domingo, 22 de novembro de 2015

A primeira referência escrita a Salreu (1076/1106)

A actual freguesia de Salreu tem o seu nome pela primeira vez escrito num documento que lhe é exclusivamente dedicado. Na verdade são dois documentos, mais ou menos similares no seu conteúdo, mas com datas diferentes: uma inscrição no Livro Preto da Sé de Coimbra (1076)[1], e um pergaminho autónomo do Cabido da Sé de Coimbra (1106)[2]. Um será a cópia do outro, não sendo claro qual deles possui a data correcta, como aliás já concluiu um investigador local[3].

Aparte da polémica da data, com uma significativa diferença de 30 anos, existe um contexto de época do nosso país que é preciso notar. O fim do século X ficou marcado pela destruição causada por Almançor e consequente recuo temporário da fronteira cristã, o que no início do século XI facilitou o começo de arbitrariedades de seculares nos bens das igrejas[4]. Durante o século X e principalmente no século XI produziram-se diversos documentos, que constituem as primeiras referências escritas a algumas das actuais freguesias e lugares do concelho de Estarreja e terras vizinhas. A fronteira cristã foi-se dilatando e a reconquista definitiva de Coimbra ocorreu em 1064. Para trás ficavam as terras recém-reconquistadas aos muçulmanos, boa parte das quais nas mãos de presores, que em muitos casos as transmitiram hereditariamente aos seus sucessores. Entre os protagonistas cristãos da Reconquista corria ainda o sangue e a memória da ascendência goda, proveniente dos antigos reinos Visigodo e Suevo. É pois sem surpresa que sejam frequentemente de origem germânica os nomes de pessoas documentados deste período.

No caso em análise quatro herdadores da villa de Sarleu devolveram à igreja local, dedicada a S. Martinho, os passais que até então possuíram. Levantam-se aqui várias questões, às quais importa dar alguma atenção. Primeiro notar que herdadores são proprietários rurais, cuja posse da terra foi obtida por herança. Em segundo lugar a restituição dos passais pelo grupo sugere que sejam também os padroeiros da igreja, sendo este padroado obtido por sucessão hereditária. Em terceiro, o nome da localidade que é Sarleu e não Salreu. Enfim os nomes de origem germânica dos herdadores (Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares), que são apenas quatro e destes só três partilhando o mesmo patronímico (Soares = filhos de Soeiro), talvez todos netos dalgum presor que obteve a aquisição originária das terras que eles agora possuíam.

Parte destas questões merece uma resposta autónoma, atento o seu particularismo medieval, que ajude a compreender em toda a sua dimensão o conteúdo do documento, com a mais antiga referência escrita a Salreu. É o que se passa com o topónimo, primitivamente grafado Sarleu, e com a noção do que são passais, herdadores, e herdeiros/naturais/padroeiros. Aproveitamos a oportunidade de se tratar de passais para referir brevemente os passais das restantes freguesias de Estarreja e Murtosa.

TOPÓNIMO SALREU

A generalidade das primeiras menções escritas a Salreu, lugar e freguesia do actual concelho de Estarreja, registam o topónimo como Sarleu (passais em 1076/1106, rol de igrejas em 1220-1238, doação do couto de Antuã em 1257, aforamento e Inquirições em 1284, referência à paróquia em 1279), com excepção para as Inquirições de 1220[5].

É fantasiosa a etimologia francamente divulgada do Sal-a-Reu, proposta por Rocha e Cunha[6]. J. M. Piel defendeu tratar-se Salreu de um antropónimo de origem germânica, de *Sala-redu(s)[7], que no genitivo daria *Salaredi, no que concordou José Pedro Machado[8]. Contudo a explicação peca por não atentar à primitiva forma escrita do topónimo, trocando o R e o L, para o que apontou A. de Almeida Fernandes. Este autor manteve a teoria da origem germânica, porém filiando-a em sarwa «armas» + lews «paz»[9].

Neste entendimento, aliás linguisticamente bem fundamentado, Salreu terá sido no início o nome (de origem germânica) de um possessor rural, da época do domínio godo ou da Reconquista, tornado topónimo quando aplicado às suas terras, no genitivo, com o sentido de posse. O nome dessa propriedade rural, ou villa, sobrepôs-se às vizinhas, seja pela sua maior importância ou por nela se situar a igreja da região.

