Aparte da polémica da data,
com uma significativa diferença de 30 anos, existe um contexto de época do
nosso país que é preciso notar. O fim do século X ficou marcado pela destruição
causada por Almançor e consequente recuo temporário da fronteira cristã, o que no
início do século XI facilitou o começo de arbitrariedades de seculares nos bens
das igrejas[4]. Durante o século X e
principalmente no século XI produziram-se diversos documentos, que constituem
as primeiras referências escritas a algumas das actuais freguesias e lugares do
concelho de Estarreja e terras vizinhas. A fronteira cristã foi-se dilatando e
a reconquista definitiva de Coimbra ocorreu em 1064. Para trás ficavam as
terras recém-reconquistadas aos muçulmanos, boa parte das quais nas mãos de presores, que em muitos casos as
transmitiram hereditariamente aos seus sucessores. Entre os protagonistas
cristãos da Reconquista corria ainda o sangue e a memória da ascendência goda,
proveniente dos antigos reinos Visigodo e Suevo. É pois sem surpresa que sejam
frequentemente de origem germânica os nomes de pessoas documentados deste
período.
No caso em análise quatro herdadores da villa de Sarleu devolveram
à igreja local, dedicada a S. Martinho, os passais que até então possuíram.
Levantam-se aqui várias questões, às quais importa dar alguma atenção. Primeiro
notar que herdadores são
proprietários rurais, cuja posse da terra foi obtida por herança. Em segundo
lugar a restituição dos passais pelo grupo sugere que sejam também os
padroeiros da igreja, sendo este padroado obtido por sucessão hereditária. Em
terceiro, o nome da localidade que é Sarleu
e não Salreu. Enfim os nomes de
origem germânica dos herdadores
(Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares), que são
apenas quatro e destes só três partilhando o mesmo patronímico (Soares = filhos
de Soeiro), talvez todos netos dalgum presor
que obteve a aquisição originária das terras que eles agora possuíam.
Parte destas questões merece
uma resposta autónoma, atento o seu particularismo medieval, que ajude a
compreender em toda a sua dimensão o conteúdo do documento, com a mais antiga
referência escrita a Salreu. É o que se passa com o topónimo, primitivamente
grafado Sarleu, e com a noção do que
são passais, herdadores, e herdeiros/naturais/padroeiros.
Aproveitamos a oportunidade de se tratar de passais
para referir brevemente os passais das restantes freguesias de Estarreja e
Murtosa.
TOPÓNIMO SALREU
A generalidade das primeiras
menções escritas a Salreu, lugar e freguesia do actual concelho de Estarreja,
registam o topónimo como Sarleu (passais
em 1076/1106, rol de igrejas em 1220-1238, doação do couto de Antuã em 1257,
aforamento e Inquirições em 1284, referência à paróquia em 1279), com excepção
para as Inquirições de 1220[5].
É fantasiosa a etimologia
francamente divulgada do Sal-a-Reu, proposta
por Rocha e Cunha[6]. J. M. Piel defendeu
tratar-se Salreu de um antropónimo de origem germânica, de *Sala-redu(s)[7], que no genitivo
daria *Salaredi, no que concordou
José Pedro Machado[8]. Contudo a explicação peca
por não atentar à primitiva forma escrita do topónimo, trocando o R e o L, para
o que apontou A. de Almeida Fernandes. Este autor manteve a teoria da origem
germânica, porém filiando-a em sarwa
«armas» + lews «paz»[9].
Neste entendimento, aliás
linguisticamente bem fundamentado, Salreu terá sido no início o nome (de origem
germânica) de um possessor rural, da época do domínio godo ou da Reconquista,
tornado topónimo quando aplicado às suas terras, no genitivo, com o sentido de
posse. O nome dessa propriedade rural, ou villa,
sobrepôs-se às vizinhas, seja pela sua maior importância ou por nela se situar
a igreja da região.
PASSAIS
Passal é a designação
atribuída a uma parcela de terreno, em redor de todas as igrejas paroquiais,
cuja existência em Portugal está documentada desde o fim do século IX e
terminou com a Primeira República, que confiscou estes terrenos à Igreja. Um
primeiro raio de 12 passos em torno da igreja correspondia ao adro actual, com
cemitério. Do limite deste círculo media-se um segundo raio, de 72 passos, para
terrenos de cultivo destinados ao sustento dos párocos e do culto. Constituíam-se
pois de 84 passos de raio os passaes,
ou dextros como também se chamaram
primitivamente, gozando este espaço da imunidade eclesiástica.
