Por razões obvias conhecemos melhor a realidade
histórica de Pardilhó do que a das restantes freguesias, pelo que isso se
reflecte num maior cuidado na exposição. É de notar para além das notas que
surgem ao longo do texto outras duas referências bibliográficas que poderão
servir para aprofundar o estudo: alguns dos artigos sob o título “Subsídios
para a história de Pardilhó”, do Pe. Ismael Matos, mencionam escolas e
professores antigos; e “O avivar de uma memória” do Pe. A. Tavares Martins
poderá ter algum interesse.
Em 1867 lamentava-se a Junta de Freguesia da falta
de mais casas para escolas e habitação dos professores (1), situação que
persistiu por muito tempo visto que o presidente da Junta em 1918 escreveu ao
administrador do concelho, queixando-se do ensino na freguesia e pedindo a
construção de edifícios escolares. Para uma população em idade escolar de 420
rapazes e 454 raparigas havia apenas duas escolas em acanhados edifícios, uma
masculina com três professores e outra feminina com duas professoras (2).
Nestas duas escolas oficiais leccionavam Amélia Tavares Afonso e Cunha e Maria
Luciana Tavares Afonso e Cunha (na feminina), além de José Maria da Silva
Godinho e Ana Emília Ruela de Almeida Ramos (na masculina). Acresce-lhes uma
escola particular não mencionada, que é a de Saavedra Guedes (3).
Chegados a 1927 a situação não havia melhorado
muito, pois nesse ano a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia escreveu
ao Ministro da Instrução Pública pelos mesmos motivos, alegando existirem 650
crianças em idade escolar, das quais apenas 275 frequentavam a escola, para
seis professores oficiais. Até então o Estado ainda não havia construído um
único edifício escolar, estando as escolas instaladas em acanhados edifícios
particulares (4), que não eram mais de dois (5).
ESCOLAS MAIS ANTIGAS. - Antes da inauguração das
duas escolas do Celeiro funcionavam diversas pequenas escolas em diferentes
lugares da freguesia. Nos seus últimos anos o estado de conservação que
revelavam não era o melhor, a ponto de na imprensa local publicar-se que
«começou novo ano lectivo, com as crianças dentro das mesmas salas de vidros
quebrados, de telhados partidos, de soalhos esburacados. Para a ilegalidade ser
mais patente, essas escolas não teem retrete. A retrete é o largo público, as árvores,
os muros.» (6). Anteriores às escolas do Celeiro, as de que há memória
são:
- No
largo da Igreja, onde construiu há poucos anos um prédio o sr. Germano da Silva
Matos. Funcionava a escola que foi masculina e feminina em casa da família
Tavares Afonso e Cunha. Ali leccionaram as irmãs Maria Luciana Tavares Afonso e
Cunha e Amélia Tavares Afonso e Cunha. Mais tarde Manuel Maria de Abreu Freire
Cirne, casado com a segunda (7).
- Na casa da família Ruela Ramos, onde fez a
instrução primária Egas Moniz. Escola masculina onde leccionaram os professores
Godinho, Pitarma e Cirne.
- Na rua Maurício de Almeida. Funcionaram nesta rua
duas diferentes escolas, uma de Luciana Ruela Ramos e outra de José Teixeira
dos Reis.
- Na avenida António Joaquim de Rezende, actual
edifício da Junta de Freguesia e posto dos Correios. Não sabemos que
professores terão ali leccionado.
- No Canedo funcionou durante alguns anos um posto
escolar, criado em 1938 (8).
ESCOLAS DO CELEIRO (2 BLOCOS). - Iniciada a sua construção
em 1945 (9), vieram a ser inaugurados os dois edifícios em 28.4.1948 (10).
Funcionaram aqui na década de 70 turmas do 5.º e 6.º ano.
CANTINA ESCOLAR. - A cantina escolar das escolas do Celeiro,
baptizada com o nome do Dr. Jaime Ferreira da Silva, então recentemente falecido,
construiu-se com recurso a subscrição pública e foi inaugurada a 5.5.1963 (11).
PROFESSORES - Porque existem algumas referências bibliográficas a
uma grande parte dos mais antigos professores de Pardilhó, publicamos uma lista
de alguns nomes chamando atenção para as notas respectivas:
- Pe. José Lopes Ramos, falecido em 1.5.1913 com 69
anos (12).
- João Manuel Saavedra Guedes, falecido em 1919 (13),
que leccionava nas casas onde morou (no largo da igreja e junto à Casa das
Palmeiras).
- José Ruela de Almeida Ramos, falecido em 9.8.1920 (14).
- José Maria Godinho (15).
- José Teixeira dos Reis, falecido em 1963 com 63
anos (16).
- António Ferreira Pitarma (1899-1968), que foi
Delegado Escolar do concelho por largos anos e também se dedicou à música e ao teatro
(17).
- Luciana Ruela Ramos, falecida em 1970 (18).
De referir, finalmente, os nomes por que eram
conhecidas as mestras de muitos vivos e que ficaram na memória colectiva: do
Outeiro, do Corgo e Rilhas
_______________
(1). Arquivo da Junta de Freguesia, papel avulso s/c
(2). Arquivo da Junta de Freguesia, papel avulso s/c
(3). CE, n.º 824, 11.8.1917, p. 2
(4). Arquivo da Junta de Freguesia, papel avulso s/c
(5). JE, n.º 2005, 1.8.1926, p. 2
(6). CE, n.º 2148, 16.10.1943, p. 1
(7). Manuel Maria de Abreu Freire Cirne, com 31 anos,
das Teixugueiras e leccionando então no Bunheiro, casou-se em 23.3.1915 com
Amélia Tavares Afonso e Cunha, com 28 anos, do Celeiro
(8). JE, n.º 2531, 1.11.1938, p. 2
(9). CE, n.º 2239, 28.7.1945, p. 1
(10). CE, n.º 2378, 24.4.1948, p. 1; CE, n.º 2379,
1.5.1948, p. 1; a Carta Educativa tem apenas a data da nova Escola Básica
Integrada (p. 109).
(11). JE, n.º 3140, 10.5.1963, pp. 1-2; CE, n.º 3120,
11.5.1963, p. 1; CE, n.º 3136, 7.9.1963, p. 1
(12). CE, n.º 603, 3.5.1913, p. 2; CE, n.º 604,
10.5.1913, p. 1 (Egas Moniz escreve em memória do seu primeiro mestre); ver
ainda a autobiografia de Egas Moniz, “A Nossa Casa”
(13). CE, n.º 915, 26.6.1919, pp. 1-3, e n.ºs ss.
(14). CE, n.º 731, 16.10.1915, p. 1; CE, n.º 960, 14.8.1920, pp. 1 e 2; CE, n.º
963, 4.9.1920, p. 1
(15). CE, n.º 3121, 18.5.1961, p. 1
(16). CE, n.º
3127, 29.6.1963, p. 4; CE, n.º 3128, 6.7.1963, p. 1 (com foto)
(17). CE, n.º 2969, 9.4.1960, p. 2;
CE, n.º 3357, 27.4.1968, pp. 1 e 6
(18). CE, n.º 3481, 5.12.1970, p. 6
In "História do ensino primário no concelho de Estarreja", Terras de Antuã, Câmara Municipal de Estarreja, I, 2007, pp. 185-187
Sem comentários:
Enviar um comentário