A informação mais antiga de marinhas de sal na ria de
Aveiro data de 929, localizando-as em Cabedelo (Válega), perto de Fontela
(Avanca).
Foi acordada em 1366 a exploração de uma marinha de
sal chamada da Boorsa, na freguesia de Avanca. Nesse ano a abadessa do Mosteiro
de Arouca, D. Maria Lourenço de Porto Carreiro, por um lado, Martim Domingues,
morador em Vieiros (sic), e Domingos Martins, morador no Talhadoiro (sic), pelo
outro, acordaram no seguinte: os segundos outorgantes explorariam a aludida
marinha (duas partes o primeiro e uma parte o segundo), dando ao Mosteiro de
Arouca metade do sal daí extraído. Ao Mosteiro caberia entregar para a ajuda
dessa empresa a quantia de 150 libras e um barco[1].
Esta marinha de sal só podia situar-se no Bunheiro ou em Pardilhó, e dá realce
à teoria da origem do nome de Pardilhó estar nas paredes das salinas.
A marinha da Area Alva foi objecto de outro contrato
em 1370[2].
Com efeito pai e filho, moradores em Antuã, comprometeram-se a explorá-la,
dando metade do sal produzido ao Mosteiro de Arouca, que em troca livrá-los-ia
da chamada de El-Rey e daria 65(?) libras para uma barca. Desta marinha
escreveu o Dr. Gonçalo António TAVARES DE SOUSA[3]:
«Gaveta 7.ª maço 1.º n.º 13. Antoãa –
Marinha d’Arealta – Era 1408. Março 16 – Carta do contracto que celebraram D.
Maria Lourenço de Porto Carreiro Abbadessa do Convento, e Domingos Domingues
Affonso, e Martim Domingues, por que estes se obrigarão a fazer a marinha de
Sal, que chamam d’Aréalta, sita no Julgado d’Antoãa, assim como está divisada
por divisamentos que hi estam, e a dar á dita Abbadessa por mão do seu mordomo
metade do sal que Deos nella der, e a não largar a dita Marinha, nem a
Abbadessa lha podera tolher, e a cumprirem a Carta d’emprasamento, que o
Convento fizera aos ditos cazeiros – entra neste contracto o serviço da barca a
cargo dos cazeiros.». Esta marinha de sal situar-se-ia no sul da Murtosa,
entre as terras de Antuã e Pardelhas, pois aí aparece um porto d’Area Alva em
1294[4],
e havia na Murtosa uma arrota da Area Alva em 1528[5].
O topónimo ainda hoje por ali se conhece.
No mesmo ano de 1370 outro homem comprometeu-se a
fazer a marinha Giesteira[6],
pagando a mesma metade do sal produzido, e recebendo em troca do Mosteiro de
Arouca 40 libras, em dinheiro português, e 1 moio de milho para fazer uma
barca. Mais uma vez escreveu Gonçalo António TAVARES DE SOUSA[7]:
«Gaveta 7.ª Maço 1 n.º 12. – Antoãa –
Marinha da Gesteira – Era 1408. Março 17. Carta de contrato que faz D. Maria
Lourenço de Portocarreiro, Abadessa d’Arouca a Gonçalo Domingues, por que este
se obrigou a fazer a Marinha da Gesteira em dias de sua vida, (estava herma) e
à sua morte a deixá-la a quem a fizesse, e a dar à dita Abadessa metade de todo
o sal que nella se fizer (feitos dous montes de sal a Abadessa escolha) o
cazeiro procurará quem o ajude como companheiro. – A dita Senhora Abbadessa lhe
dá auxilio para fazer a barca e 50 libras em dinheiro, e um moio de milho, cuja
barca é para serviço da dita marinha.».
Em meados do séc. XIV o mosteiro de Grijó possuía uma
marinha de sal na Espinhosela e outra na Telossa (por Tijosa), ambas em Ovar,
que já não produziam[8].
As mesmas duas marinhas, da Espinhosela e da Tijosa, registam-se num Tombo
datado de 1366, do mesmo mosteiro[9].
Uma marinha de sal da Tijosa volta a apresentar-se em 1403[10].
Citando Miguel de OLIVEIRA e depois Aires de AMORIM,
que informa da abertura de salinas em Ovar no início do séc. XVII, achou
Eduardo COSTA muito estranha esta informação, por ser tal actividade demasiado
recente[11].
Por isso tentou localizar as ditas salinas no sul da Gelfa. Mais admirado
ficaria se soubesse o que agora se dirá.
Vamos encontrar em 1533, na então designada Ilha de
Lourosa (Bunheiro), uma terra sita junto à marinha do sal[12].
Muito mais recentemente continuava a existir uma «marinha que faz sal aonde chamão o covelo de Louroza freguesia do
Bunheiro» (ano de 1707)[13]
e «casa de Madeira para Sal» (mesmo
ano de 1707)[14].
[1] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 19.
[2] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 13.
[3] Exame da questão sobre os
foros do convento de Arouca…, 2.ª parte, pp. 13-14. Desta publicação terá
conhecido a existência da referida marinha SIMÕES JÚNIOR, que dela escreve no Arquivo do Distrito de Aveiro, XX, 1954, p. 113. Este segundo autor é citado
por Miguel de OLIVEIRA, em Ovar na Idade Média, p. 66. No entanto nenhum dos
três mostrou conhecer a marinha da Boorsa, de 1366.
[4] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 8.
[5]
AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 264v.
[6] ANTT, Mosteiro de Arouca, g. 7, m. 1, n. 12.
[7] Exame da questão sobre os
foros do convento de Arouca…, 2.ª parte, p. 14; tal como na outra marinha de
1370, segue-o SIMÕES JÚNIOR, no Arquivo do Distrito de Aveiro, XX, 1954, p.
113, e por este Miguel de OLIVEIRA, Ovar na Idade Média, p. 66.
[8] Jorge Nogueira Lobo de ALARCÃO
E SILVA, A propriedade rural do mosteiro de Grijó em meados do século XIV, e a
sua administração, Coimbra, 1958, p. 124.
[9] “Tombo do Prior D. Afonso
Esteves” (ano 1366), fls. 60 e 29. Mencionado por Luís Carlos AMARAL, São
Salvador de Grijó na segunda metade do século XIV – estudo de gestão agrária,
que além desta fonte utiliza o “Livro das Campainhas” (ano 1365), em ambos os
casos fontes do priorado de D. Afonso Esteves.
[10] Pe. Aires de AMORIM, "Para a
história de Ovar – Marinhas de Sal…”, Aveiro
e o Seu Distrito, 1968.
[11] Aveiro e o Seu Distrito,
VIII, 1969, pp. 18-19.
[12]
AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 266.
[13]
AUC, III-1.ºD-13-5-21, fl. 120.
[14] AUC, III-1.ºD-13-5-21, fl.
121.
In "A Terra Marinhoa na Idade Média", Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp. 31-33
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