«O nome dextri, adjectivo qualificativo de passus, indica que os passos
se contavam com o pé direito e que se tratava de passos romanos ou duplos,
equivalentes a dois passos simples. O passo romano continha cinco pés ou cinco
pés e meio, de 28
centímetros cada pé. No sistema métrico decimal, cada
passus dextros media 1,40 a
1,54 metros,
podendo arredondar-se para metro e meio. Assim, os 84 passos davam uma
circunferência de uns 126 m.
de raio, e, portanto, uma superfície de uns 19.960 m2, quase dois
hectares.
Embora os documentos dêem a entender que o círculo de
12 passos e o de 72 formavam um todo de 84 passos de raio, é natural que,
muitas vezes, o terreno equivalente aos 72 passos ficasse a certa distância, em
terras equivalentes em extensão e qualidade às abrangidas pelos 72 passos de
raio»[10].
PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA
Na sequência da Lei da
Separação do Estado das Igrejas (1911) procedeu-se ao inventário dos bens cultuais
em todas as freguesias. Os passais acabariam confiscados pelo Estado, podendo
os terrenos ser utilizados para fins de interesse público, arrendados ou
alienados, revertendo para a Fazenda Nacional os lucros que pudessem
proporcionar. O fim da posse eclesiástica deixou rasto escrito, consultável no
Arquivo Corrente do Ministério das Finanças, e também online[11].
Registam-se apenas algumas referências respeitantes aos passais das freguesias
de Estarreja e Murtosa:
1) Avanca – Notícia de
1891 localiza o passal (remanescente) junto à Residência Paroquial, confrontando
com o Norte do adro da igreja[12].
Após o inventário de 1911[13], o
Ministério das Finanças procedeu à venda da Residência e passal, por
arrematação pública que teve lugar em Lisboa em 15 de Dezembro de 1919[14]. O
passal voltou mais tarde a ser alienado pela Nestlé[15].
2) Beduído – No
inventário de 1911 consta que a igreja de Beduído confrontava com o passal a
Norte, Este e Oeste, e com o cemitério a Sul[16]. A
rua que fica a Norte da igreja tem hoje a designação de Rua do Passal.
3) Canelas – O passal
de Canelas acabou incorporado na Fazenda Nacional em 1924/1925[17].
4) Fermelã – Inclui-se
no inventário de 1911 o passal de Fermelã[18].
5) Pardilhó –
Situava-se o passal, ou o que dele restava, pouco a Norte da antiga igreja, no
lugar do Agro, como ficou registado no inventário de 1911[19] e em
notícia de 1918[20].
6) Salreu –
Conhecem-se sucessivas notícias do passal, datadas de 1911, 1920-1924 e 1958[21]. O
topónimo ainda é utilizado, no fundo da Rua de S. Martinho, zona da antiga
igreja[22].
7) Veiros – Alude-se
ao passal de Veiros em 1923[23].
8) Bunheiro –
Encontra-se o passal no inventário de 1911 e em documentos de 1917 e 1924-1939[24].
9) Monte – Não existiu
passal pois a paróquia só foi criada em 1932.
10) Murtosa – O passal
da Murtosa está documentado em 1911, 1914, 1923 e 1944-1946[25].
11) Pardelhas – Não existiu
passal pois a paróquia só foi criada em 1939.
12) Torreira – Não existiu
passal pois a paróquia só foi criada em 1928.
Enfim uma notícia de 1912
alude ao arrendamento dos passais de Beduído, Pardilhó, Murtosa e Salreu,
estando então por arrematar Fermelã e Bunheiro[26].
HERDADORES
Os vilãos herdadores
aparecem nos séculos XIII e XIV, não nobres mas descendentes dos presores da Reconquista e de pequenos
proprietários moçárabes, dos quais teriam herdado os alódios, ou seja, eram
possuidores livres de terras. Podiam no entanto ter de pagar géneros e prestar
serviços pessoais ao rei. Uns exploravam directamente as suas terras, outros
cediam-nas à exploração. Também se podiam chamar herdadores aqueles que
detinham o domínio útil sobre uma parcela de terra, aforada com prazo perpétuo,
transmitindo-se por isso hereditária e perpetuamente o seu direito. Em qualquer
caso trata-se de pequenos proprietários, tendo origem entre os mais ricos
destes os cavaleiros-vilãos. Distinguem-se
dos vilãos reguengueiros, que eram
simples arrendatários dos reguengos (terras régias). Com herdador relaciona-se
herdade (hereditas), com o
significado de bem de raiz nos séculos IX a XV, o mesmo que casal, quinta,
herdamento, prédio rústico, granja, propriedade e aldeia.
HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS
Durante o século XI e
princípio do século XII as igrejas eram geralmente património de leigos,
descendentes dos respectivos fundadores ou dotadores. Estes descendentes tomavam
a designação de herdeiros, naturais ou padroeiros[27]. Como bem
patrimonial que eram, as igrejas transmitiam-se hereditariamente e podiam ser
alienadas, sem intervenção da jurisdição eclesiástica[28]. Os
abusos dos herdeiros sobre o
património eclesiástico motivaram freio régio, a partir de 1261[29].
BIBLIOGRAFIA
1. FONTES
ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36) – A.D. 1076
ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36) – A.D. 1076
ANTT, Cabido da Sé de
Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31 – A.D. 1106
Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos
Particulares, AD 1101-1115, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1940, doc.
n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares,
1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31)
Livro Preto: Cartulário da Sé de Coimbra. Apres., introd., not. e bibliog. Manuel Augusto
Rodrigues; pref. critérios transcrição e aparatos críticos Avelino de Jesus da
Costa. Ed. crítica. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, 1999
Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc.
n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro
Preto da Sé de Coimbra)
“Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, ed. Miguel de
Oliveira, Arquivo do Distrito de Aveiro,
vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl.
49v – Livro Preto da Sé de Coimbra; transcrição e tradução)
2. ESTUDOS
LOPES PEREIRA – “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273
2. ESTUDOS
LOPES PEREIRA – “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273
PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de
Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6
OLIVEIRA, Miguel de –
“Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, Arquivo
do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130
VITERBO, Joaquim de Santa
Rosa de – Elucidário das palavras, termos
e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se
ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327
(Igreja)
2.1. TOPÓNIMO SALREU
DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III – Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 563
2.1. TOPÓNIMO SALREU
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Portuguesa e Brasileira, XXXII, p. 72
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Arouca Associação para a Defesa da Cultura Arouquense 1999, p. 529
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concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã, VIII, 2014, pp. 157-194
PIEL, J. M. – Os nomes germânicos na toponímia portuguesa,
separata do Boletim de Filologia,
tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258
2.2. PASSAIS
COSTA, Américo – Diccionario chorographico de Portugal continental e insular, Livr. Civilização, vol. II, 1930, p. 456 (Angeja)
2.2. PASSAIS
COSTA, Américo – Diccionario chorographico de Portugal continental e insular, Livr. Civilização, vol. II, 1930, p. 456 (Angeja)
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FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia do concelho de S. João da
Pesqueira, Arouca, Associação da Defesa do Património Arouquense, 2003, p.
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OLIVEIRA, Miguel de – As paróquias rurais portuguesas: sua origem
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ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 193
(Dextros), 467-468 (Passaes), 468 (Passal)
2.3. PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA
BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação da República, 1836-1910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142
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CÁLÃO, Hugo – “Os inventários
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pp. 55-100
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A Notícia, n.º
11, 12.10.1919, p. 2
PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de
Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37
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de Pardilhó, Centro Paroquial de Assistência da Freguesia de Pardilhó,
2012, p. 23
O Povo da Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1
A Voz de Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1
2.4. HERDADORES
ALMEIDA, Fortunato de – História de Portugal, 1.ª ed., I, Coimbra, Imprensa Académica, 1899, p. 389
2.4. HERDADORES
ALMEIDA, Fortunato de – História de Portugal, 1.ª ed., I, Coimbra, Imprensa Académica, 1899, p. 389
OLIVEIRA, Miguel de –
“Inquirições de D. Afonso III na Terra de Santa Maria”, Lusitânia Sacra, Tomo VII, 1964/66, p. 98
OLIVEIRA MARQUES, A. H. de –
“Herdadores”, Dicionário de História de
Portugal, dirig. por Joel Serrão, III, pp. 213-214
SAMPAIO, Alberto – Estudos Históricos e Económicos – As Vilas
do Norte de Portugal, Lisboa, Editorial Veja, 1979, pp. 127 e 146
SOUSA, Gonçalo António
Tavares de – Exame da questão sobre os
foros do Convento de Arouca no Concelho de Estarreja, Porto, Typ. de J. L.
