quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Terra Marinhoa na Idade Média - Animais


Cavalos. – A criação de éguas em Antuã é tão antiga que consta do testamento da Rainha Santa Mafalda (1256). Além disso havia na Gelfa éguas e poldras em 1354. Na Memória Paroquial de 1732, do Bunheiro, diz-se serem ali criadas éguas e bois, o que significará uma maior importância das duas espécies em relação a outras.

Vaca Marinhoa. - A vaca da raça marinhoa, tal como a arouquesa, é originária da mirandesa. A introdução de bovinos ter-se-á iniciado com o gado que descia as serranias vizinhas, desde a Idade Média, para pastar nas terras baixas. Fala-se em 1304 de abusos dos homens de Figueiredo sobre os de Antuã, trazendo aqueles gados a pastar indevidamente nas terras de Antuã[1]. No Foral de Antuã (1519) encontram-se «gados que uierem pastar alguns lugares» e no de Ovar (1514) há gado bovino da Gelfa, sendo a este que principalmente se deve referir a expressão imprecisa antes utilizada de «gados». Continuando no séc. XVI, havia «gado, que vinha pastar da serra de Arouca, de Albergaria, do Monte do Muro»[2], e também gado indevidamente nas ilhas do Bunheiro[3]. No caso do Bunheiro a Memória Paroquial de 1732 diz criarem-se éguas e bois. A criação de gado na região, em campos fechados que permitiam a deambulação dos animais[4], fazia-se preferencialmente em espaços como as ilhas da ria ou a Gelfa.

Porcos. – Porcos ou partes destes eram frequente objecto de tributo. Assim sucede nas inquirições de Antuã em 1220, na Murtosa (1294), Pardilhó (1346-1357) e Bunheiro (1420).

Ovelhas e Cabras. – Hoje raros, os caprinos aparecem em Veiros (1210/1250), nas inquirições de 1220 em Antuã, na Murtosa (1286 e 1294) e em Pardilhó (1346-1357). Igualmente incomuns na actualidade, vão encontrar-se ovelhas no Bunheiro (1420), e de forma generalizada na Marinha (1645)[5].

Galináceos. – Os galináceos constam nas inquirições de 1220 em Antuã. Pagava-se como tributo galinhas em Pardilhó (1346-1357) e no Bunheiro (1420), e frequentemente capões, como se vê em Veiros (1210/1250), Murtosa (1286 e 1294), Bunheiro (1420) e Pardilhó (1346-1357).

Derivados. – As inquirições de 1220 em Antuã revelam, além do evidente aproveitamento de ovos, tributos em manteiga e queijo, e este último encontra-se no Bunheiro em 1420.

Além disso pagava-se foros em mel em Pardilhó (1346-1357) e porventura noutras terras, assim como se encontra colmeias no Couto de Antuã em 1674[6].

Animais selvagens. – Entre os abusos de que os homens de Antuã se queixam de serem feitos pelos de Figueiredo, em 1304[7], estão mencionadas matas para criação de porcos monteses, portanto destinadas à caça. No Foral de Angeja (1514)[8] indicam-se como animais selvagens porcos, coelhos, perdizes e veados, todos pois objecto de caça. Na Gelfa, logo em 1283, havia coelhos. E as águias seriam mais comuns, pois havia o topónimo Ninho de Águia em Veiros (1274) e ainda hoje existe na Marinha de Ovar o de Aguieira.


[1] ANTT, Arouca, g. 1, m. 1, doc. 25. Publicado por Dina C. F. S. ALMEIDA, “O Mosteiro cistercience de Arouca…”, 2003, apêndice documental, pp. 74-75, doc. 46.
[2] Aires de AMORIM, “Para a história de Ovar – O Cabido da Sé do Porto defende os limites…”, Aveiro e o Seu Distrito, VI, 1968.
[3] AUC, III-1.ºD-14-1-16.
[4] “Dicionário da História de Portugal”, s. v. Pecuária.
[5] Nas Posturas da Câmara de Estarreja de 1645 proíbe-se que se levem ovelhas à marinha, de Janeiro até Outubro; cf. Eduardo COSTA, “Estarreja no Passado VIII – Antigas posturas da Câmara de Estarreja”, O Jornal de Estarreja, n.º 3317, 25.9.1970, p. 1, e na revista “Aveiro e o Seu Distrito”, VIII, 1969.
[6] SIMÕES JÚNIOR, Arquivo do Distrito de Aveiro, XX, 1954, pp. 114-115.
[7] ANTT, Arouca, g. 1, m. 1, doc. 25; publicado por Dina C. F. S. ALMEIDA, “O Mosteiro cistercience de Arouca…”, 2003, apêndice documental, pp. 74-75, doc. 46.
[8] Luís Fernando de Carvalho DIAS, “Forais Manuelinos…”, p. 191.



In "A Terra Marinhoa na Idade Média", Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp. 26-27

Sem comentários:

Enviar um comentário