sábado, 4 de dezembro de 2010

Domingos Joaquim da Silva [1.º Visconde de Salreu]

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n. 27.11.1854 (Salreu); f. 11.9.1936 (Estoril)
Provedor da Misericórdia de Estarreja (1935-1936)

Nasceu em Salreu, no seio de uma família de pequenos proprietários. Em vez de prosseguir estudos superiores como alguns dos irmãos (dois cursaram medicina e um filosofia), emigrou para o Brasil, onde viria a acumular grande fortuna. Consolidada a posição financeira, tornou-se benemérito na terra natal e passou os últimos dias de vida entre Salreu, Lisboa e Estoril.

Casa dos pais do Visconde de Salreu, onde este
nasceu e sobre a qual construiu o seu palacete.

ENRIQUECIMENTO NO BRASIL. – Emigrou para o Brasil em 1870, com apenas 16 anos, levando consigo o «capital destinado à sua educação». Após trabalhar no transporte de areia por conta própria, esteve como empregado comercial numa serração. Adquirida esta em 1880, estabeleceu-se por conta própria, no mesmo sector de actividade. A empresa de serração cresceu, ocupando sucessivas instalações cada vez maiores e melhor equipadas, e abarcando a sua actividade diversos materiais de construção, importando e exportando. No início do século XX atingia grande dimensão, a ponto de ser considerada a maior do ramo na América do Sul. Nesta época teve um papel muito significativo no surto de construção verificado no Rio de Janeiro.

Palacete do Visconde de Salreu.

Possuindo frota própria de navios, para transporte de materiais de construção a partir do Rio de Janeiro, as relações comerciais desta empresa, até à Primeira Grande Guerra feitas essencialmente com países europeus, passaram então a fazer-se com os Estados Unidos da América. Actualmente designada DOVA (de DOmingos silVA), continua nas mãos da família do Visconde de Salreu e exerce actividade ligada à transformação e comércio de ferro e aço.

DOVA – Brasil.

NEGÓCIOS EM PORTUGAL. – Depois do triunfo profissional no Brasil, Domingos Joaquim da Silva fundou em Portugal diversas empresas de sucesso.

Em Salreu exerceu actividade industrial, junto do seu palacete , de moagem, serração, descasque de arroz, e lacticínios (queijo e manteiga, tendo anexa uma vacaria), privilegiando a utilização de inovações tecnológicas. Além disso adquiriu alguns terrenos na freguesia, parte dos quais de apreciável dimensão.

Caves Visconde de Salreu, em Colares (Sintra).

Por outro lado possuiu vários imóveis urbanos em Portugal, particularmente na região de Lisboa. Assumem destaque entre os seus múltiplos negócios o de comércio de vinho de Colares (com marca própria, em boa medida exportado), no respeitante a azeitona e produção de azeite a Fábrica Torrejana (Torres Novas), e uma refinaria de açúcar, a Refinaria Brazileira (Lisboa).

Visconde de Salreu. Quadro do pintor Fausto Sampaio
(13.12.1935), existente no palacete do Visconde em Salreu.

BENEMÉRITO EM SALREU E RECONHECIMENTO PÚBLICO. – Alcançada uma sólida posição financeira, Domingos Joaquim da Silva ofereceu ao povo da sua terra natal – Salreu – diversas obras de beneficência. Entre elas avultaram a Escola Domingos Joaquim da Silva (Laceiras, 1907), Escola Visconde de Salreu (Sra. do Monte, 1933), e um chafariz público próximo do Hospital Visconde de Salreu (1934). Foi precisamente o Hospital a obra social emblemática, que coroa o seu fim de vida. Este e o anexo Asilo Viscondessa de Salreu, resultantes de uma promessa feita em 1926 ao Pe. Donaciano de Abreu Freire, seriam concluídos em 1935, e no mesmo ano doados à Misericórdia de Estarreja.

Retrato a óleo do Visconde de Salreu, pelo pintor Acácio Lino (1934),
exposto no Salão Nobre do Hospital Visconde de Salreu.