de Souza, s/d (c. 1850), p. 9
VITERBO, Joaquim de Santa
Rosa de – Elucidário das palavras, termos
e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se
ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 226
(Erdador), 309-312 (Herdade), 312 (Herdador)
2.5. HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS
CASTRO, Armando de – “Padroados”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, p. 511
2.5. HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS
CASTRO, Armando de – “Padroados”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, p. 511
CASTRO, Armando de –
“Padroeiros”, Dicionário de História de
Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512
COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da
arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343
GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em
Portugal nos séculos XII a XV, 2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa
Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III, p. 337
SANTOS, Cândido Augusto Dias
dos – O Censual da Mitra do Porto:
subsídios para o estudo da diocese nas vésperas do Concílio de Trento,
Câmara Municipal do Porto, 1973, p. 100, nota 121
VITERBO, Joaquim de Santa
Rosa de – Elucidário das palavras, termos
e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se
ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 313
(Herdeiros), 320-327 (Igreja), 436-437 (Natural)
ANEXOS
DOC. 1
S.
L. ERA 1114 (A.D. 1076), MÊS DE FEVEREIRO
Gonçalo
Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares, herdeiros da vila de
Salreu, confirmam e restituem o passal que circundava a igreja de S. Martinho
daquela villa.
Confirmatjio
e integitas passalium de
ecclĩa scĩ martini de sárleo .
In
dĩ nomine . Nos hereditatores de
uilla sarleo . scilic& gundisaluus soariz . et menendus oseuiz . et alius
gundisaluus soariz . atque erus
suariz . quj usque hodie tenuimus
passales de ecclĩa scĩ martini inter nos . modo pac& nobis omnibus prenñatis . ut reintegraremus illam
illam (sic) ecclĩam de octuaginta et . IIorII . passibus per omnem circuitum . ut sint semper ad profectum eiusdem ecclĩe . et
clĩco ibi commoranti cunctis temporibus
. pro remissione nȓorum peccatorum
. et pro amore scĩ martini . Si uº ex
hinc aliqui ex nobis supªnnatis uoluerimus
hos passales ab illa ecclĩa iure abstollȇ . et
hoc factȗ infringere . ut pariat . ccc
. soldos illo clĩco qui ibi moratus
fuĩt . uel qi suã uocem
pulsauerit de parte de illo episcopo. et insuper incidat in
pristinã excõmunicatjonȇ . Facta reintegratjoĩs carta mense februario
. Era . mª . cª . xª . iiiªi . Nos omnes prennatj (sic) hanc cartam coram idoneos testes roborauimus + + + + Gundisaluus diaconus confirmo . Martinus prior confirmo . Fernandus gunsaluiz testis . Frogia abba confirmo . Fernandus ermigiz testis . Jhoannes presbiter confirmo
. Gunsaluus gutierriz testis . Dnĩcus
presbiter confirmo . Pelagius esarkiz testis . Petrus presbiter confirmo
. Jvlianus presbiter Notuit . Menendus archidiaconus confirmo .
Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc.
n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro
Preto da Sé de Coimbra)
DOC. 2
1106,
FEVEREIRO. – Gonçalo Soares e outros restituem à igreja de S. Martinho de
Salreu (c. Estarreja) uma cêrca de oitenta e quatro «passais»
T.T.
– Sé de Coimbra, m. II, doc. 31, or. vis. trans.
In
Dei nomine. Nos hereditatores de uilla de Sarleo, scilicet Gundisaluus Suariz
et Menendus Oseuiz et alius Gundisaluus Suariz atque Erus Suariz qui usque
hodie tenuimus passales de ecclesia Sancti Martini inter nos modo placet nobis
omnibus prenominatis ut redintegraremus illam ecclesiam de octuaginta et IIII.or
passibus per omni circuitu (per omni
circuitu entrelinhado) ut sint semper ad profectum eiusdem ecclesie et
clerico ibi commoranti cunctis temporibus pro remissione nostrum peccatorum et pro
amore Sancti Martini. Si uero ex hinc uni ex nobis prenominati uoluerint hos
passales ab illa ecclesia iure abstollere et hoc factum infringere ut pariet
trecentos solidos illo clerico qui ibi moratus fuerit uel qui suam uocem
pulsauerit de parte de illo episcopo et insuper incidat in pristinam excomunikatjonem.
Facta redintegratjonis carta mense Februario Era M.C.X˘.IIII. Nos omnes
prenominati hanc cartam coram idoneos testes roboramus + + + +.
Gundisaluus
Gutterriz ts., Pelagius Ezrakiz ts. – Fernandus Guaziniz ts., Fernandus Ermigiz
ts. – Martinus prior conf., Frogia aba conf., Iohannes presbiter conf., Dominicus
presbiter conf. – Petrus presbiter conf., Menendus archidiaconus conf.,
Gundisaluus diaconus conf.
