Peixes.
- Ao dividir algumas terras em Antuã, em 1257, a abadessa do Mosteiro de Arouca
D. Mor Martins exigia um cambo de peixes por cada barca[1],
tributo igual ao que pagavam os homens de Veiros em 1274.
No ano de 1394 outorgou-se uma carta de defesa de
lançar covões com pedras para sibas, nas veias de Vagos, Aveiro, Ovar, Amor e
outras, por onde corriam navios de marear e deitavam redes de pesca[2].
E em 1451 eram concedidos aos pescadores de Aveiro privilégios para que não
deixassem a sua profissão[3].
Duarte Nunez de LEÃO mencionava em 1610 quanto ao
Vouga, em simultâneo com outros rios portugueses, a existência de sáveis,
lampreias, trutas, ireses, linguados, solhos, salmões, relhos e outros. No
respeitante à pesca no mar, no porto de Aveiro e em outros, este autor afirmou
haver pescadas, cações, lixas, raias, corvinas, polvos e outros. Além disso
exportava-se linguados e sapateiros de Aveiro, feitos e adubados em barris[4].
No Foral de Angeja (1514) vem referida a pesca do sável, lampreias e enguias,
assim como pescado morto em «covãos»[5].
São abundantes as informações sobre espécies de peixe
que nos chegam do séc. XVIII. A ria de Aveiro dava em 1708 lampreias, tainhas,
solhas, linguados, e mariscos conservados em escabeches que se consumiam fora
de portas[6].
Na Memória Paroquial de 1732 do Bunheiro fala-se de barbos, bogas, fataças,
sáveis, solhos, linguados, e outros. Nas Memórias de 1758 o pároco da Murtosa diz
haver na ria robalos, corvinas, lampreias e sáveis e, no rio Vouga, enguias,
solhas, linguados, tainhas e mugens. No mesmo ano os párocos indicam barbos,
bogas, trutas (Beduído), lampreias, sáveis (Fermelã), enguias, tainhas, solhas,
mugens, robalos, lampreias, sáveis e corvinas (Ovar).
Cetáceos.
– a pesca de golfinhos (por vezes chamados toninhas) e baleias era algo comum
na Idade Média[7]. E
relativos a golfinhos na região da ria de Aveiro há pelo menos dois registos
medievais.
Numa inquirição e registo dos foros impostos aos
moradores de Verdemilho, Ílhavo, Vagos e Sorens, com a data de 13 de Outubro de
1296, lê-se: «E sse sayr na Malhada.
dalfinho ou solho auer o que o achar»[8].
Por outro lado, na primeira vez que se noticia o nome do Bunheiro (1378)
escreve-se que dois pescadores dali escusaram-se a pagar, ao Mosteiro de
Arouca, a terça parte devida pela pesca e venda de dois golfinhos.
No que toca a baleias, vêm mencionadas nas inquirições
de 1284 na Feira. A propósito de Cabanões (Ovar) Miguel de OLIVEIRA defendeu
que a pesca era então só na ria, e duvidou da estadia de baleias nesta[9],
mas por isso mesmo admitiu casuais e limitadas
pescarias no mar[10].
E há informações mais recentes. O mar arrojou à costa
entre a Torreira e o Furadouro, em 1877, dez cachalotes ainda vivos, que fonte
da época defendeu ter cada um 12 metros de comprimento e 7 de espessura[11].
Em 1994 apareceu na Torreira uma baleia morta[12].
Quatro anos mais tarde, em 1998, dava à costa na mesma praia um golfinho que se
presumiu chegar já morto[13].
Finalmente, em Junho de 2008 um golfinho solitário, baptizado de Gaspar, entrou
na Ria de Aveiro, e dentro desta foi visto em vários locais, inclusive frente à
Torreira. Vinha sendo seguido por biólogos em diversos pontos costeiros de
França, Espanha e Portugal, e era habitual entrar nos portos de pesca e
marinas, atraindo as atenções das pessoas[14].
Embarcações. – São frequentes as referências a embarcações desde a Idade
Média, geralmente barcas. A abadessa do Mosteiro de Arouca, D. Mor Martins, pediu
em 1257 um cambo de peixes de tributo por cada barca, nas terras de Antuã[15].