Em reconhecimento da sua acção benemérita, a Domingos Joaquim da Silva foi concedido por D. Carlos o título de Visconde de Salreu , em 2.5.1907 (pela doação ao Estado da Escola das Laceiras), recebendo em 1933 a Comenda da Ordem da Instrução Pública (pela Escola da Sra. do Monte). Por seu turno uma nova banda de música, por si protegida, adoptou-lhe o nome, designando-se Banda Visconde de Salreu (1925), e na Misericórdia de Estarreja ficou como primeiro Provedor (1935-1936). Além do mais atribuiu-se o nome Visconde de Salreu a uma importante nova avenida da Vila de Estarreja, e mais tarde a três arruamentos de Salreu, acrescendo haver nesta freguesia três bustos em sua homenagem. Um retrato a óleo, do pintor Acácio Lino, seria descerrado nos Paços do Concelho, hoje no Hospital Visconde de Salreu.

Visconde de Salreu (fotografia).

MISERICÓRDIA DE ESTARREJA. – Construiu a suas custas e doou o Hospital Visconde de Salreu e Asilo anexo à Misericórdia de Estarreja, constituída para receber e gerir estas doações. Por conseguinte ocupou o lugar de primeiro Provedor, mais honorífico que executivo, nos últimos meses de vida. Consta pois como Provedor na primeira acta da Assembleia Geral (13.3.1936). Em Assembleia Geral da Irmandade realizada a 8.12.1957 era atribuída aos Viscondes de Salreu o diploma de Irmão Benemérito.

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Bibliografia:
- Arquivo da SCME, Livro de Actas – Assembleia Geral
- OLIVEIRA E SILVA, Maria de Jesus Sousa de, “As elites locais e a sua influência nos fins do século XIX e primeiras décadas do século XX – Um exemplo: Domingos Joaquim da Silva, Visconde de Salreu (1854-1936)”, In Ul-Vária, I, 1994, pp. 279-348 (fundamental)
- TRINDADE, Maria Beatriz Rocha; e CAEIRO, Domingos José Alves, “Portugal – Brasil, migrações e migrantes, 1850 – 1930”, Inapa, Lisboa, 2000
- ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins, “Nobreza de Portugal e do Brasil”, 3.ª ed., vol. 3, Zairol, Lisboa, 2000, p. 275
- Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, XXVI, p. 789
- O Jornal de Estarreja, n.º 1068, Natal 1907, p. 4 (retrato e dados); JE, n.º 1581, 30.1.1918, p. 1 (retrato); JE, n.º 2016, 18.11.1926, pp. 1-4 (homenagem); JE, n.º 2320, 9.12.1932, p. 1; JE, n.º 2354, 25.10.1933, p. 2; JE, n.º 2458, 20.9.1936, p. 2 (falecimento)
- O Concelho de Estarreja, n.º 269, 24.11.1906, p.1 (homenagem); CE, n.º 301, 6.6.1907, p. 1; CE, n.º 310, 7.9.1907, p. 1; CE, n.º 315, 12.10.1907, p. 3; CE, n.º 563, 27.7.1912, p. 2; CE, n.º 1278, 23.10.1926, p. 2 (possível condecoração); O Povo de Pardilhó, n.º 495, 19.10.1936, p. 1 (falecimento)
- O Povo da Murtosa, n.º 115, 12.10.1907, p. 3
- http://www.dova.com-br/empresa_historia.asp [consultado em 30.8.2010]

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[1]. Concluído cerca de 1907, no local onde antes existia a casa de seus pais. A propriedade original viria a ser ampliada mediante a compra de sucessivas parcelas de terreno limítrofes.
[2]. O Concelho de Estarreja, n.º 301, 6.6.1907, p. 1; CE, n.º 310, 7.9.1907, p. 1. Comentou-se na época a possibilidade de seguir-se a imediata elevação ao título de Conde (O Concelho de Estarreja, n.º 315, 12.10.1907, p. 3; O Povo da Murtosa, n.º 115, 12.10.1907, p. 3).
[3]. O Jornal de Estarreja, n.º 2354, 25.10.1933, p. 2.

In "História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja", Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, 2010, pp. 71-75
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5 comentários:

  1. Ele foi um homen muito valente e muito importante. Adorari ter o conhecido

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  2. concordo, ta ai um grande Homem!

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  3. Concordo, ta ai um grande homem que viveu em nosso país!

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  4. Gostava de obter mais informação sobre a história do Hospital de Salreu e Águeda. Será que me podem ajudar a descobrir informação?

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  5. Sobre o Hospital Visconde de Salreu, pode consultar os dois livros: "Salreu - Património Construído" (2009), e "História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja" (2010).

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