No contexto da Ria de Aveiro a Terra Marinhoa foi a primeira
a formar-se, por aluvião. Com a deposição de areias pelo mar, formando
progressivamente o cordão litoral, a Ria deixou de comunicar com o mar no séc.
XVII. Nos documentos históricos os contornos da região só se começam a
compreender-se com rigor nos pitorescos mapas do fim do séc. XVIII,
relacionados com a abertura da barra artificial, que só viria a ocorrer em
1808. Ria de Aveiro é pois uma expressão imprópria aplicada a uma laguna, um
braço de mar que sofre o efeito das marés e possui água salobra, com pequenos
tentáculos ou canais navegáveis que serpenteiam pelas terras circundantes, as
ribeiras. Entre os peixes de maior valor gastronómico encontram-se aqui a
enguia (antigamente pescada ao candeio com uma fisga, de noite), o sável e a
lampreia. Ocasionalmente entram golfinhos na laguna. E estacionam por estas
paragens mais de 150 espécies de aves, do que são exemplo a cegonha, garças,
águia-sapeira, guarda-rios e flamingos.
Toda a economia tradicional depende da Ria de Aveiro, que
funcionava antigamente como primeira via de comunicação ou auto-estrada
natural. A pesca e a apanha do moliço (para fertilização do solo, que produz
sobretudo milho) foram as principais actividades de outros tempos, tendo
possuído grande tradição a construção naval, particularmente em Pardilhó. Embarcações
típicas da região são os moliceiros (o ex-libris
regional), mercantéis, bateiras e barcos de mar. Por aqui se construíram também
varinos e fragatas destinados ao rio Tejo, bem como lugres para a pesca do
bacalhau. Amorim Girão definiu esta gente anfíbia, por analogia ao que escreveu
Platão sobre o Mediterrâneo, como um agrupamento humano «assim como rãs em volta de um pântano». Assim é. Em tudo dependem
da Ria, que lhes deu o viver e, quando o não deu, os forçou a abandonar a sua
característica casa de alpendre e
migrar.
In
“Ribeiras de
Pardilhó” [folheto turístico desdobrável], Junta de Freguesia de Pardilhó/Ventos da Ria, Junho de 2016;
“Ribeira de Mourão” [folheto turístico
desdobrável], Junta de Freguesia de Avanca/Ventos da Ria, Junho de 2016.
Sem comentários:
Enviar um comentário