PASSAIS

Passal é a designação atribuída a uma parcela de terreno, em redor de todas as igrejas paroquiais, cuja existência em Portugal está documentada desde o fim do século IX e terminou com a Primeira República, que confiscou estes terrenos à Igreja. Um primeiro raio de 12 passos em torno da igreja correspondia ao adro actual, com cemitério. Do limite deste círculo media-se um segundo raio, de 72 passos, para terrenos de cultivo destinados ao sustento dos párocos e do culto. Constituíam-se pois de 84 passos de raio os passaes, ou dextros como também se chamaram primitivamente, gozando este espaço da imunidade eclesiástica.

«O nome dextri, adjectivo qualificativo de passus, indica que os passos se contavam com o pé direito e que se tratava de passos romanos ou duplos, equivalentes a dois passos simples. O passo romano continha cinco pés ou cinco pés e meio, de 28 centímetros cada pé. No sistema métrico decimal, cada passus dextros media 1,40 a 1,54 metros, podendo arredondar-se para metro e meio. Assim, os 84 passos davam uma circunferência de uns 126 m. de raio, e, portanto, uma superfície de uns 19.960 m2, quase dois hectares.

Embora os documentos dêem a entender que o círculo de 12 passos e o de 72 formavam um todo de 84 passos de raio, é natural que, muitas vezes, o terreno equivalente aos 72 passos ficasse a certa distância, em terras equivalentes em extensão e qualidade às abrangidas pelos 72 passos de raio»[10].

PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA

Na sequência da Lei da Separação do Estado das Igrejas (1911) procedeu-se ao inventário dos bens cultuais em todas as freguesias. Os passais acabariam confiscados pelo Estado, podendo os terrenos ser utilizados para fins de interesse público, arrendados ou alienados, revertendo para a Fazenda Nacional os lucros que pudessem proporcionar. O fim da posse eclesiástica deixou rasto escrito, consultável no Arquivo Corrente do Ministério das Finanças, e também online[11]. Registam-se apenas algumas referências respeitantes aos passais das freguesias de Estarreja e Murtosa:

1) Avanca – Notícia de 1891 localiza o passal (remanescente) junto à Residência Paroquial, confrontando com o Norte do adro da igreja[12]. Após o inventário de 1911[13], o Ministério das Finanças procedeu à venda da Residência e passal, por arrematação pública que teve lugar em Lisboa em 15 de Dezembro de 1919[14]. O passal voltou mais tarde a ser alienado pela Nestlé[15].

2) Beduído – No inventário de 1911 consta que a igreja de Beduído confrontava com o passal a Norte, Este e Oeste, e com o cemitério a Sul[16]. A rua que fica a Norte da igreja tem hoje a designação de Rua do Passal.

3) Canelas – O passal de Canelas acabou incorporado na Fazenda Nacional em 1924/1925[17].

4) Fermelã – Inclui-se no inventário de 1911 o passal de Fermelã[18].

5) Pardilhó – Situava-se o passal, ou o que dele restava, pouco a Norte da antiga igreja, no lugar do Agro, como ficou registado no inventário de 1911[19] e em notícia de 1918[20].

6) Salreu – Conhecem-se sucessivas notícias do passal, datadas de 1911, 1920-1924 e 1958[21]. O topónimo ainda é utilizado, no fundo da Rua de S. Martinho, zona da antiga igreja[22].

7) Veiros – Alude-se ao passal de Veiros em 1923[23].

8) Bunheiro – Encontra-se o passal no inventário de 1911 e em documentos de 1917 e 1924-1939[24].

9) Monte – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1932.

10) Murtosa – O passal da Murtosa está documentado em 1911, 1914, 1923 e 1944-1946[25].

11) Pardelhas – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1939.

12) Torreira – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1928.

Enfim uma notícia de 1912 alude ao arrendamento dos passais de Beduído, Pardilhó, Murtosa e Salreu, estando então por arrematar Fermelã e Bunheiro[26].

