sexta-feira, 23 de março de 2012

A Terra Marinhoa na Idade Média - Economia / Agricultura

Cereais. – O cereal mais cultivado na região marinhoa durante a Idade Média era o trigo (mencionado em 1210/1250, 1286, 1294, 1346-1357 e 1420), e com menor importância outros cereais como o milho miúdo (cit. 1346-1357 e 1420). No séc. XVI as actuais freguesias de Avanca e Beduído produziam trigo, milho e cevada, mas em Pardilhó, Bunheiro, Murtosa e Veiros só havia milho[1].


É discutida a origem e data do aparecimento do milho grosso em Portugal. Cunha Coutinho propõe o período de 1515-1525 para a sua entrada, e 1533 para a generalização[2]. Na Idade Média cultivava-se o milho miúdo ou painço, sendo o milho grosso ou milhão trazido das Américas no período das descobertas. O milho grosso tem uma produtividade muito superior à de outros cereais, assim favorável ao crescimento demográfico, que se verificou intenso entre o Numeramento de 1527 e a contagem apresentada no “Catálogo dos Bispos do Porto”, de 1623. Introduzido o milho grosso na região marinhoa, a ela se adaptou perfeitamente, a ponto de ter-se tornado a cultura dominante até aos dias de hoje[3]. A novidade agrícola transformaria totalmente a paisagem e vida local, podendo dizer-se que é aqui o factor introdutor da Idade Moderna, talvez melhor chamada de Idade Média Tardia.


Moagem. – Para moer os cereais era necessário que existissem moinhos, ou na terra ou fora dela. Embora estes sempre fossem pouco numerosos, e mais comuns nas freguesias vizinhas de relevo irregular, vai-se encontrar moinhos em Veiros desde o século XVI: o «Casal que foy de Pedro Annes, de Veyros e o moinho de Rego(?)» (1528)[4], um moinho em Veiros (1545)[5], e «hua lagoa e servia de agoa pera moinhos» em Veiros (1628)[6].


Vinho. – Do vinho há informações locais nas Inquirições de 1220 na terra de Antuã[7], assim como de pedir-se aos foreiros que plantem vinhas em Veiros em 1274, e de rendas de vinho em Pardelhas em 1451.


Fruta. – No séc. XVI observam-se melancias, e a Memória Paroquial do Bunheiro de 1732 tem laranjas, maçãs, peras e similares.


Linho. – O cultivo de linho vem comprovado nas inquirições de 1220 na terra de Antuã, e no Bunheiro em 1420.



[1] ADP, Cabido, vol. 788, fls. 158v-166 (Tombo dos Votos da Feira, do séc. XVI, em cópia de 1781). Apenas num caso, nas Teixugueiras, aparece conjuntamente com o trigo. Por outro lado, segundo Miguel de OLIVEIRA, “Ovar na Idade Média”, p. 194, o centeio era igualmente cultivado na Murtosa em 1564.
[2] Cândido Augusto Dias dos SANTOS, “O Censual da Mitra…”, p. 151; informação complementar no “Dicionário de História de Portugal”, s. v. Milho.
[3] Nas Memórias Paroquiais de 1758 da Murtosa, Pardilhó e Veiros só se menciona o milho grosso. No caso do Bunheiro escreve-se apenas milho, e na sua Memória de 1732 vem o milho grosso, centeio, cevada e algum trigo, embora se deva considerar estes últimos como pouco cultivados.
[4] AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 264v.
[5] AUC, III-1.ºD-13-4-11, fl. 269v.
[6] AUC, III-1.ºD-13-4-11, fls. 279-279v.
[7] “Arquivo do Distrito de Aveiro”, II, p. 286.


In "A Terra Marinhoa na Idade Média", Junta de Freguesia de Veiros, 2010, pp. 25-26

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