Joaquim Ferreira dos Santos (n.
4.10.1782, Campanhã; f. 24.3.1866, Porto) foi o mais novo de 5 filhos, de um
casal de lavradores. Sendo de origem modesta, iniciou estudos para se tornar
sacerdote, que abandonou passando a exercer no Porto a profissão de caixeiro.
Cerca de 1800, com 18 anos,
embarcou com destino ao Rio de Janeiro, onde começou a ganhar dinheiro no
comércio à consignação. Recebia mercadoria para revender que lhe era enviada do
Porto (vinho, chapéus, utensílios ou adornos) para onde enviava na volta dos
navios outros bens (açúcar, aguardente, couros, café, arroz). Casou-se uma só
vez, com uma senhora argentina dotada de património, D. Severa Lastra, com quem
teve um único filho no Rio de Janeiro, falecido jovem, pelo que não deixou
descendência. Poucos anos terá durado o casamento, por falecimento da esposa,
crendo-se que o matrimónio tenha contribuído para mais facilmente se movimentar
entre a elite burguesa do Rio de Janeiro.
Expandiu depois a sua actividade
comercial para Lisboa, Angola e Inglaterra, dedicando-se ao tráfico de escravos
pelo menos entre 1816 e 1828.
A partir de 1830 ficou proibido o tráfico de escravos a
cidadãos brasileiros (que ficou sendo com a independência deste país), o que
lhe causou problemas com a justiça. Regressou em 1832 a Portugal, fixando-se
em Lisboa, em plena guerra civil (não se envolvendo nesta), e acabando por
mudar-se para o Porto após o fim da guerra. Embora aspirasse regressar ao
Brasil, quando as circunstâncias políticas desse país lhe fossem mais
favoráveis, realizou em Portugal vários investimentos, entre os quais sobressai
a Companhia das Lezírias, o Branco Comercial do Porto e o comércio de vinho.
Em 1842 iniciou vida política, no
que investiu significativas somas em dinheiro, apoiando o governo de Costa
Cabral. Nesse ano readquiriu polemicamente a cidadania portuguesa, tornou-se
Par do Reino e foi agraciado com o título de 1.º Barão de Ferreira, ou seja, do
seu apelido. Continuando a financiar as causas políticas subiu na hierarquia
titular, ascendendo a 1.º Visconde de Ferreira (1843) e 1.º Conde de Ferreira
(1850), sendo ainda fidalgo-cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de
Cristo e possuindo a grã-cruz de Isabel a Católica de Espanha.
Os últimos anos de vida foram passados
no Porto, retirado da actividade política. Faleceu deixando uma herança
fabulosa, à época estimada em 600 contos, boa parte da qual destinou no seu
testamento à benemerência. Entre outros legados que realizou avulta a fundação
no Hospital de Alienados Conde de Ferreira (Porto), as somas destinadas à Santa
Casa da Misericórdia do Porto, à Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro,
a vários hospitais e asilos, familiares, afilhados e amigos. Enfim o capital
que destinou à construção de 120 escolas primárias, masculinas e femininas,
noutras tantas sedes de concelho. Para cada escola, construída de acordo com
uma planta uniforme datada de 1866 (encontra-se actualmente no Arquivo Histórico do Ministério da Habitação
e Obras Públicas), foram destinados 1200$00, incluindo mobília e alojamento
para os professores.
A ESCOLA DE ESTARREJA
A sede do concelho de Estarreja foi
uma das contempladas, com uma escola da herança do Conde de Ferreira,
cabendo-lhe então a planta da escola e 1200$00 para a construir. Em 1867 a Câmara Municipal de
Estarreja comprou ao Dr. Filipe José Pereira Brandão, da Quinta da Costeira,
uma parcela com 600 m²,
pelo valor de 160$00. A escola construiu-se, ficando na porta principal a data
de 1866, do falecimento do Conde de Ferreira, e no portão 1868, que deve ser da
inauguração.
Em Estarreja a Escola Conde de
Ferreira foi durante décadas a única do ensino primário na Vila. Refira-se que
a taxa de analfabetismo em Estarreja, em finais do século XIX, andava na casa
dos 80%, sendo na ordem dos 70% para os homens, e dos 90% para as mulheres.
Numa notícia do Jornal de Estarreja de 1960 lê-se que a
escola, originalmente com duas salas de aula, fora ampliada com uma terceira
havia anos. A terceira sala de aula terá sido pois acrescentada no início dos
anos 50, ou mesmo nos anos 40, de acordo com algumas testemunhas crianças à
época.
Segundo informa o Jornal de Estarreja de 4 de Outubro de 2002, a escola Conde de
Ferreira, que saiu da escola do Paço, passaria então a acolher o Centro de Validação e Reconhecimento de
Competências. Deve ter sido pois o ano lectivo de 2001/2002 o último em que
funcionou como escola do ensino primário. Reabriu portas em 21 de Setembro de
2013, agora como Casa das Artes e sede do Rotary Club de Estarreja, que recebeu
o edifício da Câmara Municipal de Estarreja e procedeu a obras de recuperação.
In O Jornal de Estarreja, n.º 4778, 8.4.2016, pp. 8-9
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