HERDADORES

Os vilãos herdadores aparecem nos séculos XIII e XIV, não nobres mas descendentes dos presores da Reconquista e de pequenos proprietários moçárabes, dos quais teriam herdado os alódios, ou seja, eram possuidores livres de terras. Podiam no entanto ter de pagar géneros e prestar serviços pessoais ao rei. Uns exploravam directamente as suas terras, outros cediam-nas à exploração. Também se podiam chamar herdadores aqueles que detinham o domínio útil sobre uma parcela de terra, aforada com prazo perpétuo, transmitindo-se por isso hereditária e perpetuamente o seu direito. Em qualquer caso trata-se de pequenos proprietários, tendo origem entre os mais ricos destes os cavaleiros-vilãos. Distinguem-se dos vilãos reguengueiros, que eram simples arrendatários dos reguengos (terras régias). Com herdador relaciona-se herdade (hereditas), com o significado de bem de raiz nos séculos IX a XV, o mesmo que casal, quinta, herdamento, prédio rústico, granja, propriedade e aldeia.

HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS

Durante o século XI e princípio do século XII as igrejas eram geralmente património de leigos, descendentes dos respectivos fundadores ou dotadores. Estes descendentes tomavam a designação de herdeiros, naturais ou padroeiros[27]. Como bem patrimonial que eram, as igrejas transmitiam-se hereditariamente e podiam ser alienadas, sem intervenção da jurisdição eclesiástica[28]. Os abusos dos herdeiros sobre o património eclesiástico motivaram freio régio, a partir de 1261[29].

BIBLIOGRAFIA

1. FONTES 

ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36) – A.D. 1076

ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31 – A.D. 1106

Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos Particulares, AD 1101-1115, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1940, doc. n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31)

Livro Preto: Cartulário da Sé de Coimbra. Apres., introd., not. e bibliog. Manuel Augusto Rodrigues; pref. critérios transcrição e aparatos críticos Avelino de Jesus da Costa. Ed. crítica. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, 1999

Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc. n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)

 “Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, ed. Miguel de Oliveira, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra; transcrição e tradução) 

2. ESTUDOS 

LOPES PEREIRA – “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273

PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6

OLIVEIRA, Miguel de – “Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130

VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327 (Igreja) 

2.1. TOPÓNIMO SALREU 

DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III – Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 563

FERNANDES, A. de Almeida – “Toponímia”, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, XXXII, p. 72

FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Portuguesa (Exame a um Dicionário), Arouca Associação para a Defesa da Cultura Arouquense 1999, p. 529

MACHADO, José Pedro, Diccionário Onomástico Etimológico de Língua Portuguesa, 2.ª ed., 1993, p. 1299 (Salreu)

PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6

PEREIRA, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã, VIII, 2014, pp. 157-194

PIEL, J. M. – Os nomes germânicos na toponímia portuguesa, separata do Boletim de Filologia, tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258 

2.2. PASSAIS 

COSTA, Américo – Diccionario chorographico de Portugal continental e insular, Livr. Civilização, vol. II, 1930, p. 456 (Angeja)

COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343

FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Arouquense, Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1995 (Passal)

FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia do concelho de S. João da Pesqueira, Arouca, Associação da Defesa do Património Arouquense, 2003, p. 159 (Passal)

OLIVEIRA, Miguel de – As paróquias rurais portuguesas: sua origem e fundação, União Gráfica, 1950, pp. 101-102

VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 193 (Dextros), 467-468 (Passaes), 468 (Passal) 

2.3. PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA 

BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação da República, 1836-1910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142

CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas e capelas das paróquias dos concelhos de Estarreja e Murtosa – Parte I”, Terras de Antuã, IV, 2010, pp. 55-100

CARDOSO, Carlos – Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, Câmara Municipal de Estarreja, 2000 (1.ª ed. de 1961), p. 55

A Notícia, n.º 11, 12.10.1919, p. 2

PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37

PEREIRA, Marco – História do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó, Centro Paroquial de Assistência da Freguesia de Pardilhó, 2012, p. 23

O Povo da Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1

A Voz de Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1 

2.4. HERDADORES 

ALMEIDA, Fortunato de – História de Portugal, 1.ª ed., I, Coimbra, Imprensa Académica, 1899, p. 389

OLIVEIRA, Miguel de – “Inquirições de D. Afonso III na Terra de Santa Maria”, Lusitânia Sacra, Tomo VII, 1964/66, p. 98

