Durante muitas décadas a única escola na Vila de
Estarreja foi a do Conde de Ferreira, funcionando esporadicamente outras
escolas em edifícios arrendados para o efeito. Um desses exemplos passou-se com
Joaquina de Jesus e Pinho, que em 1914 deixou de leccionar no Paço para
instalar a sua escola feminina numa casa construída propositadamente pelo sr.
Condessa, na rua 31 de Janeiro (1). Algumas pessoas mais antigas
recordam-se dela dando aulas numa sala da casa do sr. Condessa (junto aos
Bombeiros Velhos), daí tendo passado para a escola Conde de Ferreira.
Paço (Escola Conde de Ferreira). Falecido em 1866, o Conde de Ferreira destinou por legado testamentário 144 contos à construção de 120 escolas, em diferentes sedes de concelhos. Coube dessa quantia 1200$00 a Estarreja, bem como a planta da nova escola. Com o legado a Câmara Municipal comprou em 1867 ao Dr. Filipe José Pereira Brandão, da Quinta da Costeira, uma parcela de terreno com 600 m2, dastacados da propriedade do Rego do Souto, pela quantia de 160$00. A escola possui por cima da porta principal a data de 1866, do falecimento do Conde de Ferreira (2), e no portão 1868, que deve ser da inauguração (3). Nos anos 50 do séc. XX foi-lhe acrescentada uma terceira sala de aula (4).
Agro (1.ª). A inauguração da escola do Agro, com uma sala, ocorreu em 1954, com a presença do Conselheiro Albino dos Reis, Presidente da Assembleia Nacional e natural da vizinha freguesia de Loureiro (5). Talvez fosse esta a escola que funcionava como mista em 1956 (6), sendo certo que era feminina em 1960 (7). Está encerrada há anos.
Agro (2.ª). A segunda escola do Agro, de traços mais modernos,
edificou-se em terreno de antigo pinhal comprado pela Câmara Municipal por
1960, vindo mais tarde a ser aberta uma rua para lhe dar acesso (rua Dr.
Pereira de Melo), já que então era acessível apenas pela rua Dr. Fernando
Tudela (8). Parece que a primeira escola do Agro estava então
temporariamente desactivada (9), situação que persistia em 1965, quando
a segunda se encontrava em construção (10). A nova escola, com quatro
salas e cantina anexa, inaugurou-se em 1966 (11), e a sua cantina terá
começado a funcionar dois anos depois (12).
Póvoa de Cima. Em 7.1.1931 ocorreu a inauguração da escola oficial da Póvoa, construída a expensas dos habitantes e sita no início dos pinhais a caminho de Pardilhó, depois da capela de S. Filipe (13). Destinava-se à colocação de um professor (14), o que na altura era comum. Estava em muito mau estado de conservação em 1948 (15) e deve ter tido desdobramento de horários no início dos anos 50, uma vez que em 1952 deixou de ter apenas uma turma mista para possuir uma masculina e outra feminina (16). Em 1954 previa-se a construção de nova escola de uma sala (17), existindo três anos depois uma segunda turma masculina (18). Após reparação no início da década de 60 (19), e intenção camarária de construir novo edifício no mesmo terreno, a escola terá sido abandonada (20).
Póvoa de Baixo. Depois de criado um posto de ensino em 1938 (21),
a escola actual terá começado a funcionar, com quatro salas, em 1959 (22).
Santo Amaro (antiga). Inaugurada a 3.1.1911 (23),
esteve ainda alguns meses sem funcionar, embora com casa e mobília (24),
vindo a abrir em Julho desse ano (25). Servia os lugares de Santo Amaro,
Santiais, Areosa, Beduído e Souto, totalizando em 1933 cerca de 100 alunos (26).
Sobre
esta primeira escola de Santo Amaro e em particular a respeito da sua
professora, D. Maria do Carmo Valente de Almeida, que ali leccionou entre 1911
e 1939, escreveu um antigo aluno, Cónego Filipe de Figueiredo, os trabalhos “A
Professora de Santo Amaro”, s./d., e “No rescaldo dum centenário”, 1983, para
os quais remetemos o leitor.
Santo Amaro (cima). Dos dois edifícios
escolares funcionando hoje em Santo Amaro, cada um com duas salas, o mais
antigo é o que se situa num plano ligeiramente superior, concluído em 1938 mas
sem atribuição imediata de professor (27). Em 1940 deixou de funcionar
uma turma mista para passar a haver uma masculina e outra feminina (28),
situação que persistiu pelo menos até 1944 (29). Em 1954 surgiu nova
turma mista (30), que voltou a funcionar ano seguinte (31), sendo
em 1957 criada uma primeira (32) e segunda turma masculina (33).