Fala-se das barcas dos pescadores de Veiros em 1274, das barcas nas salinas
existentes em 1370, e algum tipo de embarcação teriam de utilizar os pescadores
do Bunheiro que pescaram dois golfinhos em 1378. Por outro lado, caravelas
chegavam a Cabanões em 1292[16],
e o Foral de Ovar (1514) cita barcas e navios que aportam à localidade. Pouco
antes, em notícia de 1501, admite-se que ancoravam nos portos de Ovar navios,
barcas, caravelas, bateis, e já se pescava sardinha no mar[17].
Diz COSTA LOBO que «nas vastas matas
reaes, que ensombravam a Terra de Santa Maria, hoje o concelho da Feira, se
provia a villa de Aveiro, por concessão regia, de madeiras para a construção
dos seus navios»[18].
E no ano de 1394 D. João I determinara, a semelhança dos seus antecessores, que
não fossem lançados covos nem redes de pesca ou pedras, nas veias de Ovar,
Aveiro e Vagos, por dificultarem a navegação aos navios[19].
Finalmente, o pároco de Ovar que assinou a Memória Paroquial de 1758 defendeu
que a ria era capaz de qualquer embarcação.
[1] Miguel de OLIVEIRA, “Ovar na
Idade Média”, p. 68.
[2] “Descobrimentos Portugueses”, vol. 1, doc.
187, pp. 202-203.
[3] “Descobrimentos Portugueses”, vol. 1, Doc.
386, pp. 485-486.
[4] Duarte Nunez de LEÃO,
“Descripção do Reino de Portugal”, 1610, pp. 56v-57. Além disso possuía Aveiro
«celebres lenguados, y varios esbabeches
[por escabeches]», cerca de 1640, segundo Joaquim Veríssimo SERRÃO, “Uma
estimativa da população de Portugal em 1640”, p. 284.
[5] Luís Fernando de Carvalho
DIAS, “Forais Manuelinos…”, p. 191.
[6] Pe. CARVALHO COSTA,
“Corografia Portuguesa”, II, 1708, p. 100.
[7] “Dicionário de História de
Portugal”, s. v. Pescarias.
[8] “Milenário de Aveiro”, p. 101;
Alberto SOUTO, mencionando os golfinhos, chamou a este documento impropriamente
Foral de Ílhavo (“Origens da Ria de Aveiro”, 1923, p. 164).
[9] “Ovar na Idade Média”, p. 111.
[10] “Ovar na Idade Média”, p. 68.
[11] “Domingo Ilustrado”, 2.º vol.,
n.º 67, Abril de 1898, pp. 301-302; PINHO LEAL, “Portugal Antigo e Moderno”,
vol. 9, 1880, pp. 617-618; Marques GOMES, in “A Murtoza – A propósito da sua
autonomia”, de José Maria Barbosa, 1899, p. XXX.
[12] “O Concelho da Murtosa”, n.º
1977, 30.7.1994, p. 4.
[13] SILVA, Alfredo (pseud.),
“Golfinho deu à costa, no areal da Torreira”, Jornal Periódico Murtoseiro, n.º 3, 1.10.1998, p. 5.
[14]
http://www.golfinhos.net/pt/portal/noticias/244-golfinho-roaz-gaspar-na-costa-portuguesa.html
[consultado em 24.7.2010];
http://www.diarioaveiro.pt/main.php?mode=public&template=frontoffice&srvacr=pages_13&id_page=4317
[consultado em 24.7.2010].
[15] Miguel de OLIVEIRA, “Ovar na
Idade Média”, p. 68.
[16] Miguel de OLIVEIRA, “Ovar na
Idade Média”, p. 68.
[17] Miguel de OLIVEIRA, “Ovar na
Idade Média”, p. 154.
[18] “História da Sociedade em
Portugal no século XV”, p. 91, citando como fonte Estremadura, Lv. 3, fl. 214 e
217.
[19] “Milenário de Aveiro”, pp.
145-146; Silva MARQUES, “Descobrimentos portugueses”, I, pp. 202-203.
In "A Terra Marinhoa na Idade Média", Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp. 29-31
-----------------------------/ /-------------------------------
3 videos do Dr. Jorge Bacelar, com golfinhos na ria de Aveiro (2012):
-----------------------------/ /-------------------------------
3 videos do Dr. Jorge Bacelar, com golfinhos na ria de Aveiro (2012):
Sem comentários:
Enviar um comentário