OLIVEIRA MARQUES, A. H. de – “Herdadores”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, III, pp. 213-214

SAMPAIO, Alberto – Estudos Históricos e Económicos – As Vilas do Norte de Portugal, Lisboa, Editorial Veja, 1979, pp. 127 e 146

SOUSA, Gonçalo António Tavares de – Exame da questão sobre os foros do Convento de Arouca no Concelho de Estarreja, Porto, Typ. de J. L. de Souza, s/d (c. 1850), p. 9

VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 226 (Erdador), 309-312 (Herdade), 312 (Herdador) 

2.5. HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS 

CASTRO, Armando de – “Padroados”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, p. 511

CASTRO, Armando de – “Padroeiros”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512

COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343

GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III, p. 337

SANTOS, Cândido Augusto Dias dos – O Censual da Mitra do Porto: subsídios para o estudo da diocese nas vésperas do Concílio de Trento, Câmara Municipal do Porto, 1973, p. 100, nota 121

VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 313 (Herdeiros), 320-327 (Igreja), 436-437 (Natural)

ANEXOS

DOC. 1

S. L. ERA 1114 (A.D. 1076), MÊS DE FEVEREIRO

Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares, herdeiros da vila de Salreu, confirmam e restituem o passal que circundava a igreja de S. Martinho daquela villa.

Confirmatjio e integitas passalium de ecclĩa scĩ martini de sárleo .

In dĩ nomine . Nos hereditatores de uilla sarleo . scilic& gundisaluus soariz . et menendus oseuiz . et alius gundisaluus soariz . atque erus suariz . quj usque hodie tenuimus passales de ecclĩa scĩ martini inter nos . modo pac& nobis omnibus prenñatis . ut reintegraremus illam illam (sic) ecclĩam de octuaginta et . IIorII . passibus per omnem circuitum . ut sint semper ad profectum eiusdem ecclĩe . et clĩco ibi commoranti cunctis temporibus . pro remissione nȓorum peccatorum . et pro amore scĩ martini . Si uº ex hinc aliqui ex nobis supªnnatis uoluerimus hos passales ab illa ecclĩa iure abstollȇ . et hoc factȗ infringere . ut pariat . ccc . soldos illo clĩco qui ibi moratus fuĩt . uel qi suã uocem pulsauerit de parte de illo episcopo. et insuper incidat in pristinã excõmunicatjonȇ . Facta reintegratjoĩs carta mense februario . Era . mª . cª . xª . iiiªi . Nos omnes prennatj (sic) hanc cartam coram idoneos testes roborauimus + + + + Gundisaluus diaconus confirmo . Martinus prior confirmo . Fernandus gunsaluiz testis . Frogia abba confirmo . Fernandus ermigiz testis . Jhoannes presbiter confirmo . Gunsaluus gutierriz testis . Dnĩcus presbiter confirmo . Pelagius esarkiz testis . Petrus presbiter confirmo . Jvlianus presbiter Notuit . Menendus archidiaconus confirmo .

Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc. n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)

DOC. 2

1106, FEVEREIRO. – Gonçalo Soares e outros restituem à igreja de S. Martinho de Salreu (c. Estarreja) uma cêrca de oitenta e quatro «passais»

T.T. – Sé de Coimbra, m. II, doc. 31, or. vis. trans.

In Dei nomine. Nos hereditatores de uilla de Sarleo, scilicet Gundisaluus Suariz et Menendus Oseuiz et alius Gundisaluus Suariz atque Erus Suariz qui usque hodie tenuimus passales de ecclesia Sancti Martini inter nos modo placet nobis omnibus prenominatis ut redintegraremus illam ecclesiam de octuaginta et IIII.or passibus per omni circuitu (per omni circuitu entrelinhado) ut sint semper ad profectum eiusdem ecclesie et clerico ibi commoranti cunctis temporibus pro remissione nostrum peccatorum et pro amore Sancti Martini. Si uero ex hinc uni ex nobis prenominati uoluerint hos passales ab illa ecclesia iure abstollere et hoc factum infringere ut pariet trecentos solidos illo clerico qui ibi moratus fuerit uel qui suam uocem pulsauerit de parte de illo episcopo et insuper incidat in pristinam excomunikatjonem. Facta redintegratjonis carta mense Februario Era M.C.X˘.IIII. Nos omnes prenominati hanc cartam coram idoneos testes roboramus + + + +.