Iulianus
presbiter notuit.
Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos
Particulares, AD 1101-1115, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940, doc.
n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares,
1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31)
DOC. 3
TRADUÇÃO
Confirmação e entrega dos passais da
igreja de S. Martinho de Sarleo (por
Salreu).
Em
nome de Deus. Nós, os herdadores da vila de Sarleo, a saber, Gonçalo Soares,
Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares, e Ero Soares, que até hoje condividimos a
posse dos passais da igreja de S. Martinho: apraz-nos agora a todos os
sobreditos reintegrarmos essa igreja de 84 passos a toda a volta para que
sempre sirvam de logradouro à mesma igreja e ao clérigo nela residente, por
todo o tempo, em remissão de nossos pecados e por amor de S. Martinho. Porém,
se desde agora alguns de nós acima nomeados quiser subtrair ao direito dessa
igreja estes passais e infringir esta resolução, pague 300 soldos ao clérigo
que nela morar ou a quem o representar da parte do bispo, e incorra ainda na
antiga excomunhão.
Fez-se
esta carta de reintegração no mês de Fevereiro de 1114 (ano de 1076). Todos nós
acima nomeados confirmamos esta carta perante testemunhas idóneas. Martinho,
prior, confirmo; Frógia, abade, confirmo; João, presbítero, confirmo; Onerico,
presbítero, confirmo; Pedro, presbítero, confirmo; Mendo, arcediago, confirmo;
Gonçalo, diácono, confirmo. Fernando Gonçalves, testemunha; Fernando Ermiges,
testemunha; Gonçalo Guterres, testemunha; Pelágio Ezarkiz, testemunha. Julião,
presbítero, o notou.
“Passais
da igreja de Salreu no ano de 1076”,
ed. Miguel de Oliveira, Arquivo do Distrito
de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de
Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)
1076, FEVEREIRO
– Restituição dos passais de S. Martinho
de Salreu.
ANTT, Cabido da Sé de
Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa
Basto, n.º 36)
1106, FEVEREIRO
– Restituição dos passais de S. Martinho
de Salreu.
ANTT, Cabido da Sé de
Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31
[1] ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro
Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36).
[2] ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos
particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31.
[3] LOPES PEREIRA, “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII,
1946, p. 273.
[4] VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que
em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª
ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, p. 324 (Igreja).
[5] PEREIRA, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e
Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã,
VIII, 2014, pp. 157-194.
[6] DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III –
Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p.
563.
[7] PIEL, J. M. – Os
nomes germânicos na toponímia portuguesa, separata do Boletim de Filologia, tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258.
[8] MACHADO, José Pedro, Diccionário Onomástico Etimológico de Língua Portuguesa, 2.ª ed.,
1993, p. 1299 (Salreu).
[9] FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Portuguesa (Exame a um Dicionário), Arouca, Associação
para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999, p. 529.
[10] COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga,
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos
Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343.
[11] Consulte-se, a este respeito: CÁLÃO, Hugo – “Os
inventários das igrejas e capelas das paróquias dos concelhos de Estarreja e
Murtosa – Parte I”, Terras de Antuã,
IV, 2010, pp. 55-100.
[12] BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação
da República, 1836-1910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142.
[13] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p.
57.
[14] A Notícia,
n.º 11, 12.10.1919, p. 2; A Voz de
Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1.
[15] CARDOSO, Carlos – Subsídios
para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, Câmara
Municipal de Estarreja, 2000 (1.ª ed. de 1961), p. 55.
[16] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p.
60.
[17] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p.
70.
[18] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p.
71.
[19] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p.
74.
[20] PEREIRA, Marco – História
do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó, Centro Paroquial de
Assistência da Freguesia de Pardilhó, 2012, p. 23.
[21] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp.
77, 82, 83.
[22] PEREIRA, Marco – Salreu
– Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37.
[23] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp.
87 e 97.
[24] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp.
88, 91 e 92.
[25] CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp.
87, 94, 97 e 98.
[26] O Povo da
Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1.
[27] VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que
em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram…, 2.ª
ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327 (Igreja).
[28] GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV,
2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III,
p. 337.
[29] CASTRO, Armando de – “Padroeiros”, Dicionário de História de Portugal,
dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512.
Marco Pereira
In Terras de Antuã, Câmara Municipal de Estarreja, IX, 2015, pp. 157-165.
Marco Pereira
In Terras de Antuã, Câmara Municipal de Estarreja, IX, 2015, pp. 157-165.
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