Santo Amaro (baixo). Estando a sua construção
programada em 1954 (34), veio a funcionar um posto escolar misto em
Santo Amaro (35) que só terá existido enquanto a escola não abriu
portas. Esta estava quase concluída nos últimos dias de 1957 e ter-se-á
inaugurado no ano seguinte. (36). A fachada do edifício ostenta a data
de 1957 (37).
Barreiro de Além. Antes de existir o edifício actual, encerrado
há poucos anos por falta de alunos, funcionou em Santiais uma escola móvel,
criada em 1919 e provavelmente de duração efémera (38), pois em 1932 e
1936 a Câmara Municipal pedia ao Estado a criação de um posto de ensino para o
lugar (39). A reclamação talvez não tenha sido atendida, uma vez que
Santiais ainda não tinha posto escolar permanente (e luz!) em 1941 (40),
mas em 1944 existia um posto de ensino, há anos sem regente (41). A
escola de uma sala que há poucos anos fechou no Barreiro de Além (sítio do
Juncal) foi formalmente criada em 1951 (42) para funcionar como escola
mista, para o que se estabeleceu um lugar de professor em 1952 (43). A
sua inauguração deve ter decorrido por finais de 1953 (44).
_______________
(1). JE, n.º 1418, 8.11.1914, p. 2
(2). Que a Carta Educativa indica como data da fundação
(p. 110)
(3). JE, n.º 3269, 25.9.1968, p. 1
(4). JE, n.º 3061, 25.1.1960, p. 1
(5). CE, n.º 2662, 2.1.1954; o JE, n.º 3011,
25.12.1957, p. 2, parece sugerir que seja mais antiga e indica a recente
criação de uma terceira turma feminina na vila, o que pela escassez de salas
leva-nos a supor o desdobramento de horários em manhã e tarde
(6). JE,.º 2981, 25.9.1956, p. 2
(7). JE, n.º 3061, 25.1.1960, p. 1
(8). JE, n.º 3084, 10.1.1961, p. 4
(9). Idem
(10). JE, n.º 3188, 10.5.1965, p.1
(11). JE, n.º 3217, 25.7.1966, p.1-2; na Carta Educativa
1976 (p. 76)
(12). JE,.º 3275, 25.12.1968, p. 1
(13). JE, n.º 2228, 11.1.1931, pp. 1-2
(14). JE, n.º 3172, 10.9.1964, p.1
(15). JE, n.º 2792, 25.10.1948, p. 2
(16). JE, n.º 2870, 10.2.1952, p. 1, com referência a
portaria de 18 de Janeiro
(17). JE, n.º 2936, 16.11.1954, p. 1
(18). JE, n.º 3007, 25.10.1957, p. 2
(19). JE, n.º 3168, 10.7.1964, pp. 1-6
(20). JE, n.º 3172, 10.9.1964, p.1
(21). JE, n.º 2531, 1.11.1938, p. 2
(22). JE, n.º 3172, 10.9.1964, p.1; na Carta Educativa
1958 (p. 99), que talvez seja a data a conclusão
(23). JE, n.º 2352, 5.10.1933, p. 2
(24). JE, n.º 1245, 1.7.1911, p. 2
(25). JE, n.º 1249, 29.7.1911, p. 2
(26). JE, n.º 2352, 5.10.1933, p. 2
(27). JE, n.º 2521, 20.7.1938, p. 2
(28). JE, n.º 2595, 31.8.1940, p. 1
(29). JE, n.º 2698 10.11.1944, p. 2
(30). JE, n.º 2932, 10.9.1954, p. 2
(31). JE, n.º 2956, 10.9.1955, p. 1
(32). JE, n.º 3005, 25.9.1957, p. 2
(33). JE, n.º 3007, 25.10.1957, p. 2
(34). JE, n.º 2936, 16.11.1954, p1
(35). JE, n.º 3010, 10.12.1957, p. 2
(36). JE, n.º 3011, 25.12.1957, p.2
(37). Que é a data que consta na Carta Educativa (p. 98)
(38). JE, n.º 1664, 21.9.1919, p. 2
(39). Pe. A. Tavares Martins, “O avivar de uma memória –
Pe. António Maria de Pinho”, 1974, pp. 69-70
(40). JE, n.º 2615, 3.6.1941, p. 2
(41). JE, n.º 2698, 10.11.1944, p. 2
(42). JE, n.º 2865, 25.11.1951, p. 2
(43). JE, n.º 2884, 10.9.1952, p. 2
(44). JE, n.º 2895, 25.2.1953, p. 1; JE n.º 2910, 10.10.1953, p. 1
In "História do ensino primário no concelho de Estarreja", Terras de Antuã, Câmara Municipal de Estarreja, I, 2007, pp. 182-185
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