quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Capela de Nossa Senhora das Necessidades (Póvoa de Baixo - Beduído, 1819)

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Durante a Guerra Peninsular (invasões francesas) o Alferes Manuel Marques Pires, da Póvoa de Estarreja, esteve prisioneiro do exército francês, experiência que o levou à promessa de edificar uma capela dedicada a Nossa Senhora das Necessidades, caso conseguisse sobreviver ao cativeiro e reconquistar a liberdade. O próprio testemunha-o, ao requerer autorização episcopal para a construção do templo: «Andando no Exército, foi desgraçadam.e prizioneiro pela Tropa inim.ª Franceza, e conduzido por ella. Vendo-se nesta aflição, fez hum Voto, e Promessa á Nossa Senhora das Necessid.es de fazer hua Cap.ª na sua quinta se se visse restituido á sua liberd.e pelo patrocinio da Senhora, o que assim permitio» [1].


Assim, conjuntamente com sua mulher, Maria Valente da Conceição, mandaram construir a capela na Póvoa de Baixo e dotaram-na de património para o sustento do culto, dedicando-a a Nossa Senhora das Necessidades, Santo António e S. Sebastião. A 30.10.1819 estava pronta a ser visitada e benzida pela autoridade competente, ocupando a área de 26x16 palmos.

Deve ser da mesma família que o Alferes Manuel Marques Pires um dos mortos em Beduído durante a segunda invasão francesa, tal como aquele que viria a ser mais tarde abade de Válega, Dr. Manuel Marques Pires. A esta família, aliás de destaque no meio, veio a pertencer a nobre Casa dos Menezes em Salreu.

Parece que o culto na capela esteve depois «por bastante tempo interrompido em razão do seu estado de ruina» [2]. Inconformada, Ana da Conceição Marques Pires, descendente e proprietária em 1901, mandou-a reedificar (daí a data de 1900 na porta). Nesse ano aguardava já bênção, atestando o seu bom estado o vigário da Vara, que a visitou. Capela e quinta junta devem ter sido vendidas pouco depois, uma vez que em notícias de 1915 e 1919 figuram ambas na posse de Dias Pereira, do Bunheiro. Por ocasião da Monarquia do Norte, em 1919, esteve nessa quinta estacionada artilharia monárquica [3], e em 1923 José Maria Dias Pereira pretendia oferecer nela o terreno necessário à construção do hospital concelhio [4]. Em 1971 foi adquirida por Luís Fernandes Gomes, actual proprietário, que no ano seguinte demoliu a casa antiga (talvez de 1875, a avaliar pela data inscrita no portão de ferro à entrada) e construiu nova sobre os mesmos alicerces. A propriedade primitiva era muito maior que a actual, com terras de cultivo estendendo-se em todas as direcções.

[1] Arquivo Episcopal do Porto – Código de Referência: PT/AEP/DP/CUR-SGC/001/0079
[2] Idem.
[3] Além dos autos supra, há ligeiras alusões a esta capela em: O Jornal de Estarreja, n.º 1439, 10.4.1915, p. 4; n.º 2183, 23.2.1930, p. 3; n.º 3056, 10.11.1959, p. 1; O Concelho de Estarreja, n.º 897, 15.2.1919, p. 1; e A. Nogueira Gonçalves, “Inventário artístico de Portugal. Distrito de Aveiro – zona norte”, X, 1981, p. 17.
[4] FIGUEIREDO, Cónego Filipe de , “O Pe. Donaciano de Abreu Freire – o homem e o padre do seu tempo”, IV, 1989, p. 433.

In "O Jornal de Estarreja", n.º 4476, 8.5.2009, p. 2; e
"Terras de Antuã", III, 2009, pp. 108-110
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