamento pela Junta de Freguesia à Misericórdia de Estarreja. Ficou assim desocupado o largo da igreja, que pouco depois teve algumas obras. A feira deixou de se fazer na década de 1980, devido a um surto de peripneumonia no gado.

Como no passado dia 9 de Abril de 2011 se completaram exactamente 100 anos da primeira “Feira dos 9”, lembrei-me de a evocar neste artigo, esperando que possa interessar a alguns conterrâneos e reavive memórias de quem a conheceu.


O Concelho de Estarreja, n.º 4225, 19.4.2011, p. 4.

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