Gundisaluus Gutterriz ts., Pelagius Ezrakiz ts. – Fernandus Guaziniz ts., Fernandus Ermigiz ts. – Martinus prior conf., Frogia aba conf., Iohannes presbiter conf., Dominicus presbiter conf. – Petrus presbiter conf., Menendus archidiaconus conf., Gundisaluus diaconus conf.

Iulianus presbiter notuit.

Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos Particulares, AD 1101-1115, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940, doc. n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31)

DOC. 3

TRADUÇÃO

Confirmação e entrega dos passais da igreja de S. Martinho de Sarleo (por Salreu).

Em nome de Deus. Nós, os herdadores da vila de Sarleo, a saber, Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares, e Ero Soares, que até hoje condividimos a posse dos passais da igreja de S. Martinho: apraz-nos agora a todos os sobreditos reintegrarmos essa igreja de 84 passos a toda a volta para que sempre sirvam de logradouro à mesma igreja e ao clérigo nela residente, por todo o tempo, em remissão de nossos pecados e por amor de S. Martinho. Porém, se desde agora alguns de nós acima nomeados quiser subtrair ao direito dessa igreja estes passais e infringir esta resolução, pague 300 soldos ao clérigo que nela morar ou a quem o representar da parte do bispo, e incorra ainda na antiga excomunhão.

Fez-se esta carta de reintegração no mês de Fevereiro de 1114 (ano de 1076). Todos nós acima nomeados confirmamos esta carta perante testemunhas idóneas. Martinho, prior, confirmo; Frógia, abade, confirmo; João, presbítero, confirmo; Onerico, presbítero, confirmo; Pedro, presbítero, confirmo; Mendo, arcediago, confirmo; Gonçalo, diácono, confirmo. Fernando Gonçalves, testemunha; Fernando Ermiges, testemunha; Gonçalo Guterres, testemunha; Pelágio Ezarkiz, testemunha. Julião, presbítero, o notou.

“Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, ed. Miguel de Oliveira, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)
 

1076, FEVEREIRORestituição dos passais de S. Martinho de Salreu.
ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36)



1106, FEVEREIRORestituição dos passais de S. Martinho de Salreu.
ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31




[1] ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36).

[2] ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31.

[3] LOPES PEREIRA, “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273.

[4] VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, p. 324 (Igreja).

[5] PEREIRA, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã, VIII, 2014, pp. 157-194.

[6] DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III – Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 563.

[7] PIEL, J. M. – Os nomes germânicos na toponímia portuguesa, separata do Boletim de Filologia, tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258.

[8] MACHADO, José Pedro, Diccionário Onomástico Etimológico de Língua Portuguesa, 2.ª ed., 1993, p. 1299 (Salreu).

[9] FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Portuguesa (Exame a um Dicionário), Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999, p. 529.

[10] COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343.

[11] Consulte-se, a este respeito: CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas e capelas das paróquias dos concelhos de Estarreja e Murtosa – Parte I”, Terras de Antuã, IV, 2010, pp. 55-100.

[12] BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação da República, 1836-1910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142.

[13] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 57.

[14] A Notícia, n.º 11, 12.10.1919, p. 2; A Voz de Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1.

[15] CARDOSO, Carlos – Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, Câmara Municipal de Estarreja, 2000 (1.ª ed. de 1961), p. 55.

[16] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 60.

[17] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 70.

[18] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 71.

[19] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 74.

[20] PEREIRA, Marco – História do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó, Centro Paroquial de Assistência da Freguesia de Pardilhó, 2012, p. 23.

[21] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 77, 82, 83.

[22] PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37.

[23] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 87 e 97.

[24] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 88, 91 e 92.

[25] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 87, 94, 97 e 98.

[26] O Povo da Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1.

[27] VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram…, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327 (Igreja).

[28] GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III, p. 337.


[29] CASTRO, Armando de – “Padroeiros”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512.



Marco Pereira

In Terras de Antuã, Câmara Municipal de Estarreja, IX, 2015, pp. 157-165.

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